De 21 de dezembro até hoje somam-se 190 postagens na página de Jonathan no Facebook, ainda ativa, com mensagens de carinho e lembranças de seus colegas e familiares. Como tinha conhecimento da doença que o acometia, durante toda a vida ele sempre compartilhou as senhas de redes sociais e serviços na internet com pessoas de confiança. Até mesmo o código de segurança do banco era de conhecimento de um amigo, o que facilitou à família na hora de resolver burocracias bancárias pós-óbito.
Reflexão em grupo
Reunidos na casa de Jonathan para uma entrevista ao Informátic@, seus amigos e parentes explicaram o quanto ele era ligado ao universo on-line. Fábio Nolasco, programador e companheiro da banda Atari One, conta que todo fim de semana a dupla ficava pendurada no PC, zoando no bate-papo, ainda nos tempos da internet discada. A namorada, Francielle Mucida Bratiliere, de 21, conheceu Jonathan por meio do Orkut, com a ajuda de amigos em comum. “A gente brigava por e-mail: casal moderno”, brinca Bratiliere, que estava há quase três anos ao lado dele.
A jovem tem acesso a todas as contas em redes sociais do ex e conta que algumas pessoas já a questionaram se não as removeria da web. “Não vou apagar. É uma forma de homenagem, os amigos postam mensagens, você se sente mais próxima da pessoa. Criei um outro perfil para mim no Face. O antigo vou deixar do jeito que estava. Vai ficar tudo lá, até o dia em que eu resolver apagar”, ressalta. Apesar de decidir não remover os perfis, Francielle lembra que no começo sempre estava fuçando a página de Jonathan e que costumava desabar em choro na frente ao PC. Além dos dados dele no site de Zuckerberg, Francielle tem acesso ao MSN, e-mail e senha do notebook.
Sobrevida
Na faculdade, o jovem passou pela fase da banca avaliadora, mas não pôde celebrar a colação de grau. Leonardo de Moura, de 26, colega de classe e parceiro de projeto de Jonathan, conta que o Facebook serviu como meio de divulgação da triste notícia, porque não havia como avisar todos da universidade. “Tinha hora que surgiam 20 janelinhas de chat de pessoas perguntando o que havia acontecido. Era incômodo. No começo eu não gostava muito de ver o perfil dele lá, porque toda vez que entrava no site a gente conversava. Ver a foto e ele não se manifestar era ruim”, conta.
Rebeca Talita de Rezende, de 24, também colega de sala e ainda vocalista de outra banda que Jonathan fazia parte, acha que postar mensagens no perfil dele é uma forma de desabafo, uma sobrevida, um meio de ainda estabelecer vínculo com o colega que se foi. O vizinho Rodrigo Pierre Benedito, de 21, complementa que, além de a rede social servir para homenagens, ela aproxima as pessoas que o conheciam e faz com que um vá dando força ao outro.
Ao contrário dos amigos, a madrinha Karla Cristina Gomes, de 34, não se sente bem ao entrar no Facebook do afilhado. Com lágrimas nos olhos, ela explica que a família lida de maneira diferente daqueles que o conheceram no decorrer da vida. “A gente viu ele nascer e sabia da doença. Ele não tinha receio de repassar as senhas porque já conhecia sua condição. Por causa da correria do dia a dia, nosso contato era muito pela internet. Incomoda entrar no site e ver lá o perfil dele”, resume.
Em lugar da foto sorridente, a imagem do laço negro. Posts com o escrito LUTO, assim, em caixa alta, são compartilhados junto à imagem de quem se foi, com o sentimento de saudades eternas. É assim, no universo virtual das redes sociais, que as pessoas externam o seu sofrimento pela perda de um ente querido. Se tudo hoje é compartilhado na web, do que se come a quem se namora, por que não se tornaria pública também a dor da morte?
Segundo Andrea Brunelli Donnard, de 51 anos, psicóloga com conhecimento em tanatologia (estudo da morte) e que atende pacientes oncológicos desde 2003, o luto já acompanha o paciente crônico, seja ele com câncer, vírus HIV ou uma doença degenerativa, desde o diagnóstico. “Lidamos com várias mortes na nossa vida, mas ainda temos muita dificuldade de falar no tema”, afirma. Para ela, existem correntes do bem dentro de sites sociais, como o Facebook e o blog. “É possível perceber que a espiritualidade está presente e que as pessoas acolhem famílias que perdem alguém. Quando a mãe escreve sobre o filho doente, ela não posta para se expor, mas para receber apoio”, detalha.
A psicóloga acredita que essas manifestações on-line começam a fazer parte de um novo ritual de passagem. Se antes a missa do sétimo dia era direcionada somente ao falecido, hoje cita-se seu nome durante a cerimônia. A viúva, há algum tempo, ficava um ano vestida de preto em sinal de luto. Outro ponto em discussão é o testamento vital, que ainda enfrenta barreiras no Brasil. Nele, a pessoa deixa claras algumas orientações caso perca sua lucidez mental. Decisões como autorizar ou não uma cirurgia de risco podem fazer parte do conteúdo. “O brasileiro é muito supersticioso, não gosta nem de falar sobre a morte e isso é importante”, comenta a psicóloga, explicando que e-mails e bate-papos virtuais poderiam servir como prova da vontade da pessoa que se foi.