Fotos de recém-nascidos, vídeos com os primeiros passos de crianças, reprodução de diálogos inusitados e dúvidas sobre como agir com os pequenos recheiam as redes sociais.
Estudo conduzido por especialistas do Hospital Infantil da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, buscou responder essas questões. “Tivemos a ideia de fazer a pesquisa quando ouvimos as pessoas mais jovens em nosso escritório falarem sobre o quanto eles usam as mídias sociais para obter informações sobre paternidade. Isso nos fez pensar se era algo exclusivo da nossa cidade ou comum a todos os pais”, explica Sarah Clark, autora do estudo e diretora associada da instituição de saúde. Para observar os efeitos do sharenting, os pesquisadores entrevistaram pais de crianças de 0 a 4 anos “Direcionamos para esse público porque sabemos que existe uma série de desafios durante os primeiros anos”, justifica.
As análises evidenciaram um ponto que pode ser positivo, segundo os autores: a troca de vivências com pessoas mais experientes e a possibilidade de se acalmar ao conversar com eles. Os cientistas notaram que os pais usam muito a rede para tirar dúvidas sobre temas como hábitos de sono, nutrição, disciplina e educação pré-escolar.
Desvantagens Os participantes do estudo destacaram, contudo, que admitem algumas “armadilhas” do compartilhamento de informações sobre os filhos. Quase dois terços relataram medo de que alguém usasse as fotos dos pequenos, algo com que os pesquisadores concordam. Os autores lembram que as imagens compartilhadas apresentam certo “perigo”, pois muitas vezes são divulgadas no modo público, o que permite que qualquer pessoa tenha acesso a elas. “Em primeiro lugar, as fotos e vídeos que você posta estão disponíveis a todos na rede – eles vão estar lá fora para o mundo ver”, ressalta Clark.
Três quartos dos entrevistados também se mostraram incomodados com pais que compartilham um número exacerbado de “notícias”, e mais da metade mostrou preocupação de que seus filhos se sintam constrangidos, no futuro, com o que é divulgado. Para a médica norte-americana, a reação dos filhos é uma possibilidade real, e os pais deveriam levá-la em conta. “Quando o bebê cresce e se transforma em adolescente, fotos e vídeos ‘bonitinhos’ podem se tornar fonte de embaraço”, aponta. “Há também o receio de roubo de identidade ou de rapto da criança. Esses casos são raros, mas muitos pais se mostram preocupados com eles”, completa.
Segundo Lúcia Dezan, professora do curso de psicologia do Centro Universitário Iesb de Brasília, o sharenting tem sido muito debatido pelos especialistas e é uma mostra do quanto a exposição é um tema presente. “Nós vivemos em uma sociedade do espetáculo. Há necessidade de exposição e de retorno.
Cuidados Dezan questiona a conclusão da pesquisa sobre ser vantajoso tirar dúvidas com outros pais. “Pode ser algo perigoso. Receber uma orientação diferente da dos médicos, mesmo sobre algo aparentemente simples, como a ingestão de um alimento, é um problema”, afirma. A psicóloga também acha relevante refletir sobre como a internet pode interferir em noções de privacidade. “Fico me perguntando se essa superexposição não vai acabar fazendo com que as crianças tenham outras questões de limites estabelecidas.”
Sarah Clark acredita que o sharenting deve se expandir, e acha importante acompanhar atentamente essa tendência. “Haverá um aumento? Provavelmente, sim. As diferentes plataformas de mídia social têm se expandido e nós queremos manter os benefícios que realmente apoiam os pais de crianças e jovens. Mas esperamos que os adultos aprendam a fazer isso de maneira mais inteligente e mais segura, adotando recursos como usar apenas a inicial, em vez de todo o nome da criança, ou utilizar plataformas que têm bons controles de privacidade.”