Jornal Estado de Minas

FERTILIZAÇÃO IN VITRO

Mineiros pesquisam como o laser pode melhorar diagnósticos genéticos de embriões

Ludymilla Sá

- Foto: Os primos Maria e José (nomes fictícios) casaram-se há mais de 60 anos e tiveram oito filhos. Cinco deles nasceram com retinose pigmentar, uma doença genética caracterizada pela perda de visão noturna, do campo visual e da visão central. Se Maria e José tivessem vivido no início da década de 1990, o número de filhos do casal com deficiência seria reduzido a 0, em razão da reprodução assistida. Com a fertilização in vitro (FIV), é possível, hoje, uma mulher ter filhos depois dos 45 anos, escolher o sexo do bebê (quando indicado por problemas de saúde), congelá-lo ainda na fase embrionária para gerá-lo depois, além, claro, de se certificar da saúde dele antes de iniciar a gestação. Um dos pontos principais da medicina reprodutiva, atualmente, é entender melhor o mecanismo de implantação embrionário no útero a partir das técnicas de FIV. Um estudo realizado por médicos de Belo Horizonte comparou a eficiência do uso do laser e do ácido tyrode na biópsia dos embriões utilizados nos exames de diagnóstico genético pré-implantacional (PGD), ou seja, antes de ser posto no útero, no estágio de blastocisto.

- Foto: Tanto o laser quanto o ácido são usados, atualmente, na perfuração da camada que envolve o embrião, chamada de zona pelúcida – grosso modo, uma espécie de casquinha –, para a retirada da célula, que terá o material genético estudado, segundo explica o médico e pesquisador Selmo Geber, diretor da Rede Latino-Americana de ReproduçãoAssistida (REDLARA) e do Centro de Medicina Reprodutiva Origen. “A utilização do laser no procedimento, no entanto, é mais recente. Há mais de 20 anos, a gente abria a casquinha do embrião com uma solução ácida, que ia dissolvendo. Há seis anos, com o desenvolvimento da ciência, começamos a aplicar o laser para abri-la”, conta o especialista.

Depois do longo período de pesquisas, das quais participaram 74 casais com risco de transmissão de doenças genéticas, os médicos concluíram que o uso do laser no procedimento de fertilização in vitro é mais adequado que o do ácido, considerando, sobretudo, a integridade das células embrionárias. “Quando eu coloco uma solução ácida para abrir a casquinha, não tenho um controle tão preciso. Se demorar um pouco mais para abrir, vou jogando mais ácido, que fica ali, depositado e pode destruir a célula e, dessa forma, perderia todo meu trabalho. Além disso, teria de retirar outra célula, o que poderia comprometer o desenvolvimento do embrião”, relata Geber.

Segundo o médico, a retirada de outra célula só não prejudica o desenvolvimento do embrião se ele tiver oito células. Normalmente, o procedimento é realizado no terceiro dia do estágio embrionário, justamente quando ele tem esse número de células. “Lesar a célula não tem problema, mas me faz retirar uma segunda e, assim, posso comprometer o desenvolvimento do embrião até chegar ao estágio de blastocisto (quinto ou sexto dia, quando ele fixa no útero) e, consequentemente, a chance de a mulher ficar grávida.”

Biópsia
Os pesquisadores também levaram em consideração o tempo de exposição do embrião nos dois processos. Duzentos e treze embriões foram biopsiados com o ácido tyrode e cada biópsia demorou três minutos. O procedimento inteiro, para cada paciente, durou cerca de meia hora. Cinco por cento dos blastômeros romperam e 49% dos embriões formaram blastocistos. Trinta e seis por cento das mulheres ficaram grávidas.

No outro grupo, foi utilizado laser em 229 embriões e cada biópsia durou 30 segundos. O procedimento inteiro, sete minutos. Dois e meio por cento dos blastômeros usados se romperam e 50% deles formaram blastocistos. Quarenta e sete por cento das mulheres engravidaram. “Até que na formação de blastocistos não mudou muito, mas na gravidez houve aumento de 36 para 47. Percebemos que o laser pode ser usado para a biópsia e percebemos também uma redução da exposição do embrião e da remoção de blastômeros”, conclui o especialista, destacando que a escolha dos casais de cada processo foi aleatória. “Todos foram submetidos a uma completa avaliação de infertilidade e a avaliação do sêmen foi realizada de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde. Selecionamos apenas as mulheres que tinham as dosagens de hormônio normais para garantir que o resultado observado não interferisse no desenvolvimento do embrião”, acrescenta.