Por pouco a educadora física Tamara Faleiro não foi vítima de infecção generalizada, principal causa de morte nas unidades de terapia intensiva (UTIs) do país. Com febre alta, calafrios e muita dor na região da pélvis, Tamara, em 2009, foi internada às pressas em um hospital de Belo Horizonte e, depois dos exames de sangue e urina, a equipe médica lhe deu o diagnóstico: infecção urinária (IU). “Sempre foi algo que achava que era fácil de curar. Mas, depois que passei por isso, descobri que o problema é algo mais sério”, conta. Em 2011, a educadora física foi internada novamente pelo mesmo problema e, desde então, está há um ano se tratando com antibióticos. “Já tentei tirar o remédio, mas logo comecei a ter os mesmos sintomas”, lamenta.
O caso de Tamara não é raro, tampouco distante da realidade feminina. A infecção no trato urinário é a mais comum no ser humano, tendo como principal vítima as mulheres. A Associação Americana de Urologia estima que metade da população feminina sofra, ao menos uma vez na vida, desse mal.
De acordo com ele, caso a paciente esteja passando por um momento de baixa resistência, o mal pode evoluir para uma doença renal crônica, que o levará a fazer sessões de hemodiálise. “Essa é uma doença muitíssimo comum, mas pode ser extremamente grave”, alerta.
No mesmo tom, o urologista João Carlos Guedes da Silva destaca que a IU é a segunda causa que leva à infecção generalizada, perdendo apenas para a pneumonia. “Ela é mais comum nas mulheres, porque o canal vaginal e o ânus estão muito próximos. E a infecção é causada por bactérias que migram do intestino grosso para o canal da vagina, sendo que em 90% dos casos a mais comum é a Escherichia coli. Esses micro-organismos da flora intestinal têm capacidade de reprodução imensa: se multiplicam a cada 10 minutos. Para ter uma ideia, acredita-se que 50% do peso desidratado das fezes humanas sejam de corpos bacterianos”, avisa João, esclarecendo que a migração dessas vilãs para a uretra da mulher tem muitos fatores.
Um deles é o desequilíbrio da flora intestinal. “O ideal é a pessoa evacuar uma vez a cada 24 horas. Se isso não ocorre, a quantidade dessas bactérias fica alta no intestino e elas começam a migrar para fora do ambiente, buscando um lugar ácido, úmido e escuro.
A infecção urinária pode ser ocasionada também pelo famoso “segurar o xixi”. João Carlos explica que com o alto ritmo de proliferação das bactérias, uma vez que elas entram na bexiga e ficam ali por muito tempo, provocam a infecção. “O ideal é que mulher urine a cada duas horas, mas para isso precisa estar hidratada, bebendo muito líquido. A recomendação é tomar um copo de água por hora”, aconselha. A prevenção, segundo lembra o nefrologista José Augusto Menezes, funciona como uma grande aliada.
Tratamento
As pessoas, diante dos primeiros sintomas da doença, usam analgésicos como forma de se tratar. “Eles servem para aliviar os sintomas, não para tratar. Vai passar a dor, mas o problema continua”, alerta José Augusto Menezes. Segundo destaca o urologista José Eduardo Távora, há 10 anos, Belo Horizonte tinha o maior índice do país de automedicação para infecção urinária. “Hoje, com a retenção da receita para antibióticos, isso felizmente mudou.” Postergar o tratamento, de acordo com João Carlos, é dar chance à bactéria de migrar para os rins.
O antibiótico é, geralmente, a forma mais usada de tratar o problema, mas, segundo Menezes, se a mulher tem mais de três episódios da doença por ano, uma terapia tem sido usada. “Trata-se de um tratamento para aumentar a resistência à bactéria Escherichia coli”, revela.
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