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Estado de Minas BIOMA PEDE SOCORRO

Estudo sobre espécies do cerrado constata urgência em recuperar ecossistemas

Do ponto de vista da diversidade biológica, o cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo


postado em 20/04/2015 06:00 / atualizado em 20/04/2015 09:28

Paisagem de cerrado rupestre na Chapada dos Veadeiros: recuperação complexa devido à diversidade(foto: Giselda Durigan/Divulgacao )
Paisagem de cerrado rupestre na Chapada dos Veadeiros: recuperação complexa devido à diversidade (foto: Giselda Durigan/Divulgacao )


De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando 22% do território nacional nos estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e o Distrito Federal, além dos encraves no Amapá, Roraima e Amazonas. Do ponto de vista da diversidade biológica, o cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo. No entanto, a grande diversidade de hábitats, que determinam inúmeras espécies de plantas e animais, correm risco de extinção. Foco de várias pesquisas, uma das mais recentes sobre o bioma indica a baixa germinação de sementes no cerrado. O estudo é coordenado pela engenheira florestal Flaviana Maluf de Souza, do Instituto Florestal (IF), da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. “Estudamos a germinação de 15 espécies para conhecer um pouco melhor o comportamento delas com relação a esse processo (germinação), que é essencial quando se pensa em recuperação dos ecossistemas.”

Como pouco se sabe sobre o assunto, Flaviana conta que não se consegue nem produzir mudas nem utilizar as sementes diretamente em plantios para restaurar a vegetação. “Se tivéssemos conhecimento de quanto as espécies germinam e de suas preferências das condições para germinar, seria possível orientar as ações de plantio, indicando, por exemplo, as espécies com maior potencial de utilização em ações de restauração, a quantidade de sementes que deve ser semeada em uma área ou as condições de viveiro em que se consegue obter maior eficiência na produção de mudas.” Nesse estudo, ela conta que o objetivo era saber como a luz influencia a germinação das sementes. “Por isso, testamos duas condições diferentes de luz (uma com exposição completa ao sol e outra com certo nível – 75% – de sombreamento). Um aspecto interessante foi que estudamos diferentes ‘formas de vida’, incluindo não apenas espécies de árvores, mas herbáceas e graminoides, que têm enorme valor na composição de várias fisionomias não florestais de cerrado.”

Flaviana e equipe observaram que das 15 espécies estudadas, duas não germinaram, seis (40%) tiveram germinação muito baixa (com níveis inferiores a 10%) e apenas duas alcançaram germinação superior a 50%. “Três espécies germinaram apenas na sombra, e quatro só a pleno sol. Isso já nos dá um indicativo de como seria para produzir as mudas dessas espécies ou mesmo como seria o sucesso de uma estratégia de semeadura no campo. Para recuperar as fisionomias abertas de cerrado, se semeássemos no campo as espécies que só germinaram à sombra, seria um fracasso total, pois existem formas de cerrado que são muito abertas (com árvores esparsas e predomínio de vegetação arbustiva e herbácea) e praticamente não existe sombra.”

Outra informação importante, destaca a engenheira florestal, é sobre o tempo de germinação de cada espécie. “Três começaram a germinar entre 10 e 30 dias, enquanto duas demoraram oito meses. Esse conhecimento é extremamente útil para o planejamento de uma ação de restauração.” Flaviana explica que, de modo geral, o estudo demonstra as limitações de germinação para um grupo de espécies do cerrado pouco estudadas. “As baixas taxas de germinação obtidas nos levam a crer que multiplicar as espécies do cerrado para restaurar esta vegetação em larga escala será muito mais difícil do que se imaginava. Muito mais do que tem sido para restaurar a mata atlântica, por exemplo. Acreditamos que outras técnicas de multiplicação dessas espécies e técnicas de restauração, que não dependam da formação de mudas, precisam ser desenvolvidas para o cerrado.”

A engenheira florestal explica que essa baixa germinação ressalta a dificuldade em se restaurar a vegetação do cerrado, já que seria necessário colher uma quantidade enorme de sementes para que um mínimo de germinação fosse obtido. “Se uma espécie tem 20% de germinação, seria necessário utilizar mil sementes para obter apenas 200 mudas ou plântulas, o que, em termos de restauração de grandes áreas, não é um número elevado. No caso das espécies com germinação nula, poderíamos dizer que seriam as menos indicadas para um projeto de restauração. Entretanto, mais estudos são necessários, como avaliar a necessidade de quebra de dormência, antes de ‘excluí-las’ completamente de uma recomendação. Ou seja, ao sabermos a porcentagem de germinação de uma espécie, temos uma ideia de quantas sementes são necessárias para obter um determinado número de plântulas ou mudas. E com os resultados desse estudo também já sabemos quais as espécies com maior eficiência na germinação e que seriam mais fáceis de ser utilizadas.”

FUTURO

Quanto ao futuro, Flaviana conta que outras pesquisas estão em desenvolvimento pelo grupo coordenado pela pesquisadora Giselda Durigan, uma das autoras do artigo, envolvendo pesquisadores do grupo e estudantes de pós-graduação. “Estão sendo testadas a germinação de algumas das espécies que estudamos, além de outras, sobretudo gramíneas, em condições de viveiro, laboratório e diretamente no campo. Também estamos testando a transposição da camada superficial do solo, com todo o banco de sementes, visando obter a germinação de um número maior de espécies, com resultados promissores para restaurar o campo cerrado e o campo úmido, que são fisionomias abertas (não florestais) de cerrado extremamente ameaçadas e que pouca gente conhece.”

A engenheira ensina que um dos grandes obstáculos para o desenvolvimento dessas pesquisas relacionadas com as plantas do cerrado está na dificuldade de identificação das espécies, especialmente as que não são árvores (ervas, capins, arbustos). “Por isso, trabalhamos intensamente na produção de um guia para identificação de plantas pequenas das fisionomias campestres do cerrado, que poderá facilitar novas pesquisas e a prática da restauração dessa vegetação.”

Berço das águas

Historicamente, o foco das ações de conservação no Brasil está, de fato, nas áreas de vegetação com formação florestal, como a mata atlântica e a Amazônia. Outras formações não florestais, como a caatinga, no Nordeste, e os pampas, no Sul, não ganham o mesmo reconhecimento. O cerrado, um dos 34 hotspots de biodiversidade do mundo (regiões que abrigam grande número de espécies, muitas das quais são endêmicas, ou seja, só ocorrem ali), sofre perda de área rapidamente e precisa de atenção antes que seja tarde demais. Além de ser um guardião da biodiversidade, segundo a pesquisadora Giselda Durigan, pode-se dizer que o cerrado é o “berço das águas do Brasil”. Oito das 12 regiões hidrográficas do Brasil têm nascentes no cerrado. Oito das 10 maiores usinas hidrelétricas brasileiras dependem de rios que nascem no cerrado.


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