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Estado de Minas

Acidente com nave espacial adia viagens fora da Terra

O sonho de ser astronauta por algumas horas deve demorar para se tornar realidade


postado em 07/11/2014 00:12 / atualizado em 07/11/2014 08:58

Destroços da SpaceShipTwo: voos espaciais são a forma de transporte mais perigosa que há, comíndice de fatalidade de mais de 2% por viagem(foto: SANDY HUFFAKER/GETTY IMAGES/AFP)
Destroços da SpaceShipTwo: voos espaciais são a forma de transporte mais perigosa que há, comíndice de fatalidade de mais de 2% por viagem (foto: SANDY HUFFAKER/GETTY IMAGES/AFP)

Nunca uma excursão turística foi planejada com tanta antecedência. Há 10 anos, a Virgin Galactic recebe reservas para um lugar no voo que pretende levar humanos ao espaço. Adiado diversas vezes, o sonho de dar uma voltinha extraterrestre e retornar em segurança pode estar mais longe de acontecer. Apesar do entusiasmo do milionário Richard Branson, dono da empresa, a queda da nave SpaceShipTwo, que se partiu na sexta-feira passada durante um teste, matando um dos pilotos, levanta a dúvida se, de fato, a tecnologia está pronta para essa empreitada.

Na coletiva de imprensa organizada após a tragédia, na sexta-feira passada, Branson afirmou que vai continuar investindo no turismo espacial, mas adotou um tom de cautela pouco comum ao empreendedor. “Não vamos insistir cegamente”, disse. No início do ano, o empresário havia declarado que a primeira excursão à órbita terrestre poderia ocorrer ainda em 2014 e que ele mesmo, acompanhado dos filhos, inauguraria o voo. Depois, adiou para 2015 a data da aventura, que tem, na lista de espera, nomes como o astrofísico Stephen Hawking e os artistas Angelina Jolie e Leonardo DiCaprio.

Na terça-feira, a Virgin Galatic divulgou uma nota, informando que as investigações não indicaram problemas no tanque de combustível ou no motor do veículo. “Embora tenha sido uma tragédia, estamos nos movendo adiante e faremos isso deliberadamente e com determinação”, diz o comunicado. De acordo com a empresa, outro SpaceShipTwo (mesmo modelo do veículo que caiu) já está 65% completo. “Continuaremos a avançar nossa missão ao longo das próximas semanas e meses. Com as recomendações da NTSB (National Transportation Safety Board, agência independente de investigações de acidentes aéreos) e com a certeza de um caminho seguro, queremos ir em frente com nosso programa de testes e não perdemos o foco da nossa missão, de fazer o espaço acessível a todos”, continuou o texto.

Dúvidas

Richard Branson, dono da Virgin Galactic, empresa que deseja oferecer voos espaciais comerciais(foto: NBC NEWS/HANDOUT/REUTERS)
Richard Branson, dono da Virgin Galactic, empresa que deseja oferecer voos espaciais comerciais (foto: NBC NEWS/HANDOUT/REUTERS)
Nem todos acreditam que essa missão será cumprida tão cedo. “Muitas pessoas acreditavam que a tecnologia para enviar pessoas ao espaço com segurança estava à mão”, disse John Logsdon, diretor aposentado de políticas espaciais da Universidade George Washington, ao jornal The Independent. “Mas acho que isso (o acidente) é um revés na ideia de que muitas pessoas vão passear no espaço sideral nos próximos tempos”, opinou o especialista na história aeroespacial, que já ocupou o cargo de diretor do Museu Espacial da Nasa. Em entrevista à Radio 4, o biógrafo de Branson, Tom Bower, também mostrou descrença com a empreitada. “Isso sempre foi perigoso e sempre se soube que acabaria em tragédia. Esse projeto não está funcionando. Onde estão as evidências de que ele poderá fazer funcionar nos próximos seis meses?”, questionou.

David Sawaya, especialista em tecnologia aeroespacial pela Universidade Espacial Internacional, na França, acredita que os voos comerciais turísticos serão uma realidade futura, mas discorda que esse futuro sejam os próximos anos. “A exploração espacial teve início 50 anos atrás, e poucos países têm a capacidade de colocar humanos no espaço. Nenhum conseguiu promover visitas turísticas espaciais em uma escala comercial, e toda vez que ocorre uma tragédia, é uma lembrança de quão perigosa ainda é essa atividade, mais do que qualquer outra forma de transporte, inclusive o carro”, afirmou ao Estado de Minas.

