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Estado de Minas

Uso adequado da tecnologia é desafio na solução dos problemas da grandes cidades

A tecnologia é insuficiente para resolver problemas urbanos? Não. O desafio é saber como usar as diversas ferramentas disponíveis para melhorar a vida nas metrópoles


postado em 03/04/2014 10:55 / atualizado em 03/04/2014 11:12

João Gabriel Amador

Apesar do conceito de cidade inteligente existir há mais de uma década, o tema nunca foi tão atual. Prova disso são os constantes debates promovidos sobre ele. No início deste ano, a Mobile World Congress, maior feira de dispositivos móveis do mundo, teve como um dos principais assuntos as soluções que o acesso à tecnologia trazem para a vida urbana. Até mesmo o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, ressaltou a importância que instrumentos como a internet e os aparelhos móveis têm para o desenvolvimento das sociedades.

O tema é importante porque as cidades, principalmente em países em desenvolvimento, devem crescer de forma acelerada nos próximos anos. Para se ter uma noção, entre 1995 e 2005, a população das cidades nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento aumentou, em média, em 1,2 milhão por semana, segundo estudos do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (UNU-Habitat). A mesma instituição prevê que a população urbana desses países vai mais que dobrar até a metade do século: de 2,5 bilhões, em 2010, para 5,3 bilhões, em 2050.

Assim, os desafios para manter a qualidade de vida dos habitantes devem seguir a mesma proporção do crescimento populacional dessas áreas. Nessa situação, a tecnologia se mostra grande aliada para promover mudanças. O diretor de desenvolvimento Nelson Souza, da empresa especializada em soluções tecnológicas eWave, comenta que os sistemas inteligentes podem auxiliar na integração e organização dos recursos, otimizando seu uso. “Áreas como água, luz, segurança pública, entre outras, podem ser amplamente melhoradas com projetos inteligentes”, avalia.

Antônio Carlos Dias, diretor de cidades inteligentes da IBM, crê que a dificuldade está em usar com inteligência as tecnologias existentes. “Antigamente, muitos projetos não eram colocados em prática porque não havia ferramentas para os casos. Hoje em dia, já dispomos de muitos avanços tecnológicos capazes de solucionar problemas das cidades. O que falta é organizar como eles podem ser usados.” Muitas metrópoles já contam com a implementação de projetos baseados no uso da tecnologia para resolver algumas demandas, como você confere nesta página.


(foto: Visit South Band/divulgação )
(foto: Visit South Band/divulgação )
PEQUENAS MUDANÇAS
A referência a cidades inteligentes remete a enormes projetos tecnológicos. Mas pequenas invenções também podem ajudar a modificar o meio urbano. Aplicativos como o Colab, por exemplo, podem fazer a diferença. Para quem não conhece, o app, disponível para Android e iOS, permite ao usuário identificar problemas como buracos nas ruas, locais com alto índice de violência etc. e apontá-los em um mapa. As reclamações, então, são passadas diretamente para os órgãos responsáveis.

Água
Todos sabem que a água é um bem valioso, mas que em breve pode se tornar escasso. Assim, as cidades buscam, além de novos mananciais, formas de economizar os recursos hídricos. Um bom exemplo de sistema inteligente é o utilizado na cidade de South Bend, no estado de Indiana, nos Estados Unidos. A cidade com cerca de 500 mil habitantes contava com um sistema de captação e tratamento de água antigo e sofria com diversos casos de quebra e vazamento dos canos. Mas, em 2011, o governo decidiu investir na renovação do sistema, com a implementação de estruturas inteligentes capazes de identificar possíveis danos antes mesmo de ocorrerem. O resultado foi a redução em 95% no número de incidentes nos encanamentos da cidade. Em vez dos cerca de 30 acidentes anuais que aconteciam antes, hoje em dia a média é entre um e dois. Além da diminuição dos problemas, a prefeitura local consegue economizar aproximadamente US$ 300 mil por ano.

Energia
(foto: Prefeitura de Manheim/divulgação)
(foto: Prefeitura de Manheim/divulgação)
A economia de energia também é uma meta fundamental para cidades inteligentes, pois traz como consequência a redução de custos e o menor consumo de recursos naturais. Nesse aspecto, a cidade de Mannheim, na Alemanha, é um exemplo a ser seguido. O sistema inteligente de distribuição de energia utiliza o conceito de Smart Grid no quesito de geração de energia. Essa técnica consiste em criar um painel com dados das companhias elétricas e produtores para ser utilizado como um guia para aumentar a eficiência da distribuição. Os dados ainda são enviados para toda a população, que dessa forma pode, com ajuda do governo, estabelecer estratégias para reduzir o consumo. No Brasil, Porto Alegre atualmente conta com uma boa solução para reduzir os gastos com iluminação pública. Todas as lâmpadas dos postes das cidades apresentam sensores com dados, como o lote do produto e data de implementação. Assim, quando uma lâmpada queima, o órgão responsável é capaz de identificar o lote e, quando a equipe for trocar um dos dispositivos, já aproveita para trocar todos os do mesmo lote no trajeto. A estratégia reduz os custos de manutenção e ainda auxilia na percepção dos habitantes com respeito à segurança.



