“Quando você for para o céu, deixe seus órgãos da Terra. Afinal, anjos só precisam de asas.” Essa é a frase de um homem que lutou pela vida e ganhou um novo coração. O nome dele é Roberto de Jesus Santana, de 58 anos, ex-atleta, formado em engenharia. Praticava de natação a handebol e doava sangue a cada dois meses até ser surpreendido, em meados de 2003, por um diagnóstico de cardiopatia. A doença se agravou e foi necessário um transplante.
“Quanto tempo vai demorar? Será que o órgão vai ser compatível? Será que eu aguento?” Foram três meses de angústia e sem respostas até a cirurgia ser realizada com sucesso em 9 de janeiro de 2004. Hoje, usando 12 medicamentos para evitar a rejeição do órgão – já foram necessários 32 – acompanhado de algumas restrições relacionadas à atividade física e aos hábitos alimentares, Roberto vive feliz com a família e se considera uma pessoa de sorte. Afinal, são 55 mil pessoas na fila por um órgão em todo o país.
“O Brasil ainda é muito carente de campanhas que falem sobre a doação de órgãos e tecidos.
Apesar de serem realizados, em média, 23,5 mil transplantes por ano, a ABTO acaba de divulgar balanço no qual constata que, pela primeira vez em oito anos, houve uma queda de quase 20% da taxa de doadores em relação ao ano passado.“A Lei 10.211, de 23 de março de 2001, dispõe que a retirada de órgãos e tecidos de pessoas falecidas para a realização de transplante depende da autorização da família. A recusa pode estar ligada à falta de informação, religião ou a outros dogmas”, explica o especialista. Os mitos também impedem a autorização para a doação. Diferentemente do que muitos pensam, o corpo do doador depois da retirada dos órgãos não sofre deformações.
Na prática, a retirada é simples, mas deve seguir critérios rígidos. “A partir da confirmação da morte cerebral, o potencial doador precisa ser mantido adequadamente até que os órgãos sejam retirados. O primeiro é sempre o coração e, a partir daí, pulmões, fígado, pâncreas e rins. Por último, os tecidos”, diz Lima.
Um dos pontos cruciais é que todo cidadão brasileiro que tem o desejo de doar órgãos e tecidos expresse sua vontade para sua família, para que a autorização seja concretizada no momento oportuno. Por meio do Facebook, o usuário tem a opção de declarar em seu perfil ser doador. É mais uma forma de mostrar sua vontade aos amigos e familiares, mas o especialista afirma que “mesmo com a declaração na rede social, a família precisa concordar. A declaração serve para que os familiares saibam da vontade do potencial doador se o tema nunca tiver sido abordado em vida”, explica.
DOAÇÃO EM VIDA Estando vivo, também é possível doar órgãos. Nesse caso, os doadores são aqueles que doam um órgão duplo como o rim e o pulmão, uma parte do fígado, pâncreas, ou um tecido, como a medula óssea, para ser transplantado em um familiar ou amigo.
Mas nem sempre, na prática, a boa intenção de ajudar o outro é imediata. “A gente marcou o transplante e no dia a cirurgia, ela não pode ser feita. Buscamos a Justiça e 60 dias depois foi realizada”, conta Renato de Lima Costa, de 58 anos, que doou um rim em 2009. Ele enfrentou problemas devido ao grau de parentesco com o receptor. A paciente, que havia passado por dois transplantes com rejeição e uma série de hemodiálises, recebeu o órgão de Renato com sucesso. “A gente faz com amor pela vida do outro”, diz o aposentado, orgulhoso do seu ato.
Minas Gerais O MG Transplantes, responsável por coordenar a política de transplantes de órgãos e tecidos no estado, diz que, em média, são realizados 2,3 mil transplantes por ano. Segundo o diretor do MG Transplantes, Omar Lopes Cançado Júnior, não houve queda do número de doadores, “mas os números podem melhorar para contribuir com a diminuição da fila de espera”. A lista mineira tem cerca de 2,8 mil pessoas aguardando por um órgão.