De acordo com ele, contando todas as mortes ocorridas até hoje, apenas no programa espacial americano o índice de fatalidade é de mais de 2% por voo. “Isso significa 2.320 óbitos por 100 mil passageiros, o que é 45 mil vezes mais do que (o risco de) voar em um avião comercial”, observou. Para Sawaya, o problema do turismo espacial não é só esse, embora seja o mais grave. “Temos aí uma mistura de coisas: custo, segurança e tamanho do mercado. Até porque quanto mais ingredientes de segurança você tiver de adicionar ao coquetel, mais caro ele sairá.” A Virgin já vendeu bilhetes de US$ 250 mil a passageiros muito endinheirados.

Direito Para o consultor em tecnologia espacial Rand Simberg, autor do livro Safe is not an option (Segurança não é uma opção, sem tradução no Brasil), os riscos são inerentes ao processo de novas empreitadas. “Sem eles, não temos novidades, foi assim, na década de 1920, com a aviação”, lembrou. “Muitas pessoas morreram em aviões naqueles tempos para que aprendêssemos como voar de forma mais segura. Se a aviação comercial tivesse sido encarada da forma como hoje vemos os voos espaciais, não teríamos uma indústria aeroviária.”

Simberg argumenta que mortes são inevitáveis no espaço, assim como o são nas rodovias. “Obviamente, voos espaciais são muito mais perigosos que dirigir, estatisticamente. Você tem muito mais risco de morrer num voo espacial, comparado a pegar seu carro e ir às compras. Mas viajar para o espaço é algo tão arriscado como fazer mergulho ou saltar em grandes altitudes. Esse é um risco que as pessoas têm de ter o direito de dizer se querem ou não lidar”, defendeu.

 

Organismo preparado

Pelo menos em relação à saúde, os futuros viajantes espaciais não precisam se preocupar. Segundo um estudo da Universidade do Texas em Galveston, qualquer um pode empreender aventuras extraterrestres, mesmo aqueles portadores de condições médicas como pressão alta, asma, diabetes, enfisema, problemas cardíacos e lesões musculares.

Especialistas em medicina aeroespacial, cientistas publicaram o resultado da pesquisa no jornal Aviation, Space and Environmental Medicine. “Nossa intenção foi verificar se as pessoas com problemas médicos comuns, que não necessariamente passariam no teste para se tornarem astronautas, poderiam tolerar os estresses fisiológicos de um voo espacial comercial”, conta Rebecca Blue, principal autora do estudo. De acordo com ela, esses estresses incluem tanto o aumento das forças de aceleração durante o lançamento quanto a microgravidade do espaço.

“A indústria de voos espaciais comerciais se interessa particularmente por algumas condições médicas, seja porque têm uma alta taxa de ocorrência ou pelo potencial de causar eventos médicos sérios e súbitos. É claro que ninguém quer que isso aconteça no espaço”, lembra Blue. Para testar como o organismo de pessoas com esses problemas se comporta na órbita terrestre, os pesquisadores usaram simulações de lançamento e a volta dos veículos para o planeta.

A centrífuga permite reproduzir a aceleração do lançamento de um foguete ou a reentrada de uma nave na atmosfera. É o mesmo equipamento usado por astronautas em seus treinos antes dos voos, observa a pesquisadora. Oitenta e seis voluntários de 20 a 78 anos portadores de doenças pulmonares, cardíacas, metabólicas e musculoesqueléticas participaram dos testes, realizados durante dois dias, no Centro Nacional de Pesquisa e Treinamento Aeroespacial, na Pensilvânia. Durante o experimento, os cientistas monitoraram alterações na pressão sanguínea, batimentos e ritmo cardíaco, oximetria, função neurovestibular e sintomas de intolerância, narrados pelos participantes.

“Não houve nenhum evento significativo. De forma geral, os voluntários saíram-se extremamente bem e, independentemente do histórico médico, da idade e do gênero, toleraram muito bem as forças de aceleração”, observa Rebecca Blue. “Para um voo espacial comercial, há muitas questões que precisam ser consideradas, como a segurança técnica da nave, a experiência dos tripulantes e o impacto de um voo como esse, programado para durar umas duas horas, na saúde. Pelo menos nesse último quesito, podemos dizer que os voos estão liberados.” (PO)

 


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