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Estado de Minas

Modificações genéticas revelam gorilas como gigantes da sobrevivência

Sequenciamento de DNA mostra que gorilas das-montanhas têm passado por modificações genéticas fundamentais para a continuidade da subespécie, hoje reduzida a 800 indivíduos


postado em 22/04/2015 06:00 / atualizado em 22/04/2015 12:00

Gorilas-das-montanhas: apesar de viverem em grupos pequenos, os animais desenvolveram boas defesas imunológicas (foto: Gorilla Doctors (UC Davis)/Divulgação - 8/8/10 )
Gorilas-das-montanhas: apesar de viverem em grupos pequenos, os animais desenvolveram boas defesas imunológicas (foto: Gorilla Doctors (UC Davis)/Divulgação - 8/8/10 )
Eles sofrem pressão de todos os lados. Doenças, perda de hábitat, guerras civis e caça ilegal fazem dos gorilas-das-montanhas uma espécie em risco extremo de extinção. Hoje, existem apenas duas enxutas populações desses animais. Juntas, não ultrapassam 800 exemplares, distribuídos entre Ruanda, Uganda e República Democrática do Congo. Há, contudo, esperança para essa subespécie do gorila-oriental. O sequenciamento total do genoma do grande primata, descrito na revista Science, demonstrou que modificações genéticas em curso podem ajudá-los a sobreviver, mesmo em pequeno número.

Em 2012, cientistas fizeram o sequenciamento genético dos gorilas, o último gênero de grande primata a ter o DNA decifrado. O mapeamento mostrou uma semelhança enorme com os humanos – 15% do material genético do homem são mais próximo ao do gorila do que ao do chimpanzé. Agora, parte dos pesquisadores integrantes do consórcio que sequenciou o primata decidiu fazer a análise específica dos gorilas-das-montanhas, a subespécie mais ameaçada do grupo.

Liderados por Chris Tyler-Smith, geneticista do Instituto Wellcome Trust Sanger, na Inglaterra, os cientistas decifraram o genoma completo de 13 gorilas-orientais, incluindo sete habitantes da região montanhosa de Virunga e seis da subespécie Gorilla gorilla gorilla, que vive nos bosques africanos. “Isso nos permitiu conhecer de forma detalhada as semelhanças e disparidades entre os subgrupos, o que é muito importante para os esforços de conservação, porque são essas informações que nos dirão quais os pontos fortes e quais os pontos fracos de cada um deles”, explica Tyler-Smith.

O geneticista conta que, na década de 1960, os conservacionistas deram o alarme sobre o declínio vigoroso do número de espécimes dos gorilas-das-montanhas. A partir daí, importantes estratégias, incluindo a criação do Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo, conseguiram reverter a tendência de queda populacional. “Essa é uma medida importantíssima, mas ela não resolve um problema grave associado à diminuição do número de indivíduos de uma espécie: a pouca variação genética”, diz. Quanto menos espécimes, menores as chances de desenvolver resistência a doenças e de incrementar a resiliência face às pressões ambientais. Sem um estudo genético aprofundado, era difícil prever um futuro muito animador.

CRUZAMENTOS Ao comparar o sequenciamento desses animais ao da subespécie Gorilla gorilla gorilla, os cientistas constataram que, de fato, a pluralidade genética dos primeiros é mais baixa. Curiosamente, embora vivem em grandes altitudes, de 1.500m a 4.000m, eles não têm variantes funcionais específicas relacionadas a adaptações dietéticas, morfológicas nem fisiológicas para tanto. Por outro lado, há variações associadas ao sistema nervoso, à quantidade de imuglobina e ao formato das células vermelhas – as últimas substâncias têm implicações com o bom funcionamento imunológico.

Apesar da pouca variedade genética, os cientistas notaram que os gorilas-das-montanhas estão adaptados para viver em populações pequenas. “Tem sido assim há milhares de anos. Embora a ação humana tenha provocado uma diminuição expressiva dos espécimes, há muitas gerações eles já vinham sobrevivendo a níveis pequenos de indivíduos. Dessa forma, desenvolveram estratégias fisiológicas e comportamentais para mitigar os cruzamentos endogâmicos (acasalamento de indivíduos com parentesco), como dispersão após o nascimento e fluxo genético entre populações isoladas”, dizem os autores no artigo. “Nossas descobertas reforçam a necessidade imperativa de se sustentarem as ações conservacionistas que têm ajudado a manter os gorilas-das-montanhas e fornecem recursos genômicos para futuras ações e pesquisas”, afirma Chris Tyler-Smith.

Em nota, o principal autor do artigo, Yali Xue, do Instituto Sanger, disse que havia uma grande preocupação de que o declínio (da população) nos anos 1980 seria catastrófico para os gorilas-das-montanhas a longo prazo. “Mas nossa análise genética sugere que os gorilas estão lidando com tamanhos populacionais reduzidos há milhares de anos. Enquanto níveis comparáveis de endogamia tenham contribuído para a extinção de nossos parentes neandertais, os gorilas-das-montanhas podem ser mais resilientes.” Ele explicou que os dados obtidos com o sequenciamento total poderão identificar a origem de gorilas que tenham sido capturados ilegalmente ou mortos. Também ajudarão a reintroduzir animais recapturados à vida selvagem.


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