Jornal Estado de Minas

Vilão ou mocinho?

Pesquisa questiona presença do óxido de zinco no protetor solar

Especialistas brasileiros não veem relação da substância com destruição de células no organismo

Celina Aquino
Ter o sol à disposição o ano inteiro é privilégio para poucos no mundo, mas quem vive em países tropicais sofre com uma preocupante realidade: a incidência de câncer de pele. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), este ano devem ser registrados no Brasil mais de 140 mil novos casos. Diante desse dado alarmante, o protetor solar se faz ainda mais necessário. Um pesquisador adverte, porém, que o produto contém uma substância que pode aumentar o risco de surgirem tumores malignos na pele, apesar de reconhecer que usar o creme é melhor do que não se proteger dos raios solares.
A substância apontada como vilã pela pesquisa da Universidade de Ciência e Tecnologia de Missouri, no Estados Unidos, divulgada na semana passada, é o óxido de zinco, comumente encontrado em protetores solares porque tem o poder de refletir a radiação ultravioleta. Com o estudo, o professor de química Yinfa Ma concluiu que a partícula, quando exposta à luz do sol, sofre reações químicas que podem liberar radicais livres, moléculas instáveis que destroem as células de proteção do organismo. Três horas de imersão em uma solução com óxido de zinco foram suficientes para matar metade das células de pulmão usadas no experimento. Depois de 12 horas, a porcentagem chegou a 90%.

Para a farmacêutica Lúcia Helena de Angelis, professora do Centro Universitário Newton Paiva, em Belo Horizonte, não há motivo para alarde. “Um único estudo não consegue comprovar nada, e o próprio autor deixa claro que será necessário fazer inúmeras pesquisas para se chegar a uma conclusão”, pontua. Outra crítica da especialista é em relação ao tipo de células usadas na pesquisa norte-americana. Ela esclarece que as células de pulmão são totalmente diferentes das células da pele, logo não dá para concluir que óxido de zinco tem o efeito destruidor em qualquer tipo de tecido. A farmacêutica questiona, ainda, se uma substância que não é absorvida pela pele consegue transformar a estrutura das células. “Como óxido de zinco é uma partícula sólida, não existe nenhuma possibilidade de ele penetrar na pele nem provocar câncer. Mesmo se formar radicais livres na superfície, não vai ocasionar nenhum problema”, garante.

O óxido de zinco é uma substância inorgânica e insolúvel, que em protetores solares é encontrada em minúsculas partes para potencializar a ação refletora da radiação ultravioleta e por esse motivo é classificada como nanopartícula. “É como se vários espelhos fossem depositados na pele e refletissem os raios que vão incidir na superfície”, explica Lúcia. A professora informa que o uso da substância é aprovado não apenas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas por órgãos reguladores de vários países, inclusive o norte-americano Food and Drug Administration (FDA).

Mesmo com o resultado da pesquisa de Yinfa Ma, ainda não dá para dizer que o óxido de zinco é maléfico para o corpo humano. Pelo contrário, diz a professora do Centro Universitário Newton Paiva. Lúcia cita um estudo francês, publicado em março, que avaliou a toxidade da nanopartícula a partir de inúmeros experimentos em pessoas e em laboratório realizados desde 1996. “Esse artigo fala exatamente o contrário. Os pesquisadores franceses concluíram que o óxido de zinco não é t