Jornal Estado de Minas

AMOR REAL OU IMAGINÁRIO

Casamento com personagem mostra que amor entre homem e máquina não é impossível

Shirley Pacelli
Solidão do personagem Theodore acaba com o download de Samantha, sistema operacional do PC pelo qual ele se apaixona e leva para passear - Foto: Sony Pictures/divulgação
“Você é sociável ou antissocial? Como descreve a sua relação com a mãe? Obrigado. Espere até o seu sistema operacional ser iniciado.” Depois das perguntas pontuais, vem o “olá” da voz sedutora de Samantha vivida por Scarlett Johansson. Em pleno processo de divórcio e abatido pela solidão, Theodore (Joaquin Phoenix), protagonista do filme Her (2013), se vê aos poucos encantado pela agradável companhia de seu sistema operacional à la Siri (assistente de voz do iOS) – com inteligência artificial avançada. A relação de amor do homem com a máquina é o mote do filme ganhador do Oscar e Globo de Ouro de melhor argumento original deste ano – em cartaz nos cinemas brasileiros.


Em um futuro imaginário, onde a nova moda é andar com as calças “lá no pescoço”, o comando de voz deixa de ser um simples recurso de inovação dos celulares para se transformar na principal ferramenta de controle das tarefas cotidianas dos indivíduos. No trabalho, Theodore dita cartas poéticas – impressionantemente belas – para o seu computador. A máquina escreve tudo com a letra do cliente. Deletar, corrigir, ligar: basta dizer as palavrinhas mágicas e pronto.

Com um ponto no ouvido, insone e na escuridão antes de dormir, Theodore busca por um chat e faz sexo virtual com uma desconhecida. O videogame é comandado por gestos, como no Kinect, e o personagem de um dos títulos ganha vida em uma projeção, conversando e aborrecendo o protagonista.



Do game para o altar: Nene Anegasaki foi noiva em cerimônia oficial com japonês - Foto: A ligação entre Theodore e Samantha é tão pura e delicada que o espectador se esquece que ela é só um sistema em um computador e passa a torcer pela união. Eles se divertem – praticamente – como um casal normal. Em um passeio no parque, Samantha brinca de guiá-lo de olhos fechados pelo local, por meio das imagens captadas por um dispositivo no bolso de Theodore. Piqueniques entre casais e até as famosas DRs (discussões de relação) fazem parte da vida da dupla. Atenção, lá vem spoiler...

Tudo é tão bonito, acompanhado de uma trilha sonora especial da banda Arcade fire, que o espectador sofre – e muito – com o desfecho. Afinal, as tecnologias, assim como os homens, não são eternas. O filme dá um nó no juízo do que é a realidade para você.

Já é real

A relação afetuosa entre  homem e máquina não é só história de filme. Em 2009, um japonês conhecido apenas como "Sal9000" casou-se com Nene Anegasaki, personagem do seu Nintendo DS. Teve até cerimônia oficial, com presença da família. No Japão, joguinhos date sims (simuladores de encontros) são sucesso. Um desses títulos – Love plus – virou febre em meados de 1999, quando foi lançado. O protagonista, no caso o jogador, é um estudante que escolhe uma entre três garotas para ser a sua namorada.

O enredo permite sair com a jovem e até ter relação sexual – fictícia, é claro. Para quem não acredita nessa bizarra história, o vídeo (https://bit.ly/1doCd77) do casamento de Anegasaki circula na rede.

 

 

Um pé no amanhã

Quer saber como outras produções recentes têm projetado o futuro da humanidade? Confira dois filmes selecionados pelo Informátic@:

 


Robocop (2014)


- Foto: Sony Pictures/divulgação

A história do policial Alex Murphy é um clássico de 1987 que foi relançado neste ano com direção do brasileiro José Padilha. No enredo, o protagonista interpretado sofre um atentado por um grupo de criminosos, e a empresa Omni Consumer Products (OCP) o traz de volta como um ciborgue – o nosso Robocop. Com a sociedade norte-americana de 2028 como cenário, a nova versão retrata bastante recursos tecnológicos, como já era previsto.

A produção se inicia com o consagrado ator Samuel L. Jackson, como Patrick "Pat" Novak, comandando o programa The novak element ao vivo em fervorosa defesa do uso de robôs como sistema de segurança. Ele faz um chat com um general por meio de um telão projetado. A tecnologia permite que ele marque pontos na imagem e arraste itens apenas com os movimentos das mãos no ar. Enquanto isso, a produção comanda câmeras, áudio e transmissão em mesas touchscreen. Lembra do Minority report (2002)?

