O estudo, publicado na edição de hoje da revista Science, levou em conta fatores como a taxa de fecundidade e a expectativa de vida de cada país. O levantamento usou um novo método estatístico mais detalhado do que o usado em previsões anteriores, combinando estimativas de governos e especialistas. Como se trata, evidentemente, de uma projeção, os autores afirmam que há 80% de chances de que a Terra abrigue entre 9,2 bilhões e 12,3 bilhões de pessoas nas próximas oito décadas — sendo 11 bilhões o cenário mais provável.
Os levantamentos anteriores levavam os pesquisadores a acreditar que o total de humanos se estabilizaria em 9 bilhões até a década de 2070 e que, então, passaria a decair lentamente. Os demógrafos explicam que, há uma década, pensava-se que a fecundidade na África seguiria o mesmo ritmo da taxa de nascimentos da América Latina, que tem diminuído rapidamente nos últimos anos. No entanto, as africanas continuam tendo mais filhos, 4,6 crianças, em média, cada uma.
A diminuição da mortalidade pelo vírus HIV também contribuiu para o aumento da população da região.
Especialistas atribuem a multiplicação demográfica na região à falta de políticas públicas de planejamento familiar, que não deixam escolha às mulheres. “Estudos mostram que falta contracepção para a maioria das mulheres pobres que querem controlar a natalidade. Então, elas usam métodos tradicionais, falham e engravidam. Se a sociedade não disponibilizar métodos para elas escolherem ter filhos no momento que quiserem, a fecundidade pode aumentar, e essa taxa indesejada é alta”, lamenta Suzana Cavenaghi, demógrafa e professora da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ENCE/IBGE), que não participou do estudo.
No entanto, essa projeção pode ser afetada pelo próprio crescimento populacional da região. A falta de recursos causada pelo excesso de habitantes poderia levar a um índice inesperado de mortalidade, além de mudanças nas taxas de fecundidade e do aumento da migração regional e mundial. Um exemplo é o da Nigéria, onde a população deve saltar de 160 milhões para 914 milhões até 2100. “Nesse caso, já acontece a migração para dentro do próprio continente. A maior parte das vezes, a migração é feita em etapas. Se há um crescimento maior do que a geração de empregos, educação e acesso à saúde que o governo consegue garantir, acontece um colapso, e as pessoas migram. Claro que os países fecham fronteiras, e começam os problemas”, alerta a brasileira.
IdososOutras regiões do mundo devem sofrer menos mudanças nos próximos anos. A Ásia, hoje com 4,4 bilhões de habitantes, deve atingir 5 bilhões até 2050, mantendo-se como o continente mais populoso do planeta.
No Brasil, atualmente, há 8,6 pessoas com menos de 65 anos para cada idoso. Essa proporção pode despencar para 1,5 até 2100, segundo os novos cálculos. O número é ainda menor do que a futura taxa norte-americana, de 1,9, e da China, 1,8. “É necessário lembrar que, se você está pensando no fim do século, isso são umas três gerações a partir de hoje. E muitas mudanças podem acontecer até lá, em termos de saúde, participação de idosos na força de trabalho e na interferência da tecnologia nas nossas vidas futuras”, alerta Patrick Gerland, demógrafo das Nações Unidas e coautor do trabalho.
Se confirmado, um quadro desproporcional como esse poderia causar uma crise econômica mundial, como a que já acontece no Japão, onde existem apenas 2,6 adultos para sustentar cada idoso. “A sociedade pode lidar com o sustento de idosos por meio de redes de apoio formais e informais, transferências entre gerações e apoio, assim como sistemas de previdência pública e privada”, diz Patrick.
Prever a taxa de crescimento populacional também ajuda a antecipar vários outros problemas, como mudanças climáticas, disseminação de doenças, migração e pobreza. São questões que podem ser amenizadas com a implementação de políticas voltadas para a saúde sexual de jovens e de programas que promovam a gravidez tardia, por exemplo.