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Estado de Minas

Roupa promete curar dores no corpo

Instituto de tecnologia em São Paulo desenvolve materiais que, incorporados à fibra dos tecidos, passam a ter efeito analgésico sobre pontos de dor do corpo humano


postado em 23/02/2013 09:59 / atualizado em 23/02/2013 10:06

(foto: ARTE EM)
(foto: ARTE EM)
A dor faz parte da vida. Funciona até como um mecanismo de proteção. Ao encostar numa panela quente, por exemplo, é graças à dor que a reação é rápida, nos levando a afastar do calor. Isso faz com que os danos causados à pele sejam minimizados. Mas a dor é sempre vista como algo ruim. Todos que convivem com ela, de alguma forma, querem vê-la desaparecer. Há no mercado uma infinidade de medicamentos para atuar no sistema nervoso ou localmente para aliviar o que nos incomoda, mas a inovação, aliada à ciência, chegou também às roupas e vestimentas. No Brasil, uma experiência iniciada em São Paulo indica que as pesquisas na área de engenharia de materiais é para lá de promissora.

Depois de anos de investigação, a Invel desenvolveu um composto formado por uma mistura controlada de minerais como alumina, sílica e magnésia, entre outros, e substâncias cerâmicas. Batizado de MIG3, também pode ser chamado de mineral inorgânico, biocerâmica ou ainda composto cerâmico. O MIG é um composto ativo e não um princípio ativo. E o motivo é simples: ele não é uma substância única, mas, sim, resultado de uma mistura entre várias substâncias.

Conforme explica o presidente da Invel, Mário Hirata, a ideia surgiu depois que os cientistas descobriram o efeito cerâmico (veja quadro). “O corpo humano emite uma luz invisível, equivalente à de uma lâmpada de 100W. É o nosso infravermelho, o que as câmeras térmicas captam. Cientistas japoneses descobriram que essa luz é considerada vital para o organismo e ocorre graças à homeostase, que é o processo contínuo do corpo tentando equilibrar sua temperatura interna. Eles descobriram também que essa luz pode ser refletida de volta ao corpo humano por um composto inorgânico cerâmico. Daí surgiu a ideia de desenvolver esses tecidos”, esclarece.

O composto cerâmico inorgânico é a nomenclatura técnica que caracteriza a fórmula ativa desenvolvida pela Invel. Essa fórmula é feita com minerais encontrados na natureza e é a união desses compostos que formam o material cerâmico inorgânico. Esse cerâmico emite um raio infravermelho longo, ao mesmo tempo em que absorve e reemite o infravermelho que o corpo humano gera. A presença do composto cerâmico inorgânico no tecido é baseada no conceito de se obter máxima ação sem alterar o cotidiano do usuário.

“Esse composto cerâmico inorgânico é incorporado às fibras do tecido, que têm em sua composição poliamida e elastano. Elas passam, então, a ter capacidade de absorver calor e irradiá-lo na forma de ondas de infravermelho longo com comprimento na faixa de três a 14 microns, proporcionando o aumento da temperatura naquele local. Quando o corpo entra em contato com o tecido, a Biocerâmica MIG3 que está incorporada ao tecido passa a emitir a luz infravermelha longa e desencadeia uma reação bioquímica que tem propriedades de bioestimulação”, explica Hirata. Os efeitos observados, segundo ele, são a vasodilatação local (onde o produto está em contato com a pele). Como consequências desta reação são observados o relaxamento muscular, o auxilio na remoção de substâncias que causam dor e o aumento no suprimento de oxigênio e nutrientes.

“Usar o produto não leva à cura da enfermidade, porém, é um recurso auxiliar. O calor promovido pela radiação infravermelha longa atenua a dor, melhora o aspecto da pele e da celulite, ajuda na sensação de conforto e bem-estar”, promete Hirata. Com registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Invel desenvolveu uma variedade de produtos. Entre os mais populares está uma camiseta que é indicada como coadjuvante no tratamento da dor lombar e de fibromialgias, entre outras dores crônicas.

Estudo clínico testado por especialistas

O cientista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Manoel Jacobsen Teixeira conduziu um estudo clínico com o produto da Invel e ficou animado com os resultados. “Costumava ser cético com relação a esse tipo de produto, mas posso dizer que é seguro e eficaz. Passei a recomendar a pacientes”, diz. No estudo que avaliou a camiseta para lombalgias, o Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, coordenado pelo professor Manoel Jacobsen, realizou a pesquisa duplo cego (quando o pesquisador não sabe quem, entre voluntários ou cobaias, recebeu o medicamento, tratamento ou placebo a ser testado) e a randomizada (tipo de estudo experimental para confirmar a eficácia de tratamentos, no qual se formam dois grupos aleatoriamente para garantir características semelhantes; um grupo recebe a intervenção e o outro serve para comparar resultados).

O trabalho contou com 70 voluntários que usaram a peça por 14 dias, durante oito horas diárias, e os dados obtidos demonstraram a eficácia no tratamento complementar da lombalgia crônica, melhorando a dor em 45%, pois o calor superficial promovido pelo tecido da camiseta é resultado de um efeito fotoquímico. Ocorre devido ao aumento da perfusão tecidual promovida pelo calor, auxílio na remoção de substâncias que causam dor e aumento do suprimento de oxigênio local. “Não percebemos ou temos a sensação de calor. É a nível molecular. As ondas na faixa de três a 14 microns estimulam as moléculas de água e fazem o organismo produzir óxido nítrico, que é um vasodilatador. A melhoria na circulação melhora a oxigenação e contribui para a diminuição das dores e/ou inflamação”, detalha Mário Hirata.

O Grupo de Dor foi responsável também pela pesquisa duplo cego e randomizada com a Invel Actiive Glove, uma luva indicada para dores, que contou com a participação de 60 pacientes portadores da Síndrome Dolorosa Miofascial dos membros superiores. A luva foi usada por seis horas diárias, no mínimo, durante 28 dias. O estudo transcorreu por 56 dias – 28 dias com o produto, 28 dias sem o produto. Observou-se uma melhora significante e progressiva da dor muscular no cotovelo e punho ao longo do tempo de uso, que persistiu mesmo depois da descontinuação de uso. A porcentagem média da ausência de dor no punho foi de 55% no grupo que fez uso da luva.

De acordo com Carla Tapa, diretora geral da Invel, as luvas são para problemas como tendinite e lesão por esforço repetitivo (LER) nas mãos e punhos. “Nossas pesquisas são feitas em parceria com renomadas universidades. Podemos financiar a pesquisa, fazer a parceria para que a instituição ganhe os royalties ou fornecemos equipamentos de alta tecnologia em troca. Em geral, são de três a quatro anos de pesquisa para o desenvolvimento de um produto como esse. Mas o mais importante é ter certeza de que os resultados são confiáveis”, afirma. “Grávidas, pessoas com risco de trombose ou alergia à fibra de poliamida e elastano não devem usar os produtos. Fora essas questões, não há qualquer risco associado ao uso”, garante Carla.


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