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Estado de Minas SAÚDE

Tecnologia promete exterminar ovos e larvas do Aedes aegypti

Pesquisadores do Departamento de Química da UFMG apresentam produto que, em contato com luz solar e água, tem ação bloqueadora no desenvolvimento do mosquito


postado em 01/06/2014 00:12 / atualizado em 01/06/2014 08:50

Os professores Luiz Carlos Oliveira e Jadson Belchior mostram os apetrechos usados ao longo do estudo e dos testes(foto: Gladyston Rodrigues / EM / DA Press)
Os professores Luiz Carlos Oliveira e Jadson Belchior mostram os apetrechos usados ao longo do estudo e dos testes (foto: Gladyston Rodrigues / EM / DA Press)
Uma tecnologia fotoquímica, de baixo custo, desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), promete contribuir com outras tecnologias para impedir ou, pelo menos, reduzir de forma efetiva a proliferação do mosquito Aedes aegypti, causador da dengue. O invento, em contato com a água e a luz solar, impede a eclosão dos ovos do mosquito e mata as larvas recém-nascidas. Os cientistas testaram a ideia em dois meios: um tijolo de concreto autoclavado e uma manta. Ambos são encontrados no mercado, o que torna a proposta bastante acessível. Um dos segredos da tecnologia está no líquido que é aplicado, tanto no tijolo como na manta e, por questão de sigilo, pelo pedido da patente, não pode ser revelado ainda. “Posso garantir que a mistura usou água como solvente e produtos naturais, que não causam danos ao meio ambiente e, depois da ação, se neutraliza, sendo atóxica”, garante o professor do Departamento de Química da UFMG e coordenador da pesquisa, Jadson Cláudio Belchior.

A ideia de testar o tijolo nesse experimento surgiu de outras pesquisas que o grupo coordenado por Belchior desenvolvia usando o tijolo. Segundo o professor, foi interessante adotá-lo nesse projeto da dengue, porque o tijolo é poroso e de baixa densidade, por isso, flutua na água. “Como a larva necessita ir até a superfície da água ou fica encostada nas paredes dos recipientes, tínhamos de encontrar algo cuja ação se desse no mesmo nível. E a larva do Aedes, para sobreviver, vai à superfície e mergulha; ela faz isso repetidas vezes.”

A larva irrompe quando o ovo encontra um local propício para se desenvolver. Além de água limpa, ela precisa de material orgânico e oxigênio. Um dos fatores que mais dificultam o combate ao Aedes aegypti é que os ovos, mesmo sem eclodir, têm uma vida longa demais, sem contato com a água: cerca de 400 dias. Então, um punhado de ovos, contaminados com a dengue, fica em local seco por mais de um ano e, ao menor contato com água, se tornam uma real ameaça, já que a larva vai seguir seu ciclo normal e se transformar no mosquito. A proposta da equipe da química da UFMG foi criar um mecanismo que não deixasse a larva eclodir ou não permitisse o desenvolvimento das larvas já formadas, matando-as por asfixia ou por falta de alimentação, uma vez que exterminar o mosquito é mais difícil.

A pesquisa foi desenvolvida em etapas: primeiro era preciso testar o suporte para o produto químico, de forma que ficasse inerte, ou seja, o meio tinha que absorver o líquido com o princípio ativo e posteriormente secar o suporte. Depois de quimicamente modificado, o suporte passou por um processo de alta temperatura. E, por fim, vieram os testes para ver como ele ia se comportar: em contato com a água e a luz solar, entrar em atividade para eliminar os ovos do mosquito e também para matar as larvas. “Nossa intenção era trabalhar um processo ambientalmente correto e que contribuísse com as tecnologias já disponíveis para evitar a proliferação da dengue”, conta o professor.

O tijolo, existente no mercado, custa em média R$ 10 e, para esse estudo, foi quebrado em 2 mil pedaços, de aproximadamente 1,5cm cada um (do tamanho de um dos três ‘gomos’ do dedo mindinho humano). Considerando-se os trabalhos em laboratório e as etapas de preparação para aplicação final, tem-se uma estimativa de R$ 0,02 por tijolinho. Entretanto, somente o plano de negócios poderá definir um custo total correto.

“Os tijolinhos, então, passaram a ser como pastilhas, tabletes. Quisemos quebrá-lo em pequenos pedaços para que pudesse ser colocado em locais de difícil acesso. O interessante desse produto é que acabamos aumentando o tempo de vida do dispositivo. Isso porque, quando ele não está em atividade (acionada pela luz do sol e o contato com a água), ele fica ali, ‘hibernando’, até ser ativado”, explica Belchior. Para ser usado em ambientes escuros, como uma cisterna, há problema, já que o dispositivo não é acionado. “Mas ainda assim a pessoa pode usar uma luz artificial para ativá-lo.”


