
É certo que nas configurações de privacidade você pode ainda escolher o que deixar ativo e o que não. Mas descobrir onde e como não é tão intuitivo assim (veja o caminho das pedras na página 3). Para o perito especialista em crimes digitais, com MBA em gestão de tecnologia da informação e professor da pós-graduação em segurança da informação do Senac Antônio José Milagre, esse tráfego de dados que passa a vigorar viola o princípio da especialidade, no qual prevalece uma norma especial sobre a geral. “Não é aceitável que dados sejam transferidos para outras funções quando foram fornecidas especificamente para um serviço”, alega. “Com essa nova política, se entrei num serviço e faço pesquisa sobre sexualidade para fins acadêmicos, isso influenciará o Orkut, o YouTube e o Gmail, e ainda posso me deparar com vídeos com conteúdos sexuais e anúncios de sex shop”, exemplifica. “É uma situação de rastreabilidade completa. O Brasil precisa prestar muita atenção”, completa o perito.
Além disso, é necessário tomar cuidado com smartphones equipados com Android. Quando um e-mail ou um SMS são enviados, o Google pode reter essas mensagens. Daí, a empresa armazena as informações associadas a essas mensagens, como o número do telefone, o conteúdo e até a hora da transação. Milagre comenta outros pontos obscuros. “Não sabemos o que precisamente o Google coleta, por quanto tempo guarda e para quem vende”, afirma. “E se os seus dados caírem em mãos erradas? O pior dano é o uso impróprio deles”, completa.
Foi o que aconteceu com a estudante de psicologia Rafaela Clark, de 21 anos (foto). Ela teve o perfil em uma rede social invadido e os dados caíram nas mãos de pessoas estranhas. Diversas fotos foram roubadas. E ela ainda recebeu ameaças pela rede. A jovem acabou com os perfis, mas continua ressabiada, com receio de passar pela experiência novamente.