Apesar do conceito de cidade inteligente existir há mais de uma década, o tema nunca foi tão atual.
O tema é importante porque as cidades, principalmente em países em desenvolvimento, devem crescer de forma acelerada nos próximos anos. Para se ter uma noção, entre 1995 e 2005, a população das cidades nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento aumentou, em média, em 1,2 milhão por semana, segundo estudos do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (UNU-Habitat). A mesma instituição prevê que a população urbana desses países vai mais que dobrar até a metade do século: de 2,5 bilhões, em 2010, para 5,3 bilhões, em 2050.
Assim, os desafios para manter a qualidade de vida dos habitantes devem seguir a mesma proporção do crescimento populacional dessas áreas. Nessa situação, a tecnologia se mostra grande aliada para promover mudanças. O diretor de desenvolvimento Nelson Souza, da empresa especializada em soluções tecnológicas eWave, comenta que os sistemas inteligentes podem auxiliar na integração e organização dos recursos, otimizando seu uso.
Antônio Carlos Dias, diretor de cidades inteligentes da IBM, crê que a dificuldade está em usar com inteligência as tecnologias existentes. “Antigamente, muitos projetos não eram colocados em prática porque não havia ferramentas para os casos. Hoje em dia, já dispomos de muitos avanços tecnológicos capazes de solucionar problemas das cidades. O que falta é organizar como eles podem ser usados.” Muitas metrópoles já contam com a implementação de projetos baseados no uso da tecnologia para resolver algumas demandas, como você confere nesta página.
A referência a cidades inteligentes remete a enormes projetos tecnológicos. Mas pequenas invenções também podem ajudar a modificar o meio urbano. Aplicativos como o Colab, por exemplo, podem fazer a diferença. Para quem não conhece, o app, disponível para Android e iOS, permite ao usuário identificar problemas como buracos nas ruas, locais com alto índice de violência etc. e apontá-los em um mapa. As reclamações, então, são passadas diretamente para os órgãos responsáveis.
Água
Todos sabem que a água é um bem valioso, mas que em breve pode se tornar escasso. Assim, as cidades buscam, além de novos mananciais, formas de economizar os recursos hídricos. Um bom exemplo de sistema inteligente é o utilizado na cidade de South Bend, no estado de Indiana, nos Estados Unidos. A cidade com cerca de 500 mil habitantes contava com um sistema de captação e tratamento de água antigo e sofria com diversos casos de quebra e vazamento dos canos.
Energia
Lixo
Segurança
Um dos maiores desafios das metrópoles, principalmente de países em desenvolvimento, é a mobilidade urbana. O crescimento repentino da população nesses locais por muitas vezes dificulta a construção de novas vias para o deslocamento, acarretando em trânsitos pesados e, consequentemente, prejuízos econômicos e queda na qualidade de vida. A adoção de transportes públicos de qualidade costuma ser a solução apresentada por diversas metrópoles. Em Londres, por exemplo, para circular de automóvel em regiões centrais é preciso pagar taxas altas. Em contrapartida, há um sistema de bilhete único que permite o uso de trens, ônibus e metrôs que interligam bairros da cidade inteira. Já em Singapura, um sistema implantado permite a previsão de congestionamentos, possível por meio de sensores que detectam a quantidade de veículos trafegando em determinadas regiões. Eles ativam dispositivos eletrônicos capazes, por exemplo, de alterar o tempo dos sinais, e evitando que o trânsito pare.
Transparência
Um dos primeiros passos para que uma cidade se torne mais inteligente, segundo o diretor de cidades inteligentes da IBM, Antônio Carlos Dias, é a boa comunicação entre governo e população. Nesse aspecto, a cidade espanhola de Santander é um exemplo global. Na localidade, os cidadãos têm acesso a informações sobre a poluição do ar, serviço de coleta de lixo, dados do trânsito e da iluminação pública. Dessa forma, podem se organizar e cobrar melhorias em regiões específicas. Para que isso se tornasse uma realidade, foram instalados cerca de 12 mil sensores por toda a cidade, responsáveis pela captação dos dados, que são processados e divulgados pela prefeitura local. Um aplicativo oferece dados sobre trânsito, clima, poluição do ar, coleta de lixo, transportes, iluminação pública, entre outros serviços.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
. Antônio Carlos Dias
. diretor de Cidades Inteligentes da IBM
Qual o conceito de cidade inteligente?
Qual a maior dificuldade em implementar projetos inteligentes nas cidades?
Elas dispõem de vários mecanismos econômicos para desenvolver soluções tecnológicas. O maior problema hoje está em realmente conceber os projetos, uma vez que cada metrópole apresenta desafios únicos. O que fazemos para superar esse problema é contar com uma equipe especializada grande e global, capaz de sugerir soluções que possam ser adaptadas ou implementadas em outro local.
Além dos projetos desenvolvidos para o governo, há ferramentas tecnológicas para que o cidadão faça parte dessa mudança para uma cidade mais inteligente?
Claro. Há, hoje, a ideia do cidadão-gestor, uma vez que, com dispositivos como smartphones e ferramentas como aplicativos e redes sociais, a população pode informar os problemas, criar um canal de comunicação com os governantes e até mesmo elaborar ou sugerir soluções. Em contrapartida, uma característica presente nas cidades mais inteligentes é a transparência do governo. Há uma demanda muito grande para que dados como gastos, horários de transporte, entre outros, sejam disponibilizados em tempo real e de forma pública. Isso é fundamental.