Jornal Estado de Minas

Hambúrguer de célula-tronco é saboreado em Londres

Jorge Macedo - especial para o EM

Londres – O primeiro hambúrguer de carne fabricada em laboratório, a partir de células-tronco bovinas, pesa 142 gramas, custa 250 mil euros (mais de R$ 760 mil) e foi servido e saboreado ontem, em Londres. Os criadores da carne apelidada de "Frankenburger" pela imprensa (uma referência ao monstro Frankenstein) esperam que a invenção revolucione a indústria alimentícia, já que alegam que esta pode ser uma estratégia para garantir a sustentabilidade na produção de carnes.
A pesquisadora australiana especializada em alimentos Hanni Rutzley e o jornalista gastronômico americano Josh Schonwald foram convidados para provar o experimento diante da curiosidade de 200 jornalistas em um estúdio de TV decorado como um programa de culinária.
O pedaço de carne de 142 gramas foi preparado por um chef de cozinha britânico com óleo de girassol e manteiga, tendo sido servido em um prato com pão, alface e tomate. Os convidados, que ingeriram apenas um terço do hambúrguer, concordaram que a consistência era muito semelhante à da carne, sem valorizarem o sabor abertamente. “Parece com carne”, disse Hanni, acrescentando que “não é tão suculenta, mas a consistência é perfeita”. Shonwald disse “sentir falta da gordura”, mas disse que a mordida foi como a de um hambúrguer regular.
O criador do experimento, o cientista neozelandês Mark Post, da Universidade de Maastricht, destacou que o objetivo da apresentação era “mostrar que podíamos fazer isso, que a tecnologia existe. Mas, para melhorá-la, precisaremos, provavelmente, de 10 a 20 anos, para que o produto chegue ao supermercado”, admitiu. Post e sua equipe passaram seis semanas fazendo o hambúrguer a partir de 20 mil pequenas amostras de carne cultivada em laboratório. Os pesquisadores acrescentaram pão ralado, sal e pó de ovo, além de suco de beterraba e enxofre para ajudar na cor. Para eles, a produção de carne in vitro vai atender à crescente demanda pelo produto no mundo, especialmente nos países emergentes, garantindo o bem-estar dos animais sem provocar estragos ao meio ambiente.
De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), a produção mundial de carne vai duplicar em 50 anos, de 229 milhões de toneladas em 1999-2000 para 465 milhões de toneladas em 2050, com a consequente pressão sobre os recursos naturais. A produção de carne em laboratório, técnica estudada por centenas de pessoas ao redor do mundo, especialmente na Holanda e nos Estados Unidos, ainda está em “sua infância”. “No futuro, talvez possamos reproduzir todos os cortes de um animal, mas ainda estamos longe disso”, explicou Post.