No momento em que ocorre a combinação de água, luz e tablete, o produto é liberado, evitando a proliferação do mosquito. A tecnologia pode ser utilizada em qualquer lugar onde houver a possibilidade de acúmulo de água, como vasos de plantas, calhas e caixas d’água.

Manta flexível Em um segundo momento do processo de desenvolvimento da tecnologia, os pesquisadores se voltaram para outra questão: em alguns locais, como calhas, onde nem mesmo o proprietário da residência faz sua limpeza com frequência, a possibilidade de acúmulo de água e, consequentemente, de larvas era grande. E o tablete poderia não ser o formato mais adequado para utilização. Agregamos ao projeto o grupo de pesquisa do professor Luiz Carlos Alves de Oliveira, e dessa nova parceria tivemos a ideia de desenvolver uma manta flexível de tecido sintético com as mesmas propriedades químicas dos tabletes, mas que facilita a adaptação a determinadas estruturas, já que se molda à superfície em que for colocada. Para esses dois processos, o tijolo e a manta, foram requeridas as patentes.

O estudo, iniciado há um ano e meio, envolve ainda o pós-doutorado Geison Voga Pereira, os alunos de doutorado Victor Augusto Araújo de Freitas e Henrique dos Santos Oliveira, e a aluna de graduação em química Laura Maia Araújo. Uma empresa se interessou pelo projeto e assinou convênio com a UFMG, a Vértica Serviços e Tecnologia Eireli. O investimento nesta primeira etapa foi da ordem de R$ 300 mil. O estudo contou com a contribuição da Prefeitura de Belo Horizonte, que forneceu os ovos do Aedes aegypti para os testes iniciais.

A tecnologia ainda depende da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.  A próxima etapa é submeter essa tecnologia a um conjunto de protocolos estabelecidos pelos órgãos competentes, para caracterizar o tipo de utilização do dispositivo. O processo deve levar um ano.

 

Recipiente com larvas e já com o tijolo fotoquímico; a manta e o tijolo embebidos com o produto e sem o produto; e a colocação das pastilhas nos vasinhos: solução barata e eficiente(foto: Gladyston Rodrigues / EM / DA Press)
Recipiente com larvas e já com o tijolo fotoquímico; a manta e o tijolo embebidos com o produto e sem o produto; e a colocação das pastilhas nos vasinhos: solução barata e eficiente (foto: Gladyston Rodrigues / EM / DA Press)


Teste indica atoxicidade
Os ‘ingredientes’ do produto aplicado no tijolo e na manta não agridem o meio ambiente, garantem os cientistas da UFMG. O professor líder do estudo Jadson Cláudio Belchior explica que as pastilhas podem ser colocadas, por exemplo, numa caixa d’água com água potável, e, em princípio, não deverá existir a eclosão de larvas. E se houver, as larvas do Aedes devem morrer, e a água que sairá na torneira será potável também, normal. “A reação química que ocorre na superfície da água presente no reservatório entre a pastilha e a luz solar tem tempo de vida médio de nanossegundos. Além disso, testes que fizemos indicaram atoxicidade do produto”, atesta.

Nos testes iniciais do projeto, os pesquisadores usaram dois potes com água, um com as pastilhas e o outro sem. Se você não troca a água, dá lodo e surgem micro-organismos depois de alguns dias. A vasilha com o pequeno tijolo não deu lodo, e a outra, sim. “Então, nesse primeiro teste, constatamos que nossa tecnologia não permitia a proliferação de micro-organismos e bactérias. Mas só essas evidências não eram suficientes”, explica Belchior.

Amostras foram então enviadas para duas empresas que fazem testes bacteriológicos, de toxicidade e potabilidade. Em um dos testes foi usado um peixe cobaia, que não sofreu nada em contato com a água que continha o tijolo criado na UFMG. Ambos os testes atestaram a segurança do produto.

 

Queda nos casos
No início do ano, o Ministério da Saúde divulgou dados que indicaram a redução no número de casos no primeiro bimestre de 2014. A região Sudeste obteve a maior redução, passando de 232,5 mil notificações em 2013 para 36,9 mil neste ano. Em segundo lugar, veio o Centro-Oeste, que passou de 122,8 mil registros para 28,2 mil (2014), seguido do Nordeste, com 29,6 mil (2013) e  7,9 mil (2014), Norte, de 22,3 mil (2013) para 6,9 mil (2014) e Sul, de 20,3 mil (2013) para 6,9 mil (2014). 

 

 

 


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