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Estado de Minas

Crianças da Etiópia aprendem através da interação e sem professor

Crianças da Etiópia, onde não há escolas, receberam um tablet e, em cinco dias, além de ligá-lo sozinhas, sem nenhuma instrução, conseguiram usar cerca de 25 aplicativos


postado em 17/07/2014 11:24 / atualizado em 17/07/2014 11:27

Você provavelmente já ouviu falar de Nicholas Negroponte, um arquiteto americano que se especializou em CAD e a partir daí voltou seu interesse para o mundo digital, passando a dedicar sua vida a pesquisas sobre a interação entre homem e computadores. Fundou o Media Lab, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que ajudou a transformar um punhado de ideias mirabolantes em artefatos que hoje integram nossa vida diária, criou a revista Wired e, desde 2006, dedica-se ao projeto OLPC (One laptop per child, ou Um computador por criança). Há quem o chame de gênio, há quem o chame de visionário. Mas, à medida que suas ideias delirantes iam se materializando em artefatos de uso diário, muitos dos que o achavam visionário passaram a achá-lo um gênio.

Quiçá você conheça o projeto TED, sigla de technology, entertainment, design, que promove palestras cujo mote é “ideias que valem ser disseminadas”, uma iniciativa da Sapling Foundation, que em 2006 pôs todas as suas palestras à disposição do público no sítio ted.com. E provou ser seu mote verdadeiro: eu jamais assisti a uma única palestra do projeto TED que não valesse a pena.

Eu já relatei aqui ou alhures o acontecido com meu neto de três anos que, entediado com a conversa em um recinto onde além dele só havia adultos, saltou do colo do pai, atravessou a sala e, pondo-se na ponta dos pés para alcançar a TV de tela plana sobre a cômoda, começou a arrastar seu dedo indicador sobre a tela, numa clara intenção de encontrar algo mais palatável para se distrair. Não conseguiu, mas mostrou como, para ele, aquele gesto parecia natural.

Mas o que tem uma coisa com a outra? Vamos ver. Nos últimos 30 anos, Negroponte fez 14 palestras no TED. E recentemente foi convidado a fazer mais uma, que pode ser encontrada em www.ted.com/talks/nicholas_negroponte_a_30_year_history_of_the_future e cujo título, “Uma história de 30 anos do futuro”, aparentemente não faz sentido, já que “história” é um vocábulo que se refere ao passado. Mas ele explica que uma das características de envelhecer é sentir que “se visitou o futuro” e justifica: “Quantas vezes eu disse: ‘dentro de 10 anos, acontecerá isto e aquilo’ e, passados 10 anos, de fato ocorreu. E isto me dá a sensação de ter estado no futuro diversas vezes”. Claro que para um gênio criativo como ele é mais fácil dizer isso. Gente comum, como eu, ao envelhecer, só visitou o passado.

(foto: Reprodução da internet )
(foto: Reprodução da internet )
Mas o que mais me impressionou na palestra foi o relato de um experimento do projeto OLPC. Negroponte considera que a mais poderosa ferramenta de aprendizado é a iteração. Usa como exemplo a programação de computadores: o programador cria o programa e testa; raramente funciona no primeiro teste, então volta ao código, revisa-o e testa novamente, prosseguindo em iterações sucessivas até que funcione. E, com isso, aprende. Sem qualquer intervenção de terceiros, sem professores, sozinho. Nicholas Negroponte tentou reproduzir isso na zona rural da Etiópia, onde não há escolas e nem é possível construí-las, distribuindo tablets para as crianças, sem instrução, sem ninguém para consultar, sem explicadores. E apenas observou.

Seu relato: “As crianças não somente aprenderam a ligá-los e a usar cerca de 25 aplicativos em cinco dias, como estavam cantando ABC songs (músicas infantis que reproduzem o alfabeto) em vinte dias. Em seis meses, dominavam o sistema Android e passaram a ensinar uns aos outros sem o envolvimento de qualquer adulto”. E exibiu a foto ao lado, capturada do vídeo da palestra, onde crianças “brincam” de escola (o que está em pé é o “professor”). E aprendem.

Isto o levou a crer que se todos esses tablets, distribuídos em todas as regiões remotas do planeta, pudessem ser interligados a um satélite estacionário, seria possível montar para essas crianças um projeto de ensino sem escolas. Que custaria US$2 bilhões de dólares (o mesmo que os EUA gastavam, na época, em uma semana de guerra no Afeganistão) e seria revolucionário.

Foi então que me lembrei de meu neto arrastando seu dedo na tela da TV...

 


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