Mãos robóticas, implantadas em pessoas que foram mutiladas, têm uma precisão de movimentos incrível.

Os celulares, videogames e outros gadgets têm tela extremamente fina e transparente.

Contudo, os holofotes tecnológicos se voltam mesmo é para o Robocop. Se a manutenção do corpo – metade humano, metade robô – já é uma visão de avanço da ciência, os recursos disponíveis em seu cérebro representam a cereja do bolo. Com apenas uma transferência de todo o arquivo da polícia de Detroit para o seu cérebro, Murphy consegue relacionar as pessoas que vê às suas fichas criminais. Fora isso, ele captura imagens de câmeras de segurança de diferentes partes da cidade e por geolocalização identifica onde está a pessoa. Pense em um Google Glass muito evoluído... A prática pode ser absurdamente incrível para a segurança ou para a invasão de privacidade. Cabe uma reflexão, nesse caso.


Elysium (2013)


- Foto: Sony Pictures/divulgação

As diferenças sociais já existentes em 2014 tornam-se ainda mais visíveis no ano de 2154, de acordo com a produção do diretor sul-africano Neill Blomkamp. Elysium é um mundo distinto, reservado às pessoas privilegiadas. Para se chegar até lá só com nave, permissão e sangue azul. Enquanto isso, robôs policiais tomam conta da massa miserável na Terra. Só de se aproximar das pessoas, essas criaturas obtêm todas as informações sobre o cidadão. Cada morador tem um chip de identificação sob a pele. “Análise de batimento cardíaco elevado. Quer uma pílula?”, questiona uma máquina, que se faz de agente da condicional, ao protagonista Max (Matt Damon).

Na fábrica, onde os trabalhadores são praticamente escravos, o chefe confere tudo do alto de sua sala com parede de vidro. Nela se apresenta um painel com informações instântaneas de produtividade, além de servir como meio para um vídeochat. A tecnologia vestível também está presente. O relógio da secretária de defesa de Elysium, Jessica Delacourt (Jodie Foster), emite alertas que são imediatamente atendidos por um ponto no ouvido.

Uma das tecnologias mais incríveis e sonhada pelo ser humano, que ganhou forma no filme, é a máquina de reconstrução do corpo. Basta a pessoa se deitar sob uma espécie de maca, que a super engenhoca identifica os problemas, de fraturas a leucemia, e o cura. Mas a novidade curiosa e surreal do filme é a possibilidade de exportar dados de um cérebro para outro e ainda criptografá-los. Max rouba os dados do criador do sistema que rege toda a Elysium para tentar reiniciá-lo à favor dos moradores da Terra. Para se ter uma ideia, até o espaço aéreo terrestre só fica “on-line” por comando do mundo dos abastados. Os atores brasileiros Alice Braga e Wagner Moura tem papel de destaque na produção.


OS 3%2b
As mentes criativas dos cineastas estão sempre inventando moda quando o assunto é futuro. Quais criações já viraram realidade e o quê está longe disso? Confira:

Previsões acertadas
Óculos McFly
Em De volta para o futuro 2 (1989), a família McyFly usa um óculos tecnológico à la Google Glass em um jantar.

Ninguém no volante
Carros que dirigem sozinhos já faziam parte do enredo de O vingador do futuro (1990). O Google desenvolve esse tipo de tecnologia atualmente.

Skype do Kubrick
Em 2001 - Uma odisseia no espaço (1968), Stanley Kubrick mostrava o seu videofone, conceito muito similar ao Skype.


Bola fora
Bolsa infinita
Bem que a mulherada iria gostar, mas ainda não foi criada uma bolsa como a da babá do filme Mary Poppins (1964), onde milagrosamente cabe tudo: de cama a espelho.

Skate voador
Um vídeo com Tony Hawk, um dos maiores skatistas da história, usando um skate voador, tal qual no filme De volta para o futuro 2, circulou pela rede e deixou muita gente com falsas esperanças. Tudo não passava de uma campanha de marketing.

Controle Click
E se você pudesse pular aquela aula chata de química e adiantar os dias até chegar o fim de semana? O controle em Click (2006) fazia isso e muito mais. Pena que ainda não o inventaram.

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