As plantas ancestrais ressuscitadas pelos russos têm algumas diferenças com relação à Silene stenophylla existente hoje, como o tamanho das pétalas e o sexo de suas flores. Essas ligeiras modificações já são, no entanto, marcas da evolução, segundo Luiz Eduardo Anelli, paleontólogo da Universidade de São Paulo (USP) e autor de Guia completo dos dinossauros brasileiros. “O mundo religioso tem, ainda, muitos problemas em aceitar a evolução – e seu principal argumento é de que não conseguimos vê-la operar. Mas ela funciona como o ponteiro das horas de um relógio: sua ação é tão lenta que sequer percebemos que ocorre, mas se olharmos com um intervalo suficiente vamos notá-la. A Silene stenophylla nos mostra as marcas do tempo e da seleção natural.”
O experimento foi recebido com otimismo pelo mundo científico, que nutriu, mais uma vez, as esperanças de recuperar espécies extintas. “Os cientistas concluíram que o gelo ancestral do Ártico funciona como um ‘museu de gelo do DNA’. Nós encontramos uma preservação similar com bactérias nessas placas, mas fazer brotar uma flor a partir de sementes congeladas por 30 mil anos é absolutamente fantástico”, comenta John Priscu, pesquisador da Universidade Estadual de Montana, nos Estados Unidos. “Quando nos dermos conta, estaremos ressuscitando dinossauros”, graceja.
Perspectivas
A brincadeira de Priscu não é, contudo, completamente infundada. Pelos, ossos e tecidos de mamutes (com até 50 mil anos) já foram encontrados no gelo do Ártico, com uma preservação surpreendente. Existem muitos cientistas que estão animados com a perspectiva de fazer por esses animais o mesmo que fizeram pela Silene stenoplylla, produzindo clones a partir de seu material genético. “Como os mamutes, há dezenas de outros animais extintos pelo homem moderno. Trazê-los de volta à vida seria uma ótima maneira de redimir os seres humanos”, defende Anelli.
Alguns, mais animados, já pretendem garantir o futuro, congelando seu entes queridos para os tempos em que a ressurreição for possível. É o caso da Sociedade Americana Cryonics, especializada na preservação de corpos de recém-falecidos. A expectativa é poder, um dia, fazer essas pessoas renascerem, talvez em um mundo talvez dominado por uma engenharia genética ultra-avançada, prédios flutuantes e transmissão de informações por pensamento.