Jornal Estado de Minas

Escolas têm infraestrutura, mas não ensinam ética nem comportamento seguro na web

Shirley Pacelli

Em suas andanças por escolas dando palestras, Patricia Peck Pinheiro, advogada especialista em direito digital e fundadora do Movimento Família Mais Segura na Internet, já ouviu muitos casos intrigantes. Certa vez, adolescentes contaram que há pessoas que instalam remotamente um software que liga a webcam de um computador sem o dono perceber. Outro dia, uma garotinha de oito anos ficou surpresa ao descobrir que é proibido por lei baixar músicas e filmes, gratuitamente, protegidos por direitos autorais.



Motivada pela carência de orientação das crianças e adolescentes em relação ao uso ético e seguro da internet, a advogada idealizou a pesquisa Panorama da Educação Digital no Brasil . O estudo foi feito em 1 mil escolas, entre públicas e privadas, em 21 estados brasileiros. As instituições ouvidas oferecem desde a educação infantil até o ensino técnico e profissionalizante. Cada uma delas respondeu a um questionário com 46 perguntas, entre os meses de julho e setembro de 2012.

São Paulo foi o estado com maior número de escolas ouvidas (56%), seguido por Rio Grande do Sul (8%) e Minas Gerais (7%). No estado mineiro, participaram instituições de ensino de Belo Horizonte, Sabará, São João del-Rei, Itajubá, Itaúna e Passos. Os dados não foram estratificados por estado.

Patrícia Peck destaca o papel das escolas e dos pais na formação da consciência digital (foto: Adriana Elias)
Segundo o levantamento, apesar de 96% das escolas pesquisadas no Brasil contarem com computador e acesso à internet, cerca de 55% não têm aulas sobre Educação em cidadania, ética e segurança digital. O panorama levou em conta quatro indicadores na avaliação: infraestrutura, governança (em quais canais a escola está on-line), processo pedagógico (relação da disciplina com a tecnologia) e a orientação dos pais. O plano é fazer a pesquisa anualmente e mostrar ao Ministério da Educação (MEC) como é necessário implementar uma disciplina de educação digital nas instituições de ensino. “A gente vive em uma era de exposição muito grande. Tem um terremoto e os jovens fazem comentários inadequados achando que é normal. A liberdade de expressão acaba virando ofensa”, destaca Patricia Peck.



Apesar da discussão que hoje se faz no Brasil e da maior conscientização nas escolas, a especialista se surpreendeu por haver cyberbullying nas escolas. Patrícia acredita que o caminho mais eficaz é sempre educativo e não proibitivo. “Você controla em casa, mas não no vizinho”, lembra. Para a advogada, a iniciação em redes sociais, como o Facebook, deve ser feita pelos pais e é importante que a família leia o termo de uso junto com os jovens.

A rede de Zuckerberg só permite a criação da conta a partir dos 13 anos. Se o filho menor insiste em ter um perfil, o ideal é criar um cadastro com os dados dos pais e fazer uma espécie de teste de maturidade com a criança. “Se o pai sabe que não tem tempo para acompanhar os passos do filho na rede, é melhor não criar a conta”, alerta.

Patricia Peck explica que, felizmente, os mais jovens hoje estão conscientes em relação à publicação de fotos on-line, principalmente depois do escândalo das imagens de Carolina Dieckmann que vazaram na rede no ano passado. Mas se descuidam com os comentários de rotina: contam que estão em casa sozinhos, que os pais viajaram ou que a família vai fazer um passeio na Disney. Além disso, distribuem check-ins por toda parte. Isso atrai a atenção de pessoas mal-intencionadas. A advogada acredita que se um trabalho for implantado nas escolas para orientação quanto ao uso das novas tecnologias, há chances de garantir a formação de indivíduos “digitalmente” corretos e evitar o crescimento dos crimes virtuais.



CIDADANIA DIGITAL
Lançado em outubro de 2009, o movimento foi idealizado por Patricia Peck Pinheiro e recebe o apoio da Associação Brasileira de Anunciantes. O projeto visa à capacitação e proteção da família com relação ao uso ético, seguro e legal da internet e dos novos recursos tecnológicos. Para estimular a adesão do público, foram criadas ferramentas como um site, cartilha ilustrada com orientações sobre comportamento na web, um selo que atesta o comprometimento de empresas e instituições com a iniciativa, além de palestras em escolas.

criancamaissegura.com.br

PAIS E PROFESSORES:
Façam o teste!

Confira lista de indicadores para que você possa medir se conhece quem é seu filho ou seu aluno digital:

1) Você sabe o que seu filho e/ou aluno faz diante do computador?
2) Você sabe como seu filho e/ou aluno consegue “mexer” no computador?
3) Você sabe se seu filho e/ou aluno tem perfis em redes sociais?
4) Você sabe se seu filho e/ou aluno tem amigos virtuais e se comunica com eles?
5) Você sabe o que é “sexting?” Será que seu filho e/ou aluno sabe usar a câmera do telefone celular adequadamente, de forma ética, sem gerar danos às outras pessoas?
6) Você sabe se seu filho e/ou aluno tem fotos em poses sensuais ou íntimas publicadas na internet?
7) Você autoriza seu filho a manter o computador em seu próprio quarto ou o deixa em um local mais público da casa, de livre circulação?
8) Você controla o tempo que seu filho passa realizando atividades no computador?
9) Você já pesquisou sobre a vida digital de seu filho e/ou aluno? E a sua própria, buscando por seu nome ou imagem?
10) Você sabe se seu filho e/ou aluno está copiando trabalhos existentes na internet para apresentá-los como se fosse dele em seu colégio?
11) Você sabe que tipo de informação seu filho e/ou aluno armazena dentro do computador?
12) Você sabe se seu filho e/ou aluno frequenta lan houses para justamente se ver livre de qualquer monitoramento por parte dos pais e/ ou professores?

Fonte: Cartilha orientativa – Recomendações e dicas para a família sobre o uso correto das novas tecnologias. Produzida pelo Movimento Família Mais Segura na Internet

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