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Bela e livre síntese cultural de povos


postado em 04/12/2018 05:03

Cidade é abraçada pelas águas do Rio Tejo (foto: Wikimedia/Reprodução da internet)
Cidade é abraçada pelas águas do Rio Tejo (foto: Wikimedia/Reprodução da internet)


Sob o imponente portal de Bisagra, Miguel de Cervantes (1547 – 1616) se anuncia a Toledo, principal cidade de Castela e La Macha, à Espanha e ao mundo: “¡Oh, peñascosa pesadumbre, gloria de España y luz de sus ciudades”, saúda a inscrição na cerâmica. Cervantes tomou o verso do poeta e dramaturgo toledano José de Valdivielso, imortalizando o epíteto. A cidade fascinava o autor de Dom Quixote: foi forjada da síntese cultural de cristãos, muçulmanos e judeus, mas também ancorada sob milênios de civilizações que ali chegaram antes. Talvez, Cervantes, que lança o elogio a Toledo em sua última obra, Los trabajos de Persiles y Sigismunda, tenha desejado salientar o peso da história – em seus picos de esplendor e trágicas inflexões –, simbolicamente retratado na Velha Cidade de Toledo, que desafia a gravidade e se equilibra sobre um desfiladeiro esculpido às margens do Rio Tejo.

Abraçada pela curva sinuosa das águas desse que é o mais extenso rio da Península Ibérica, a cidade de Toledo – para os romanos que, em 190 a.C. conquistaram o assentamento, “Toletum” – foi, no século 6, capital do reino visigótico. Os primeiros reis desse povo germânico, que ascendeu com o esfacelamento do Império Romano do Ocidente, eram cristãos arianos. Convertidos ao cristianismo niceno, grande foi a influência exercida pela Igreja Católica em assuntos seculares, por meio dos Concílios de Toledo (397-702). Eram reuniões magnas do Estado visigótico na Península Ibérica, convocadas pelos reis, das quais participavam, além dos prelados, também a nobreza.

Visigodos legaram a Toledo várias igrejas, sobre muitas das quais foram erguidas mesquitas árabes e, mais tarde, catedrais da cristandade. Nesse movimento pendular das dominações, sob a linha do horizonte paira a torre gótica, abrigo ao campanário e o seu sino monumental La Gorda. A Grande Catedral de Toledo reflete, em seu esplendor, uma trajetória que se impõe como centro espiritual da Igreja espanhola e morada do primaz. Foi iniciada em 1226 – tomando por referência a francesa Catedral de Bourges –, e sobre a fé de povos que chegaram antes sepultou a igreja visigoda do século 7. A missa em rito moçárabe, inclusive, ainda é celebrada com a permissão papal. Em sua sobreposição de estilos, só foi concluída com as três emblemáticas portas de sua fachada – a do Inferno, a do Perdão e a do Julgamento – no século 15.

Ponto alto da arte gótica, o interior dessa catedral – de 60 metros de fachada por 120m de profundidade, que se estende por cinco naves, suportadas por 88 colunas e 72 abóbadas –, guarda toda sorte de tesouros: o retábulo do altar-mor é um dos mais belos da Espanha; o coro exibe, em suas fileiras inferiores, entalhes da conquista cristã de Granada; “Transparente” é a denominação da claraboia que salta do interior, iluminando a obra barroca de Narciso Tomé; o repositório guarda o chamado “El Tesoro”, ostensório de prata gótico do século 16 que, em seus três metros de altura, é o protagonista, pelas ruelas e labirintos medievais de Toledo, da procissão de Corpus Christi. Na sacristia, Ticiano, Vanv Dyck e Goya se fazem presentes, mas, sobre o altar de mármore, é o Desnudamento de Cristo, em seu traje vermelho de sofrimento, pintura de El Greco, que sintetiza o esplendor monumental de toda a obra. Nascido em Creta, em 1541, o grande pintor mudou-se para Toledo em 1577, em princípio, encarregado da peça de altar do convento de Santo Domingo el Antiguo. Assim como se deixou abandonar em Toledo, onde morreu, em 1614, o Grego marcou com a sua arte várias igrejas.

Encerrada pelas antigas muralhas, Toledo, das três culturas, exibe a Alcázar – um dia fortaleza romana, visigoda e moura – de Carlos V, imperador romano germânico – ou Carlos I, da Espanha (1516-1556). Até o século passado – mais precisamente em 1936, durante a Guerra Civil espanhola – esse palácio fortificado ainda ajudou a escrever a história. Cristãos, muçulmanos e judeus estão nos pilares de fundação dessa que se constitui Toledo. Seja na Plaza de Zocodover, seja na Iglesia de São Tomé, com a sua bela torre mudéjar, que guarda El Greco, em pinceladas inesquecíveis no Enterro do conde de Orgaz. Toledo, entre as mais belas cidades da Espanha, preserva, antes de tudo, uma ideia, assim expressa por dom Quixote: “A liberdade, Sancho, não é um pedaço de pão”.


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