Seres humanos são parte de um todo,
São criação de uma só essência e alma.
Se um está em aflição e em dor,
Os outros em desconforto ficarão.
Aquele que não nutre empatia pela dor humana,
A condição humana, não pode ter.
Tradução livre de Sa’adi (1210-1291),
em Gulistan, grafado no salão de entrada das
Nações Unidas, em Nova York
A arqueologia ainda não precisa quando iniciada na história da humanidade a manufatura de tapetes. Em 1949, escavações nas Montanhas Altai da Sibéria, no Vale Pazyryk, encontraram aquele que é considerado o tapete mais antigo do mundo, possivelmente do século 5 a.C., segundo indicaram os testes carbono 14.
“Kerman, Kashan, Esfahan, Nain, Qom Tabriz e Mashhad são os principais centros de manufatura, sendo o Irã aquele que mais se destaca pela qualidade e elaboração no chamado cinturão de países produtores de tapetes do Oriente”, afirma Seyed Iman Hosseini, estudioso da arte e proprietário da Iran Carpet Land, companhia sediada em Esfahan. “O tempo para a manufatura varia de 3 meses a 6 anos, dependendo muito do tamanho do tapete e do número de nós. Quanto maior o número de nós por centímetro quadrado e quanto mais antigo o tapete, mais caro será”, afirma ele, que tem grande preocupação em acompanhar a manufatura. “Checamos pessoalmente, pois nossos tapetes mantêm alto padrão de qualidade”, afirma.
Iranianos amam a literatura e recitam os seus clássicos. “Água profunda dificilmente se perturba com a pedra que lhe arremessam; e quando a sabedoria se irrita é porque não é profunda”, replica a mãe para a filha, na cidade de Shiraz, à entrada do mausoléu de Sa’adi (1210-1292), poeta imortalizado por sua poesia mística e ensinamentos práticos, em obras cultuadas como o Gulistan (O jardim das rosas) e o Bustan (O jardim florido). Em meio aos exuberantes jardins que são sonetos à natureza, descansa ele num mausoléu inspirado no palácio Chehel Sotoun, construído em Esfahan no reinado do Xá Abbas II (1642 – 666), Dinastia Safávida.
Também em Shiraz, chamada a cidade dos poetas, está o mausoléu de outro ícone da literatura iraniana: Hafezieh é o nome dado ao complexo, que, em meio ao Jardim Mussala, guarda o túmulo de Hafez e uma biblioteca com 10 mil volumes. “Faça um pedido enquanto visita a tumba. Hafez responderá”, me aborda uma iraniana, que em seguida, me entrega a obra Coleção de Poemas (Divan of Hafez). “Abra aleatoriamente e saberá a resposta”, avisa ela.
Em praças, a música se mistura à poesia dos jardins e ao barulho das águas nos canais. Em Nain, província de Esfaham, região central do Irã, um músico tira um solo de seu qanon, instrumento de corda. Alguns se juntam em torno dele. O qanon está entre os 300 instrumentos tradicionais iranianos expostos do Esfaham Music Museum. Ali, as visitas se encerram com a performance dos músicos, eles próprios encarregados de acompanhar os visitantes para explicar a origem e o uso de cada peça ao longo da história.
Mesmo nos agitados bazares, seja em Teerã, Kashan, Esfahan ou Shiraz, músicos se misturam em meio à multidão que negocia e compra de tudo um pouco – especiarias, frutas secas, tapetes, as famosas termehs produzidas em Yazd – toalhas de centro, bordadas com padrões persas – ,hijabs (lenços para mulheres cobrirem os cabelos) , chadors (capa que cobre o cabelo e o corpo, usada sobre a roupa). “Ah, brasileira? Não precisa pagar”, diz um vendedor, quando indico que preciso comprar uma sacola. O tema do futebol, inevitável, logo vem à tona.
Se o amor ao futebol brasileiro – com raras exceções de um ou outro vizinho – é uma constante planeta afora, no Irã, há uma particularidade adicional. Fundado em 1972, o Sanat Naft Football Club, da cidade de Abadan, região petrolífera do Irã, não apenas se autodenomina, como também é chamado por sua torcida de “o Brasil no Irã”. Um ano depois de criado, embalado pelo sucesso de Pelé e companhia, trocou as cores originais do uniforme – preto, azul e branco – pela camisa amarela, calção azul e meiões brancos. Com o esse uniforme oficial, enfatizava a relação com o Brasil. As bandeiras da torcida apaixonada de Sanat Naft, desnecessário dizer como são. O uniforme “reserva”... adivinhe?
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