Algumas empresas vêm aderindo ao projeto, como a Gol Linhas Aéreas, que instalou seu centro de manutenção pesada às margens da Rodovia MG-010, em Confins, e a Embraer, que, dentro de seu programa de descentralização, conta com um escritório de engenharia no polo de tecnologia BHTec, recém-inaugurado na Pampulha, em BH, para o desenvolvimento de novos produtos.
O centro de manutenção da Gol é responsável pela manutenção mais complexa das aeronaves, que chegam a ser totalmente desmontadas, para que todos os comandos e detalhes do avião sejam analisados minuciosamente. Os técnicos têm aproximadamente 1.200 tarefas de manutenção a serem cumpridas periodicamente nos Boeings operados pela empresa, os 737 da nova geração. A frequência da inspeção pode variar de um a 12 anos. Quando o avião está sendo construído, o fabricante convida as operadoras para discutir a concepção dessas tarefas de manutenção, quando são avaliados todos os comandos e detalhes para seu perfeito funcionamento.
No caso da Gol, uma das inovações criadas no centro de manutenção mineiro foi desenvolver um sistema de sucção de partículas que escapam para o ambiente e são tratadas para reduzir a quase zero a contaminação externa durante a pintura das aeronaves.
Os engenheiros da empresa receberam no mês passado especialistas da Boeing para validar um método de troca de janelas das cabines de pilotos, desenvolvido no centro de manutenção de Lagoa Santa, que poderá ser adotado mundialmente pela fabricante norte-americana em seus modelos de aviões 737.
Funcionários que atuam no setor de tapeçaria, onde são confeccionadas as capas dos assentos e é feita a revisão de redes usadas no porão para proteger as cargas, desenvolveram uma mesa para manipular os carpetes, geralmente muito pesados. Eles também foram responsáveis por uma solução na oficina de fornos que só tinha reparo na Alemanha. A Gol já é autossuficiente em revisão de freios e espera alcançar esse mesmo patamar na revisão de rodas até o fim do ano.
Para o coordenador do curso de engenharia aeroespacial da UFMG, professor Ricardo Utsch, a movimentação nesse setor é promissora: “Nota-se que a expectativa de expansão do setor aéreo no país é até assustadora pela falta de infraestrutura. Em médio prazo, a expectativa de demanda é muito otimista, mesmo com o cenário de crise mundial. No Brasil, temos ascensão das classes C e D e o uso por elas desse tipo de transporte, que tem oferecido tarifas bem acessíveis”, diz.
Foco na formação de recursos humanos
O curso de engenharia aeroespacial da UFMG ainda não concluiu sua primeira turma: as aulas inaugurais foram no primeiro semestre de 2009 e a formação completa dura cinco anos. No entanto, desde 1977, o curso de engenharia mecânica ven dando ênfase aos estudos de tecnologia aeronáutica. “Nosso curso tem a preocupação de trabalhar no desenvolvimento de algum protótipo com participação plena de professores e alunos. Esse tipo de estrutura permite que o estudante tenha contato com a prática em comunicação com as empresas de desenvolvimento tecnológico”, explica o coordenador, Ricardo Utsch.
O perfil básico do engenheiro aeronáutico ou espacial, segundo Utsch, é a capacidade de adquirir conhecimentos a serem repassados em níveis de graduação e pós-graduação em diversas áreas. É interessante a um piloto ter conhecimento adicional sobre alguns sistemas, como aerodinâmica, estabilidade e controle. “Temos uma disciplina que coloca o aluno em contato com equipamentos aeroespaciais desde o primeiro período.”
Conforme explica o subcoordenador do curso, o professor Ricardo Poley, titular da cadeira de introdução à engenharia aeroespacial, esta é uma disciplina que, além de tratar sobre as classificações das aeronaves, entra em detalhes sobre os princípios aerodinâmicos que fazem a sustentação do aparelho, o que o torna capaz de voar, princípios de funcionamento de motores e alguns conceitos de engenharia espacial. “Ao fim do curso, o aluno estará apto a entender por que um foguete tem múltiplos estágios e consegue, nas duas engenharias, produzir estimativas, configurações, características de dimensões de uma aeronave e executar missões preestabelecidas.”
A escola dispõe de um centro de estudos aeronáuticos com oficinas e laboratórios que permitem o desenvolvimento, a construção e montagem de aeronaves. Esse curso tem recebido anualmente do programa Reuni, do governo federal, recursos para serem usados na ampliação de laboratórios próprios. No caso específico da engenharia aeroespacial, um ramo que vem despertando interesse é o da energia eólica. No que diz respeito às turbinas, há muito ainda a ser feito. Pesquisadores mineiros têm desenvolvido protótipos de plataforma de ensaios.
“Identificar a tecnologia não é fácil, temos pás fabricadas no Brasil, mas não saberia dizer até que ponto ela é totalmente nacional. Uma coisa é montar, outra é pesquisar partes e componentes. É preciso que o Brasil desenvolva internamente essa tecnologia”, diz Poley. A escola está fazendo estudos de turbinas de baixa potência, em parceria com colegas da engenharia eletroeletrônica.