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Estado de Minas

Cirurgia bariátrica controla o diabetes

Especialistas dizem que tratamento é considerado o maior avanço desde a descoberta da insulina e citam como vantagem da intervenção o controle do metabolismo dos diabéticos em até 70%


postado em 16/11/2011 07:32 / atualizado em 16/11/2011 07:40

Desviar o duodeno, primeira porção do intestino delgado, do trânsito alimentar pode ser uma técnica eficiente para aumentar o controle metabólico em diabéticos. As vantagens dessa intervenção foram analisadas durante o Congresso Pan-Americano de Cirurgia do Diabetes: Alternativas Clínicas e Cirúrgicas, em Gramado, no Rio Grande do Sul, promovido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). O evento, que terminou sábado, reuniu especialistas de todo o mundo e comemorou os 21 anos da cirurgia bariátrica no Brasil.


Ricardo Cohen, presidente da entidade, afirmou que existem evidências experimentais e clínicas de que a exclusão duodenal (cirúrgica ou endoscópica) libera mais hormônios intestinais que melhoraram a quantidade e a qualidade da secreção da insulina pelo pâncreas. “Os resultados são muito interessantes. Existe controle metabólico em cerca de 60% a 70% dos pacientes em ambas as abordagens”, diz.


Segundo Cohen, há muito interesse no meio científico mundial sobre esse novo procedimento, que preserva o músculo regulador do esvaziamento do estômago. “Por isso, essa operação tende a ser mais ‘fisiológica’. É semelhante à derivação biliopancreática, também conhecida como duodenal switch, com a extraordinária vantagem de não existir má absorção e não levar a potencial desnutrição proteico-calórica a longo prazo”, explica.

O endocrinologista Bruno Geloneze, da Federação Internacional do Diabetes, uma das maiores autoridades mundiais sobre a doença, afirma que as cirurgias bariátricas, como a derivação gástrica em Y-de-Roux, também podem ser consideradas um dos maiores e mais contundentes avanços no tratamento do diabetes desde a descoberta da insulina. Segundo ele, os primeiros estudos tiveram início há 15 anos e, de lá para cá, vários trabalhos têm confirmado os benefícios da cirurgia bariátrica, especialmente aos portadores de diabetes mellitus tipo 2. Diversas entidades médicas e serviços públicos de saúde mundiais recomendam a técnica como uma opção para o tratamento de adultos com índice de massa corporal (IMC) maior que 35 kg/m2 e comorbidades com potencial de melhora clínica significativa, destacando-se o diabetes tipo 2.


Mas ele destaca a necessidade de oferecer uma assistência racional, permanente e multidisciplinar ao paciente diabético, antes e depois da operação bariátrica. “Os médicos devem ser realistas nas informações ao paciente antes da cirurgia, tendo em mente que o diabetes é uma doença que não será curada definitivamente, mas sim tratada e controlada, com redução do tratamento medicamentoso”, comenta. A respeito do tratamento cirúrgico do diabetes, em vez de falar em cura, o médico prefere o termo ”remissão”, que indica supressão ou latência dos sintomas da doença e restauração de resultados metabólicos normais.

Na opinião do endocrinologista norte-americano David Cummings, coordenador do centro de pesquisas em diabetes e endocrinologia da Universidade de Washington, tanto procedimentos experimentais (como as cirurgias gastrointestinais antidiabéticas) quanto os já consagrados devem ser amplamente discutidos, no caso de portadores de diabetes. Ele explica que, a partir do conhecimento disponível até o momento, a melhoria e até a remissão completa do diabetes por meio da derivação gástrica devem-se a uma série de mudanças positivas hormonais, metabólicas e físicas, de forma concentrada no sistema gastrointestinal.

Adoção pelo SUS

Entre essas mudanças, uma das mais comprovadas como colaboradora dos efeitos antidiabéticos é o aumento da secreção da incretina peptídica GLP-1 (Glucagon-like peptide-1), com consequente aumento na função da célula-beta de secretar a insulina. “Está bem demonstrado que a derivação gástrica em Y-de-Roux é uma terapia efetiva para o diabetes tipo 2. A banda gástrica ajustável apresenta um impacto bem menor no diabetes, mas, após um longo período, o controle da glicemia melhora na proporção da quantidade de peso perdida e, provavelmente, por meio de mecanismos exclusivamente relacionados à perda de peso.”

Com cerca de 20% da população portando diabetes tipo 2, Luiz Vicenti Berti, do conselho executivo da SBCBM, afirma que o Brasil terá mesmo que acelerar as discussões sobre o assunto. Segundo ele, foi consenso entre os especialistas que participaram do congresso a necessidade de o Sistema Único de Saúde (SUS) adotar a cirurgia bariátrica como mais uma alternativa de tratamento para pacientes com diabetes tipo 2 não controlado. “ Essa é mais uma opção terapêutica. Os estudos já estão prontos e, agora, a questão é mais política do que científica. A cirurgia vai beneficiar especialmente os pacientes que não têm acompanhamento adequado, nem acesso ao controle da doença”, ressalta.
Além de mais vantajoso para os pacientes do SUS, Berti acredita que o tratamento cirúrgico beneficie o próprio governo, que em vez de gastar altas cifras anuais com um único doente, algo em torno de R$ 40 mil, gastaria apenas o valor da cirurgia, cerca de R$ 4 mil.

Carteira dá segurança ao paciente
Durante o congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica foi lançada a carteira do paciente bariátrico, para quem passou por uma cirurgia de redução de estômago. A iniciativa, inédita no mundo, pretende ampliar a segurança do paciente operado, sobretudo em situações atípicas, como no caso de socorros emergenciais.

“A carteira é um guia para que os não especialistas possam tratar adequadamente o paciente operado”, explica Luiz Vicente Berti, do conselho executivo da entidade. Segundo ele, a Carteira de Identificação traz o nome do paciente, o nome do cirurgião, a data da cirurgia e o tipo da técnica cirúrgica adotada: banda gástrica ajustável, gastrectomia vertical, derivação biliopancreática Duodenal Switch ou derivação gastrojejunal em Y-de-Roux (veja arte). Há também espaço para observações importantes, como uma eventual alergia a substâncias, tipo sanguíneo, doenças associadas, entre outras informações que podem ser assinaladas pelo médico.

Todas essas informações são importantes porque o paciente bariátrico necessita de cuidados especiais em caso de apendicite, endoscopia, obstrução do intestino, gravidez, cesariana, entre outros. “A ação reforça o compromisso da SBCBM com a atenção global ao paciente obeso. Quem faz esse tipo de cirurgia, mesmo pela abordagem menos invasiva, merece todos os cuidados possíveis, antes, durante e depois da operação. Nosso trabalho é defender os melhores procedimentos para os pacientes e um atendimento cada vez mais completo e seguro”, ressalta Berti.

 


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