Você provavelmente já ouviu falar de Nicholas Negroponte, um arquiteto americano que se especializou em CAD e a partir daí voltou seu interesse para o mundo digital, passando a dedicar sua vida a pesquisas sobre a interação entre homem e computadores. Fundou o Media Lab, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que ajudou a transformar um punhado de ideias mirabolantes em artefatos que hoje integram nossa vida diária, criou a revista Wired e, desde 2006, dedica-se ao projeto OLPC (One laptop per child, ou Um computador por criança). Há quem o chame de gênio, há quem o chame de visionário. Mas, à medida que suas ideias delirantes iam se materializando em artefatos de uso diário, muitos dos que o achavam visionário passaram a achá-lo um gênio.
Quiçá você conheça o projeto TED, sigla de technology, entertainment, design, que promove palestras cujo mote é “ideias que valem ser disseminadas”, uma iniciativa da Sapling Foundation, que em 2006 pôs todas as suas palestras à disposição do público no sítio ted.com. E provou ser seu mote verdadeiro: eu jamais assisti a uma única palestra do projeto TED que não valesse a pena.
Eu já relatei aqui ou alhures o acontecido com meu neto de três anos que, entediado com a conversa em um recinto onde além dele só havia adultos, saltou do colo do pai, atravessou a sala e, pondo-se na ponta dos pés para alcançar a TV de tela plana sobre a cômoda, começou a arrastar seu dedo indicador sobre a tela, numa clara intenção de encontrar algo mais palatável para se distrair. Não conseguiu, mas mostrou como, para ele, aquele gesto parecia natural.
Mas o que tem uma coisa com a outra? Vamos ver. Nos últimos 30 anos, Negroponte fez 14 palestras no TED. E recentemente foi convidado a fazer mais uma, que pode ser encontrada em www.ted.com/talks/nicholas_negroponte_a_30_year_history_of_the_future e cujo título, “Uma história de 30 anos do futuro”, aparentemente não faz sentido, já que “história” é um vocábulo que se refere ao passado. Mas ele explica que uma das características de envelhecer é sentir que “se visitou o futuro” e justifica: “Quantas vezes eu disse: ‘dentro de 10 anos, acontecerá isto e aquilo’ e, passados 10 anos, de fato ocorreu. E isto me dá a sensação de ter estado no futuro diversas vezes”. Claro que para um gênio criativo como ele é mais fácil dizer isso. Gente comum, como eu, ao envelhecer, só visitou o passado.
Seu relato: “As crianças não somente aprenderam a ligá-los e a usar cerca de 25 aplicativos em cinco dias, como estavam cantando ABC songs (músicas infantis que reproduzem o alfabeto) em vinte dias. Em seis meses, dominavam o sistema Android e passaram a ensinar uns aos outros sem o envolvimento de qualquer adulto”. E exibiu a foto ao lado, capturada do vídeo da palestra, onde crianças “brincam” de escola (o que está em pé é o “professor”). E aprendem.
Isto o levou a crer que se todos esses tablets, distribuídos em todas as regiões remotas do planeta, pudessem ser interligados a um satélite estacionário, seria possível montar para essas crianças um projeto de ensino sem escolas. Que custaria US$2 bilhões de dólares (o mesmo que os EUA gastavam, na época, em uma semana de guerra no Afeganistão) e seria revolucionário.
Foi então que me lembrei de meu neto arrastando seu dedo na tela da TV...