Jornal Estado de Minas

CARREIRA

Mineiro Matheus Dias, de 22 anos, é o escritor Bento em 'Além da ilusão'

Bento (Matheus Dias) é apaixonado pela professora Letícia (Larissa Nunes) (foto: Fábio Rocha/divulgação)

Mineiro de São João del-Rei, o ator Matheus Dias, de 22 anos, faz sua primeira novela das seis. Em “Além da ilusão” (Globo), ele interpreta o jovem Bento, que sonha em ser um grande escritor e vai lutar na Segunda Guerra Mundial depois de se alistar na Força Expedicionária Brasileira (FEB). Personagem da segunda fase da trama ambientada na década de 1940, Bento estreia no 11º capítulo, previsto para a próxima sexta-feira (18/2).





A guerra transformará Bento, adianta Matheus, contando que, por causa disso, teve a impressão de interpretar duas pessoas diferentes. O jovem é apaixonado pela professora Letícia (Larissa Nunes), de quem fica noivo. Lorenzo (Guilherme Prates), seu amigo de infância, também gosta da moça. Determinado a protegê-lo, Bento vai para o front, na Europa.

Matheus e Luciano Quirino: cumplicidade no set e na vida (foto: João Miguel Júnior/divulgação)

VILA OPERÁRIA

Os três jovens passaram a infância no local onde a Tecelagem Tropical ergueu uma vila operária, em Campos dos Goytacazes (RJ). Filho de Abílio (Luciano Quirino), Bento foi criado apenas pelo pai.

A forte cumplicidade dos dois, aliás, vai além das cenas. Matheus diz que foi praticamente “adotado” por Luciano Quirino. “Não tive contato muito grande com meu pai. Quando conheci o Luciano, foi muito engraçado, porque a gente se conectou logo de cara. Desde sempre ele me apoia, estuda comigo, passa texto. Sempre recebo sua mensagem dele de manhã cedo, perguntando se estou bem”, revela.





“Hoje mesmo, Luciano me mandou o link de uma reportagem, falando de mim. Isso é muito bonito, estou vivendo a relação de pai e filho com esse cara dentro e fora da tela”, conta Matheus, durante entrevista na quarta-feira (9/2).

Abílio torce pela felicidade de seu menino. Sem notícias do front, vive a agonia de perdê-lo para a guerra.

Assim como Bento, que batalha para ser escritor, Matheus sempre lutou para se tornar ator. Garoto de família simples, mudou-se com a mãe, a manicure Giselane, de São João del-Rei para o Rio de Janeiro e se apaixonou pelo teatro na escola pública onde estudava, em Realengo.

Às gargalhadas, confessa: a “estratégia” para virar ator foi criar uma conta de e-mail passando-se por sua mãe. Enviava vídeos a agências de talentos, interpretando textos que ele próprio escrevia. Demorou, mas aconteceu. Entre o primeiro contato de um agente e o teste para “Malhação”, foram muitas idas e vindas.





A mãe chegou a aconselhá-lo a seguir outra profissão, por não ter condições de ajudá-lo. “Quando ela viu que consegui o primeiro trabalho, me apoiou em tudo, pois era possível e real. Hoje, está muito orgulhosa, posta as coisas, manda mensagens para todo mundo”, diz.

Matheus destaca também a força que recebe do padrasto, o fuzileiro naval Bruno, e dos irmãos Bruno, Carlos e Alice. “Estão superfelizes, ansiosos para me ver no ar. Eu também estou ansioso”, admite.

Não é a estreia dele na Globo. Em “Malhação – Pro dia nascer feliz”, fez o papel do jogador de vôlei Júnior. Na série “Cidade dos homens”, interpretou o bandido Sinistro.





Matheus Dias afirma que têm aumentado as chances para atores negros como ele, apesar do racismo. “É legal ver como isso vem mudando. A Globo tem se esforçado em colocar a gente em papéis importantes. (Em “Além da ilusão”) Tem essa coisa de mostrar o amor entre as pessoas, mostrar que elas estão em outros lugares além do porteiro, do motorista”, observa. Não é problema o negro interpretar porteiros ou motoristas, o problema é destinar a eles apenas esse espaço, esclarece.
 

RACISMO ESTRUTURAL

Recentemente, a Globo foi acusada de romantizar a escravidão e de racismo estrutural em “Nos tempos do imperador”, antecessora de “Adeus à ilusão”. Matheus acredita que a emissora se empenha em mudar isso. E adianta que o núcleo da nova trama do qual ele e Larissa Nunes fazem parte vai ganhar destaque.

“A gente tem uma história, vamos conduzir uma história que vai ser resolvida até o final. É muito gratificante estar ali”, afirma, referindo-se à trajetória do escritor Bento e ao triângulo amoroso formado por ele, Letícia e Lorenzo.

Entre as referências que buscou, Matheus cita os atores Denzel Washington (indicado ao Oscar 2022 por “A tragédia de Macbeth), Lázaro Ramos (como Zé Navalha, da novela “Lado a lado”) e Stephan James (o Alonzo do filme “Se a Rua Beale falasse), além de Machado de Assis e o boxeador americano Muhammad Ali.

* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria