“Durante um intervalo idêntico de tempo, mais ou menos informações podem ser estocadas, e isso terá influência na nossa percepção”, diz. Quando se pede para alguém resolver um problema difícil de aritmética, como uma multiplicação complexa, mais dados serão processados e armazenados do que durante uma operação simples, como a adição. “Mais tarde, se perguntarmos à pessoa que fez as contas qual das duas parece ter tomado mais tempo, mesmo quando foram resolvidas exatamente no mesmo intervalo, ela vai eleger a multiplicação”, afirma Zakay, baseado em testes que simularam situações semelhantes.
O psicólogo conta que um desses estudos sobre o que ele chama de tempo retrospectivo consistiu em mostrar aos participantes duas figuras: um círculo (simples) e um polígono irregular (complexo). Depois, os voluntários tinham de estimar o tempo de exposição aos objetos, que, sem que soubessem, tinha sido idêntico. “Os participantes expostos à figura simples acreditaram que passaram um tempo muito menor diante delas comparando-se com os que viram o polígono complexo”, diz. Como, no primeiro caso, o nível de informação estocado na memória foi bem mais baixo, a impressão foi de que o tempo passou mais rápido.
Atenção
A coisa muda quando se trata de experimentar o tempo no presente. Nesse caso, quanto mais informações precisam ser processadas, mais rápida a tarefa parecerá. Outro experimento citado por Zakay consiste em recrutar três pessoas para fazerem contas matemáticas no mesmo intervalo de tempo. A primeira tem de executar um cálculo simples, a segunda resolve um problema complexo e a terceira não faz nada.
“Antes de a experiência começar, dizemos aos três que precisam estimar, da maneira mais precisa possível, o tempo que estão gastando. O que acontecerá? Diversos testes similares, usando diferentes tipos de atividades mentais, indicam que a pessoa que não fez nada pensará que se passou muito mais tempo. Já a que ficou com o exercício complexo é a que julgará o intervalo mais curto”, conta o psicólogo. Nesse caso, é a atenção, e não o armazenamento de informações, que exerce o principal papel na percepção do tempo. Ao saberem que terão de estimar os minutos ou as horas de uma tarefa que ainda vão desempenhar, as pessoas ficam atentas ao tempo, e isso terá influência na forma que a mente compreende a sua passagem.
O leite demora a ferver quando vigiado porque a atenção de quem acendeu o fogo está focada na leiteira. Assim como um terremoto parece ter durado muito mais tempo por quem o presencia, já que a vontade que passe logo é grande. “De forma similar, quando estamos esperando um amigo, aguardando que o sinal de trânsito abra ou que o operador de telemarketing nos atenda, nos focamos em quando isso vai acontecer. Há, portanto, uma alta relevância temporal”, diz Zakay. Por outro lado, em férias ou durante uma atividade prazerosa, o relógio é o último objeto a ser considerado. “Quando estamos descansando ou vendo um bom filme, podemos ter a impressão de que o tempo não está passando. Ma, se consultarmos as horas, ficaremos assustados ao ver quanto tempo se passou sem que tivéssemos percebido”, afirma o especialista.
Em vez de desejar mais ou menos tempo em suas vidas, as pessoas deveriam mudar sua percepção, diz o psicólogo Michael DeDono, que fez seu doutorado sobre este tema, na Universidade de Case Western Reserve, nos Estados Unidos. “Hoje em dia, uma das maiores reclamações que se ouvem é: ‘Não tenho tempo para nada’. O que afeta aqueles que se sentem assim não é o tempo propriamente dito, mas a percepção que eles têm sobre ele”, acredita. Em um dos estudos que realizou para a tese, DeDono dividiu 163 voluntários em dois grupos: o primeiro foi informado que o tempo para realizar a tarefa era insuficiente, enquanto, para o outro, o pesquisador afirmou que havia tempo de sobra. Na realidade, o intervalo para ambos era o mesmo, e todos sabiam quantas horas tinham para executar o trabalho.
O que importava não era o tempo real, mas a pressão exercida pelo pesquisador. De vez em quando, DeDono voltava a alertar o primeiro grupo de que o tempo era curto, ainda que o relógio mostrasse aos voluntários o contrário. Mesmo assim, o psicólogo percebeu que, quando dizia que eles não conseguiriam terminar a tarefa no prazo estipulado, o desempenho piorava muito. Por outro lado, o segundo grupo ouvia que o tempo era suficiente até quase o fim. Os ponteiros não intimidaram os participantes, que, ao serem informados que conseguiriam terminar o teste, se saíam muito bem. “Nós não controlamos o tempo, mas podemos controlar nossa própria percepção. É incrível o tanto que você pode fazer, mesmo com uma quantidade limitada de tempo, se você tem confiança de que é possível”, ensina.
Medo
“Eventos assustadores estão associados a memórias mais ricas e densas. Quanto mais recordações você tem de um fato, mais tempo você vai atribuir a ele”, explica Eagleman. “É por isso que parece que o tempo voa à medida que você cresce. Quando criança, tudo é novidade, então as experiências ficam bem marcadas e ricas. Mais velhos, já vimos de tudo um pouco, e as memórias que guardamos de fatos e eventos do dia a dia vão encolhendo. No fim do verão, a criança olha para trás e parece que aquela estação durou para sempre. Para os adultos, a impressão é de não ter durado quase nada.”