Lixo

(foto: SongDo/divulgação)
(foto: SongDo/divulgação)
Outro grande problema das cidades está na produção de resíduos. Assim, a coleta e o tratamento adequados do lixo são cada vez mais importantes. Na cidade inteligente de Songdo, na Coreia do Sul, há um projeto para a contrução de um sistema de coleta baseado em tubos pneumáticos, semelhantes a enormes aspiradores de pó. Os resíduos então seriam enviados diretamente a um aterro por meio de um complexo de dutos montados embaixo do solo. Assim, seria eliminado o uso de caminhões para realizar a tarefa.

Segurança
(foto: Prefeitura do Rio de Janeiro/divulgação )
(foto: Prefeitura do Rio de Janeiro/divulgação )
Uma das áreas que a tecnologia mais pode contribuir é a segurança pública. Nesse quesito, a cidade do Rio de Janeiro tem mostrado empenho em melhorar. Em 2010, a prefeitura local criou um centro de operações integrando mais de 30 insituições, como órgãos de trânsito, serviços de emergência e vigilância. Assim, em diversas ocasiões, como catástrofes naturais, acidentes ou mesmo eventos sociais, o Centro de Operações é capaz de manejar os serviços envolvidos de forma a atender as ocorrências de forma mais ágil e eficiente. Além disso, as informações de trânsito, tempo, entre outras, são passadas em tempo real para a população por meio do site e de redes sociais.

(foto: Ben Stansall/AFP)
(foto: Ben Stansall/AFP)
Mobilidade/transportes

Um dos maiores desafios das metrópoles, principalmente de países em desenvolvimento, é a mobilidade urbana. O crescimento repentino da população nesses locais por muitas vezes dificulta a construção de novas vias para o deslocamento, acarretando em trânsitos pesados e, consequentemente, prejuízos econômicos e queda na qualidade de vida. A adoção de transportes públicos de qualidade costuma ser a solução apresentada por diversas metrópoles. Em Londres, por exemplo, para circular de automóvel em regiões centrais é preciso pagar taxas altas. Em contrapartida, há um sistema de bilhete único que permite o uso de trens, ônibus e metrôs que interligam bairros da cidade inteira. Já em Singapura, um sistema implantado permite a previsão de congestionamentos, possível por meio de sensores que detectam a quantidade de veículos trafegando em determinadas regiões. Eles ativam dispositivos eletrônicos capazes, por exemplo, de alterar o tempo dos sinais, e evitando que o trânsito pare.

Transparência
Um dos primeiros passos para que uma cidade se torne mais inteligente, segundo o diretor de cidades inteligentes da IBM, Antônio Carlos Dias, é a boa comunicação entre governo e população. Nesse aspecto, a cidade espanhola de Santander é um exemplo global. Na localidade, os cidadãos têm acesso a informações sobre a poluição do ar, serviço de coleta de lixo, dados do trânsito e da iluminação pública. Dessa forma, podem se organizar e cobrar melhorias em regiões específicas. Para que isso se tornasse uma realidade, foram instalados cerca de 12 mil sensores por toda a cidade, responsáveis pela captação dos dados, que são processados e divulgados pela prefeitura local. Um aplicativo oferece dados sobre trânsito, clima, poluição do ar, coleta de lixo, transportes, iluminação pública, entre outros serviços.



TRÊS PERGUNTAS PARA...
. Antônio Carlos Dias
. diretor de Cidades Inteligentes da IBM

Qual o conceito de cidade inteligente?
(foto: IBM/divulgação )
(foto: IBM/divulgação )
Na verdade, costumamos usar o termo cidades mais inteligentes, pois não acreditamos que existam cidades burras, e sim cidades que apresentam trabalho contínuo para a melhoria da vida urbana. Assim, as cidades mais inteligentes apresentam três fatores primordiais. O primeiro é a sensorização do ambiente, capaz de gerar uma percepção da metrópole por meio de diversos parâmetros. Mas todos esses valores geram uma inundação de dados. Então entra o segundo conceito, o de integração dessas informações. Assim, dados de câmeras nas ruas ou outros sensores, por exemplo, podem ser traduzidos e integrados. Por fim, chega-se ao desenvolvimento de uma inteligência, que seria o terceiro ponto das cidades mais inteligentes. Esse fator corresponde à criação de dispositivos capazes de ler e apresentar os dados coletados e sugerir soluções rápidas e eficientes para os gestores das cidades.

Qual a maior dificuldade em implementar projetos inteligentes nas cidades?
Elas dispõem de vários mecanismos econômicos para desenvolver soluções tecnológicas. O maior problema hoje está em realmente conceber os projetos, uma vez que cada metrópole apresenta desafios únicos. O que fazemos para superar esse problema é contar com uma equipe especializada grande e global, capaz de sugerir soluções que possam ser adaptadas ou implementadas em outro local.

Além dos projetos desenvolvidos para o governo, há ferramentas tecnológicas para que o cidadão faça parte dessa mudança para uma cidade mais inteligente?
Claro. Há, hoje, a ideia do cidadão-gestor, uma vez que, com dispositivos como smartphones e ferramentas como aplicativos e redes sociais, a população pode informar os problemas, criar um canal de comunicação com os governantes e até mesmo elaborar ou sugerir soluções. Em contrapartida, uma característica presente nas cidades mais inteligentes é a transparência do governo. Há uma demanda muito grande para que dados como gastos, horários de transporte, entre outros, sejam disponibilizados em tempo real e de forma pública. Isso é fundamental.


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