Contar estrelas não é a função do CRTS, projeto de astrofísica que escaneia o céu atrás de objetos móveis. Na realidade, os cientistas buscam asteroides que se localizam perto da Terra e, por isso, poderiam se chocar contra o planeta. Para detectá-los, porém, é preciso varrer o universo e, dessa forma, além desses corpos rochosos, todo objeto que emite luz é flagrado pelo supertelescópio CSS Schmidt, localizado no Arizona.
O mapa do céu foi construído com base em 20 bilhões de dados capturados pelo telescópio. No CRTS, os cientistas analisam em computadores as fotos tiradas do céu. As máquinas comparam as imagens para não ter perigo de um mesmo objeto ser catalogado duas vezes. Entre os 200 milhões de corpos luminosos, o CSS encontrou supernovas, anãs-brancas, estrelas binárias e outras preciosidades.
“Esse é um exemplo de como uma linha de investigação pode ser útil para fornecer dados a outros campos de pesquisa”, diz Andrew Drake, principal autor do trabalho. Ele lembra que quanto mais se souber sobre as estrelas, mais respostas a ciência terá sobre a origem do universo – muitos desses corpos formaram-se logo após o big bang e contêm todo tipo de matéria encontrado nos planetas. “Os objetos luminosos também dão boas pistas sobre o que não podemos ver”, recorda Drake.
O astrônomo se refere a buracos negros e matéria escura. Nenhum dos dois pode ser visualizado, mas os cientistas sabem de sua existência devido à interferência da gravidade sobre estrelas e supernovas. Além disso, as pesquisas que levaram o Prêmio Nobel de Física do ano passado também são fruto da observação de corpos luminosos. Os astrofísicos Saul Perlmutter, Brian Schimdt e Adam Reiss foram contemplados por terem descoberto que o universo está em constante expansão. “Isso só foi possível graças às supernovas distantes”, recorda Drake.
Utilidade
Em um comunicado, Edward Beshore, principal investigador do programa de caça a asteroides do CRTS, disse estar empolgado com a possibilidade de novas descobertas acontecerem a partir dos dados coletados desde 2005. “Todas as noites, tiramos centenas de fotos para procurar por asteroides. Desde que começamos esse trabalho, nos perguntávamos se esses dados poderiam ser úteis para toda a comunidade astrônoma.”
As informações coletadas pelo projeto são acrescentadas na página do CRTS, e qualquer pessoa tem acesso a ela. “Contamos com a contribuição de todos que encontram novos objetos”, diz Stanislav George Djorgovski.
Os dados do mapa celeste podem ser acessados no endereço https://crts.caltech.edu, mas apenas astrônomos e astrofísicos conseguem interpretá-los. Para a frustração de quem pensa que o inventário de estrelas é um colorido atlas, o que se vê são apenas números. “Pode apostar, no entanto, que por trás desses números estão belíssimos objetos brilhantes”, garante Drake.