Jornal Estado de Minas

Compra de vestido de noiva pela rede está ficando popular

Internet vira importante canal para programar o casamento. E tudo fica bem mais barato

Shirley Pacelli
Valmária comprou sua roupa em um site chinês. Só experimentou o modelo quando chegou, mas, segundo ela, ficou perfeito - Foto: Euler JĂșnior/EM/D.A Press “Fui a uma festa de casamento e conversando com uma amiga vi que ela tinha comprado (...). Uma semana depois, fui a outra cerimônia e a noiva também tinha adquirido o seu da mesma forma. Aí não tive mais dúvidas em arriscar no meu também.” Todo o suspense do relato anterior é para dizer que a professora mineira Valmária Gomes Filgueira, de 29 anos, comprou o seu vestido de noiva pela internet. Sim: pela web, sem experimentar. A prática, apesar de causar um estranhamento à primeira vista, tem se tornado popular, nos últimos anos, entre as mulheres que procuram, além da exclusividade, descontos.
Apesar do apelo, Valmária não quis mostrar o traje para a reportagem. Afinal, o matrimônio ainda será em julho e dá azar o noivo ver antes, como diz a crença popular. Logo de cara, a professora encomendou dois vestidos. Um para ela e outro para a prima, que entrou no clima da aventura e resolveu comprar também. “Dividimos o frete e fizemos juntas as medidas e o pedido”, detalha. Ela conta que compra de tudo na internet: de roupas a livros, principalmente em páginas estrangeiras. “O carteiro já até deve me conhecer.”

Menos que aluguel
A mineira pesquisou em vários sites indicados pelas amigas, entre americanos e chineses. Não olhou nenhum modelo em lojas físicas, só na internet. “O primeiro vestido de noiva que vesti foi o meu. Isso é fantástico. Agradeço ao mundo virtual por ter me poupado mais um trabalho, que é o de experimentar aqueles vestidos enormes”, brinca. Ao final, acabou comprando o modelito no Superb Wedding Dresses, diretamente da China. Ela confessa que nem deu conta de olhar todos os vestidos disponíveis. “Um mais lindo do que outro e bem parecidos com os das lojas aqui no Brasil.”

As dúvidas quanto ao tecido foram resolvidas via chat. A maioria dos sites oferece a opção de conversa on-line, alguns com opções de outros idiomas, mas o inglês sempre prevalece. “Coloquei em uma planilha os links dos vestidos de que gostava e a descrição do tecido. Depois dessa etapa do trabalho, fui procurar pelos panos para tentar imaginar melhor o meu vestido”, explica Valmária, esclarecendo que pagou cerca de R$ 850 pelo produto. Ela comprou um dos vestidos mais caros do portal e, em terras tupiniquins, somente o aluguel já ficaria com valor mais alto.

O pagamento foi feito via Paypal, serviço que permite que você envie dinheiro a qualquer pessoa com e-mail. É preciso cadastrar o cartão de crédito (deve ser habilitado para compra internacional). O valor, normalmente, é cobrado na fatura seguinte, de forma integral. A conversão de moedas é feita no dia da compra. Valmária foi precavida com a encomenda. Pesquisou sobre a compra de vestidos na internet e, principalmente, acerca de reclamações sobre os sites em blogs especializados e nas redes sociais. Todo esse processo levou quase dois meses. Todo dia, ela lia um pouco sobre o assunto e só parou quando virou expert no tema e já encontrava conteúdo repetido.

“Li toda a política de troca e de envio do site escolhido e sempre entrava no chat para tirar dúvidas, pois queria testar se havia pessoas trabalhando na empresa. Mandava e-mail perguntando por algo e sempre obtive resposta rapidamente”, afirma. A noiva chegou a fazer um pedido de um bolero de renda antes para testar o serviço. “As pessoas foram tão atenciosas e estavam sempre de prontidão que confiei”, conta.

Em mãos
Apesar do medo, a encomenda chegou em menos de um mês, em perfeito estado, com as modificações sugeridas por Valmária. “Entrou no meu corpo como se tivesse feito a prova. Não tenho o que reclamar, foi até melhor do que esperava”, afirma. Mas a professora ressalva que tinha o “plano B” de alugar um vestido no Brasil, caso desse algo errado. Para se antever ao problema, ela fez a compra com oito meses de antecedência e, além disso, gravou todas as conversas do chat. “Fiz mais medidas do que o site sugeria, passei tudo por e-mail e pedi confirmação, obtive a resposta em menos de 12 horas”, acrescenta.

Todas essas medidas não impediram que Valmária quase tivesse um ataque quando, ao acompanhar seu pedido, descobriu que a compra não constava no site. Reclamou por bate-papo, colocaram o link e na outra semana ele havia sumido novamente. “Já tinha cansado de reclamar e pensei: seja o que Deus quiser! Vou relaxar e esperar. Esse pedido nunca apareceu mais na minha área restrita do portal, nem nos meus históricos de compras... Mas o vestido chegou, é o que importa”, conclui.

Priscila conta que as pessoas a chamavam de louca por encomendar a roupa pela web - Foto: Juan cogo fotografia/Arquivo PessoalCompensa, mas tem seus riscos
- E o vestido, já escolheu?
- Sim, pela internet.

Nada como uma resposta assim para despertar inúmeras interjeições dos parentes e acusações contra a insanidade mental da noiva em questão. Priscila Marçal Pereira, enfermeira belo-horizontina, de 29 anos, que hoje mora em Dubai (Emirados Árabes), respondia firme e tranquila à pergunta, mas por dentro estava em nervos. “As pessoas queriam me matar, me chamavam de louca, quase ninguém botava fé”, relembra.

