Jornal Estado de Minas

No caminho da beleza


De Santo Ângelo a São Borja, à beira do Rio Uruguai, na fronteira do Brasil com a Argentina, há atrativos, comidas, passeios, paisagens, curiosidades e, claro, lugares históricos com quase 400 anos que remetem às missões ou reduções jesuíticas. Tendo como guia Antônio Camargo, da Agência Receptiva Missões Turismo – São Miguel das Missões (www.missoesturismo.com.br), o repórter caiu na estrada (de carro) de uma ponta a outra, no total de 338 quilômetros. Mas tem gente que vai a pé, curtindo 14 dias de viagem. A agência oferece o pacote Réveillon nas Missões Jesuíticas dos Guarani, com recepção no aeroporto de Santo Ângelo (29/12) e retorno em 5 de janeiro.

No caminho das Missões, que os gaúchos têm orgulho de dizer “aqui nasceu o Rio Grande do Sul”, o viajante vai conhecer, depois de São Miguel (1687) e Santo Ângelo (1706), São João Batista (1697), São Lourenço (1690), São Luiz Gonzaga (1687), São Nicolau (1687) e a primeira em solo brasileiro, São Borja (1682). Em São Borja, que na verdade se refere a São Francisco de Borja, terra de Getúlio Vargas (1882-1954), vale a pena conhecer a casa onde viveu o ex-presidente da República e também o Memorial Casa João Goulart, que homenageia o também ex-mandatário, conhecido como Jango (1918-1976).

Em São Nicolau, vale muito saborear o café de cambona, preparado de um jeito diferente por Ana Paula Alvarenga, na Pousada dos Jesuítas. A bebida vem acompanhada de pão caseiro e geleias, queijos e outras delícias gaúchas. A culinária com o tempero dos imigrantes alemães, italianos e poloneses deve ser apreciada com calma, de preferência ouvindo histórias, causos, debaixo das frondosas figueiras que brotam no meio das ruínas e fazem parte dessa trajetória épica do povo gaúcho.

SABORES Ao longo do Caminho das Missões Jesuíticas em território brasileiro, de Santo Ângelo a São Borja, o visitante encontra pratos salgados e doces que vão muito além do tradicional churrasco gaúcho. As tortas doces de Santo Ângelo são famosas pela forma e recheios variados, e é bom fazer descobertas na hora de escolher a carne para um almoço de domingo, por exemplo.

Alguns restaurantes servem cubos de abóbora e moranga caramelizada, que é bom demais da conta, tchê!

Para saborear tudo isso, é fundamental ler um pouco sobre as antigas reduções fundadas pelos jesuítas no Oeste do Rio Grande do Sul e nos países vizinhos (Argentina e Paraguai). Em resumo, as missões foram os aldeamentos indígenas organizados e administrados pelos padres jesuítas no Novo Mundo, como parte de sua obra de cunho civilizador e evangelizador. O objetivo principal era criar uma comunidade, segundo especialistas, com os benefícios e qualidades da sociedade cristã europeia, “mas isenta dos seus vícios e maldades”. Em pleno século 21, tais ideias são consideradas polêmicas e muitos historiadores criticam tal filosofia de vida e trabalho.

Para conseguir seu intento, os jesuítas desenvolveram técnicas de contato e atração dos índios, e logo aprenderam a se comunicar na língua dos nativos. As missões dispunham de uma completa infraestrutura administrativa, econômica e cultural, funcionando em regime comunitário, e os indígenas eram educados na fé cristã, com aulas de música, escultura e outras artes.

Depois de um início marcado por tentativas frustradas, o modelo missioneiro se consolidou no século 17 e entrou em colapso em meados do 18. Tudo terminou com a Guerra Guaranítica (1753-1756), que opôs o povo guarani das missões jesuíticas e as tropas espanholas e portuguesas, como consequência do Tratado de Madri (1750), o qual definiu uma linha de demarcação entre o território colonial espanhol e português na América do Sul. Pelo acordo, Os Sete Povos das Missões foram trocados pela colônia de Sacramento, o que levou os missioneiros a reagir – como consequência do conflito, os jesuítas foram expulsos e os índios abandonaram os povoados..