De acordo com a doutora Sílvia di Santi, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP), o grande avanço da pesquisa está na identificação de dois locus (local do cromossomo onde está determinado gene) que ainda não haviam sido descritos e que estão associados à malária grave. “Um deles foi identificado no cromossomo 1, no gene ATP2B4, que tem papel na bomba de cálcio dos glóbulos vermelhos, onde parasita se hospeda”. Di Santi explica que as concentrações de cálcio podem afetar o desenvolvimento do parasita, podendo interferir também na ativação de plaquetas e de células endoteliais. Enquanto as primeiras estimulam a morte do parasita, as segundas são importantes na aderência do glóbulo vermelho parasitado aos capilares.
“O Plasmodium falciparum tem um mecanismo chamado citoaderência, a hemácia parasitada adere ao endotélio dos capilares profundos de diversos órgãos. Esse sistema pode causar oclusão dos vasos, dificultando a passagem do sangue, e pode levar até mesmo ao coma”, explica Di Santi. Já o segundo locus foi indicado no cromossomo 16, possivelmente ligado ao gene que codifica a proteína Marvel, expressa em células endoteliais, relacionada, portanto, ao dano vascular causado pela aderência do glóbulo vermelho parasitado ao endotélio dos capilares sanguíneos.
Apesar dos avanços, a pesquisadora reforça que ainda é preciso reproduzir o estudo com outras populações para confirmar os resultados. “Existe um caminho enorme entre as descobertas científicas e sua aplicação. Ainda mais quando se trata de doenças que afetam, principalmente, populações pobres, como é o caso da malária”.