Brasília – Uma pesquisa feita na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e publicada recentemente na revista especializada Nature Geoscience traz novos dados sobre as emissões de gases poluentes ao explicar como os aerossóis alteram a formação das nuvens e, consequentemente, fazem com que tanto a seca quanto as chuvas fortes – que podem causar enchentes – se tornem ainda mais intensas.
“O estudo revela magnitudes sem precedentes dos impactos. Sob condições de muita poluição, a altura média das nuvens é duas vezes maior que a de ambientes limpos. E a probabilidade de ocorrerem precipitações fortes dobra, enquanto a chance de chuva leve é reduzida em 50%”, revela Li. Isso significa que uma alta concentração de partículas diminui a quantidade de chuvas, mas faz com que, quando ocorrem, surjam mais fortes (veja esquema ao lado).
Segundo ele, a parte mais complexa do trabalho foi separar, nos dados analisados, a influência de fatores meteorológicos dos efeitos dos aerossóis sobre o ambiente. “Para qualquer evento climático individual, o desenvolvimento de nuvens e chuva é dominante no sistema climático. Por isso, é extremamente difícil destacar os sinais das partículas nessas regiões.” Para eliminar outras explicações para mudanças climáticas, ele e sua equipe simularam os resultados fornecidos pelo centro de pesquisas U.S. Southern Great Plains, de Oklahoma, usando um modelo de nuvens computadorizado.
Importância
Para o especialista em poluição Augusto Brasil, coordenador de engenharia de energia da Universidade de Brasília (UnB), o estudo apresenta informações sobre os aerossóis que, até então, não haviam sido confirmadas. “Os pesquisadores identificaram grande impacto da poluição no balanço de recursos hídricos”, ressalta.
A especialista em química atmosférica Adriana Gioda, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), destaca a importância dos estudos sobre aerossóis, pois eles não influenciam apenas a formação das chuvas, mas também a visibilidade e a saúde da pessoa. “Além disso, essas partículas influenciam no balanço radiativo da Terra por espalhar e absorver a radiação solar”, diz Adriana. Segundo ela, esses efeitos influenciam no aquecimento e resfriamento do planeta.
O líder da pesquisa espera que a descoberta estimule políticas de redução da poluição: “Precisamos educar os indivíduos sobre a importância de manter o meio ambiente com qualidade, não apenas em benefício da saúde. Nosso estudo mostra a importância de mantermos o ambiente mais limpo para diminuir a ocorrência de eventos climáticos extremos que ainda não sabemos explicar bem como ocorrem”.
Entenda como a poluição atmosférica afeta a formação de nuvens e piora a seca e as inundações em todo o mundo
Os aerossóis são partículas sólidas ou líquidas emitidas na atmosfera. Podem ter como origem fontes naturais (poeira e fuligem de vulcões, por exemplo) ou atividades humanas (queima de combustíveis, fumaça das indústrias e gases emitidos por produtos como desodorantes e sprays)
Nas nuvens, os aerossóis funcionam como núcleos ao redor dos quais as gotas de água e as partículas de gelo se formam
Quando há excesso desses componentes, há muitos pontos de acúmulo de água. Consequentemente, as gotas formadas são menores, fazendo com que a quantidade de chuva no ambiente seja 50% menor do que se a atmosfera estivesse limpa
Além disso, a poluição faz com que as nuvens se formem em uma altura, em média, duas vezes maior. Assim, as pequenas gotas de água retidas nas nuvens poluídas congelam e formam cristais de gelo ou granizo mais facilmente
O resultado desse processo são chuvas em menos quantidade, porém mais fortes. Por isso, a poluição do ar pode tanto agravar secas quanto provocar inundações
As partículas também afetam a temperatura da superfície da Terra. Elas refletem a luz do Sol de volta para o espaço, reduzindo a radiação na superfície do planeta, ou absorvem essa radiação, aquecendo a atmosfera. Com essa ação, exercem influência sobre as alterações climáticas
Ao mudar a probabilidade e intensidade de chuvas em um sistema climático específico, os aerossóis podem afetar a previsão do tempo. Um meteorologista, portanto, precisa considerar a acumulação de aerossóis em cada local