Enfim, ela se casou com o vestido comprado pela rede em um site chinês, mas a sua história teve uma pitada a mais de emoção do que a de Valmária Filgueira. A enfermeira conta que acompanhava diariamente pela web onde o vestido estava. De Hong Kong para Londres e depois para Guarulhos. Em cinco dias ele já estava no Brasil. Aí começou a sua via-crúcis, porque o vestido ficou retido na Receita Federal. Com a demora, ela resolveu entrar em contato com a transportadora. Então, descobriu que a fabricante havia declarado o valor mínimo de US$ 50 para não haver a necessidade de pagar impostos.

 “Na época eu morava em São Paulo e coloquei a entrega para o endereço dos meus pais, em Belo Horizonte, para facilitar a logística e aumentar minha dor de cabeça”, detalha. Os agentes da Receita exigiram os comprovantes da compra e depois de enviados recalcularam a cobrança de impostos para US$ 400, mais a aplicação de uma multa. “Comprei o vestido por US$ 309. Após tudo isso, recebi o valor a ser pago para liberá-lo: R$ 1.391,17 ”, lamenta. Mesmo entrando em contato com a empresa e exigindo uma posição, pois eles haviam feito uma declaração falsa que a prejudicou, ela não conseguiu cancelar o pagamento da multa. “Ainda com a cobrança abusiva de impostos, saiu para mim quatro vezes mais barato que o mesmo vestido na loja do Brasil, que custava cerca de R$ 8 mil”, ressalta.

Apesar de todos esses problemas, Priscila recomenda a compra de vestidos de noivas pela internet e já passou o endereço do site para quatro pessoas que a procuraram. “Só precisa combinar com a empresa o valor real a ser declarado. E, claro, a noiva deve experimentar o modelo do vestido de que gostou em uma loja física”, ressalva a enfermeira, contando que anotou os modelos dos estilistas de que mais gostou e agendou visitas às lojas que tinham os vestidos originais. Além disso, ela leu toda a política de venda do site, condições de pagamento e entrega. “Também verifiquei os depoimentos que havia de outros clientes”, acrescenta.

#fikdica
Qualquer produto enviado ao Brasil precisa ser declarado e, se for acima de US$ 50, há cobrança de 60% em cima do valor do produto importado. Além disso, Minas Gerais cobra uma sobretaxa estadual.

Dicas de Valmária e Priscila
» Pedir para não fazerem a barra do vestido, para ajustá-la com o sapato. Para isso não peça um modelo com saia em renda.
» Pedir que o fecho seja igual a um espartilho e não com zíper, assim você poderá apertar ou deixar mais largo, de acordo com seu corpo na época do casamento.
» Comprar uma numeração acima, depois é só apertar com uma costureira de confiança.
» Peça uma foto do vestido pronto e exija o localizador para acompanhar a sua encomenda na transportadora.
» Utilize tabelas de conversão de medidas, como o www.convertworld.com.

Breno Koscky não duvida de mais nada a ser vendido pela internet. %u201CO mercado é uma loucura%u201D, afirma - Foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A PressÉ sempre bom ter cautela
Breno Koscky, 34 anos, especialista em e-commerce e criador do portal Mercado E-commerce (mercadoecommerce.com.br), diz não duvidar de mais nada que possa ser vendido pela internet. “O mercado é uma loucura”, brinca. Segundo ele, os clientes que compram vestidos de noivas on-line visam primeiro o preço. A maioria dos sites é da China, país com grande capacidade de reproduzir modelos da alta-costura e fabricá-los com baixo custo. “Tem gente se dando bem e mal. A noiva que optar por isso, deve fazer um planejamento. A encomenda vai demorar a chegar e pode não vir como ela pensou”, adverte.

Koscky acredita que esse mercado deve crescer, porque o valor do produto é bastante inferior ao encontrado nas lojas brasileiras. Segundo ele, há três anos a prática vem se tornando popular no Brasil. Nos Estados Unidos já é algo comum. “É mais vantajosa essa compra, mas tem gente que não está tomando os cuidados básicos, como assegurar a qualidade do produto, a reputação do vendedor e se o tamanho corresponde ao que ela está imaginando”, afirma.

O especialista diz que o primeiro passo ao decidir pela compra virtual é buscar referências. Feito isso, é preciso guardar arquivos que comprovam o pagamento do produto. Salve a tela com a foto e medidas do vestido para poder argumentar com a empresa se a encomenda vier errada. Outro ponto é pensar se compensa a economia. “A média de vestidos no exterior é de US$ 300. Mas ainda será preciso pagar uma costureira para ajustes, mais o valor do imposto de importação”, avisa. E, por fim, pensar no prazo de entrega. Leva-se um mês para fazer, mas pode atrasar de um a três com facilidade. “A noiva tem que ter um plano B, caso a compra não chegue”, recomenda.

Segundo Koscky, no ano passado o e-commerce no país movimentou R$ 18 bilhões e a expectativa é que cresça 25% em 2012. “Com o acesso fácil à informação, as pessoas estão perdendo o medo de negociações on-line. E os sites e sistemas de pagamento virtual garantem a segurança”, complementa. Para ele, o problema do mercado brasileiro é que muitas empresas cresceram demais, vendem muito, mas não têm estrutura suficiente para atender como deveriam. Isso, somado à logística deficiente do país, gera o alto índice de reclamação nas entregas.

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