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Estado de Minas

Buracos da camada de ozônio têm melhora

Estudo da Universidade de Leeds mostra que a decisão de abolir o uso de gases que atingem a proteção da Terra, tomada em 1987, evitou a destruição da faixa atmosférica


postado em 27/05/2015 00:12 / atualizado em 28/05/2015 13:24

Brasília – Em maio de 1985, os cientistas Joe Farman, Brian Gardiner e Jonathan Shanklin mostraram ao mundo que o homem era capaz de afetar o equilíbrio do planeta de forma a colocar em risco a própria existência. Em um artigo publicado na revista Nature, os três comprovaram que a camada de ozônio da atmosfera, responsável por filtrar os nocivos raios ultravioleta, apresentava, na primavera, um buraco na região sobre a Antártida, no Polo Sul. A causa? Emissões em larga escala de compostos de cloro, flúor e carbono, os chamados gases CFCs, usados em equipamentos de refrigeração e solventes industriais.

A descoberta deu início a um amplo debate que levou à assinatura, em 1987, do Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio, um acordo internacional no qual os países se comprometiam a reduzir a emissão dos CFCs. Nos anos seguintes, o documento, ao qual o Brasil aderiu em 1990, passou por diversas emendas, fortalecendo as medidas de preservação atmosférica. Trinta anos depois do alerta dado por Farman, Gardiner e Shanklin, o esforço deu certo, anunciam especialistas da Universidade de Leeds, na Inglaterra.

Um estudo liderado por Martyn Chipperfield, da Escola da Terra e do Meio Ambiente da instituição britânica, afirma que a camada de ozônio está em muito melhor forma do que estaria sem a assinatura do acordo mediado pelas Nações Unidas. “Nossa pesquisa confirma a importância do Protocolo de Montreal e mostra que já tivemos benefícios. Sabíamos que ele nos salvaria de um grande perda de ozônio ‘no futuro’, mas, na verdade, já ultrapassamos um ponto em que podemos dizer: estaríamos hoje em uma situação muito pior (se não houvesse o acordo)”, afirma Chipperfield em um comunicado à imprensa.

Embora o protocolo tenha entrado em vigor em 1987, a concentração de substâncias que degradam a camada de ozônio continuou a crescer nos anos seguintes, uma vez que as substâncias perduram na atmosfera por décadas. Assim, a presença de CFCs e outras substâncias nocivas atingiu o pico em 1993, quando entrou em declínio. Na nova pesquisa, publicada na revista Nature Communications, os cientistas usaram um modelo computacional da química atmosférica para estimar o que teria ocorrido à camada de ozônio se a política de preservação não tivesse sido implementada.

“A degradação do ozônio nas regiões polares depende da meteorologia, especialmente da ocorrência de temperaturas baixas a cerca de 20 quilômetros de altitude. Temperaturas mais baixas causam maior perda”, explica Chipperfield. “Outros estudos que investigaram a importância do Protocolo de Montreal usaram alguns modelos para prever ventos e temperaturas atmosféricas e olharam para algumas décadas no futuro. Mas as previsões desses modelos eram incertas e, provavelmente, subestimaram a extensão de invernos frios”, acrescenta Chipperfield.

Simulação precisa

Para corrigir esses problemas metodológicos, o autor usou as condições meteorológicas observadas nas últimas décadas. “Isso fornece uma simulação mais precisa das condições para a perda de ozônio nos polos”, garante Martyn Chipperfield. A conclusão foi que, sem o protocolo, por volta de 2013, o buraco sobre a Antártida teria aumentado 40%, e a camada de ozônio teria se tornado mais fina em outras partes do planeta.

O professor de Leeds conta que decidiu realizar esse novo estudo depois que um inverno excepcionalmente frio ocorreu no Ártico (Polo Norte) em 2010 e 2011. “Pudemos ver que os modelos anteriores usados para prever o impacto do Protocolo de Montreal no futuro não podiam imaginar eventos tão extremos. Nos perguntamos, então, o quão piores as coisas poderiam estar se o acordo não tivesse em vigor”, diz. Outra conclusão da pesquisa é que, a partir dos rigorosos invernos de quatro e cinco anos atrás, buracos menores sobre o Ártico se tornariam recorrentes.

Os autores do estudo lembram que, desde 1987, o Protocolo de Montreal foi fortalecido por meio de ajustes e emendas baseados em dados constantemente colhidos. Eles defendem, portanto, que o monitoramento da camada de ozônio, como o que eles realizaram, continue sendo feito para garantir que as ameaças sobre esse filtro da Terra sejam superadas.

 

Memória

Atmosfera corroída

O uso dos gases compostos de cloro, flúor e carbono foi iniciado nos anos 1930 na fabricação de refrigeradores. Nos anos seguintes, passou a ser usado cada vez mais pela indústria, inclusive para a fabricação de aerossol, já na época da Segunda Guerra Mundial. Nos anos 1970, os pesquisadores Paul Crutzen, Mario Molina e Sherwood Rowland decidiram investigar que tipo de reações químicas a emissão de toneladas desses gases estava causando na atmosfera. A iniciativa pioneira deu ao trio, em 1995, o Nobel de Química. A partir do questionamento dos três cientistas, o British Antartic Survey começou a monitorar a atmosfera sobre o Polo Sul. Comparando dados desde a década anterior, os cientistas chegaram à conclusão, em 1985, de que a camada de ozônio na região sofria uma diminuição considerável todo início de primavera, quando o Sol reaparece. O que se descobriu mais tarde é que, durante o inverno, nuvens se formavam sobre a Antártida e reações químicas nessas nuvens ativavam substâncias capazes de destruir o ozônio. Com o retorno do Sol, essas substâncias (presentes nos CFCs) reagiam e “corroiam” a camada atmosférica a uma taxa de 1% ao dia, aproximadamente. Em 1996, foi constatado que um pequeno buraco na camada de ozônio havia se formado sobre o Reino Unido. O Hemisfério Sul, porém, é o mais ameaçado. Já foi constatado também que houve uma pequena degradação na camada sobre os trópicos, e a destruição da camada em todo o planeta é avaliada na ordem de 4%.

 


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