Como parte do trabalho de doutorado, o engenheiro de alimentos Bruno Gonçalves Botelho, com a ajuda da aluna de iniciação científica Luciana de Paula Assis, e sob a orientação do professor Marcelo Martins de Sena, mestre e doutor em química analítica, decidiu verificar a quantidade do corante amarelo crepúsculo (sunset yellow) presente em refrigerantes do tipo Fanta laranja e isotônicos da mesma cor. Foram usadas somente bebidas em que esse é o único corante adicionado. O projeto foi financiado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Bioanalítica (INCT-Bio/CNPq) e pelos programas Pronoturno e de recém-doutores das pró-reitorias de Graduação e de Pesquisa da UFMG, respectivamente.
“A linha de pesquisa é o uso da quimiometria aplicada na química analítica, que tem a preocupação de desenvolver métodos de análise que sejam mais baratos, mais rápidos e mais simples”, afirma o professor Marcelo Martins de Sena. No caso da verificação de presença dos corantes, ele ressalta a importância da parte econômica: enquanto um scanner custa cerca de R$ 200, os equipamentos usados no método tradicional, espectrofotômetro e cromatógrafo, têm preço em torno de R$ 30 mil e R$ 300 mil, respectivamente.
E não é só isso. “No método tradicional, é preciso usar solvente para separar o corante. Isso gera um resíduo, que depois tem que ser descartado.
Amostras
Os dados obtidos foram confrontados com o método tradicional de uso do cromatógrafo, sendo compatíveis, respeitando-se a margem de erro permitida, que, para o caso, é entre menos de 20% e mais de 10%. Todas as bebidas analisadas estavam dentro do padrão aceito pela legislação brasileira.
Os pesquisadores acrescentam, porém, que o baixo teor de corantes em relação ao permitido por lei não é motivo para comemoração, já que existem grandes discussões com o objetivo de tornar a legislação brasileira mais rígida. “A questão é estética e isso tem que ser discutido do ponto de vista toxicológico. Se a Fanta laranja fosse transparente, o gosto seria o mesmo”, pondera a química Kele Cristina Ferreira Dantas, mestranda em química analítica, que também participou do trabalho.
Celular
Dando continuidade, Bruno pesquisou o teor do corante vermelho 40 presente em balas do tipo Ice Kiss, dos sabores morango, cereja e tutti-frutti. Nessa fase, a dificuldade foi pensar uma maneira de obter as imagens, já que a bala, no estado sólido, não teria como ser escaneada da mesma forma. “Então, resolvi usar o celular para fazer a foto da bala e, a partir daí, usar o mesmo método”, afirma.
Amarelo
Depois de participar como ajudante na pesquisa de Bruno, a química Kele Cristina Ferreira Dantas decidiu, para o desenvolvimento de sua dissertação de mestrado em química analítica, pesquisar bebidas com a presença de dois corantes: o amarelo crepúsculo e a tartrazina, de tom amarelo-claro. Juntos, os dois corantes são encontrados em refrigerantes e isotônicos cítricos como a Fanta maracujá e refrigerantes de maçã. A pesquisa ainda está em andamento e o objetivo é ver se o método criado funciona também quando existe a presença de dois corantes.
Alguns são permitidos
A Resolução 44 da Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos (CNNPA), do Ministério da Saúde, de 1977, com algumas alterações e acréscimos da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 5/2007, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), regulamenta o uso de corantes em alimentos e bebidas no Brasil. Entre os corantes orgânicos sintéticos artificiais (caso dos analisados na pesquisa, pois há também os corantes naturais), são permitidos atualmente: amarelo crepúsculo, tartrazina, azul brilhante FCF, indigotina, amaranto, eritrosina, ponceau 4 R, vermelho 40, azorrubina, verde rápido e azul patente V. Os três últimos, conforme explica a professora de ciência de alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp Helena Teixeira Godoy, não fazem parte da legislação brasileira, mas foram acrescentados em função do Mercosul e da consequente entrada de produtos dos países-membros no Brasil. Ela explica que, caso a indústria brasileira queira usá-los, basta pedir autorização à Anvisa. Os corantes sintéticos são frequentemente tema de pesquisas sobre o possível grau de nocividade à saúde. Alguns como o amaranto e o ponceau 4 R já foram banidos em países como os EUA. Problemas como hiperatividade e até câncer são ligados ao uso de corantes em alimentos. No entanto, a professora Helena ressalta que os estudos são controversos e até hoje ainda não existe comprovação dos males que causam à saúde, daí o fato de ainda serem permitidos não só no Brasil mas em muitos países.