Ricardo Cohen, presidente da entidade, afirmou que existem evidências experimentais e clínicas de que a exclusão duodenal (cirúrgica ou endoscópica) libera mais hormônios intestinais que melhoraram a quantidade e a qualidade da secreção da insulina pelo pâncreas. “Os resultados são muito interessantes. Existe controle metabólico em cerca de 60% a 70% dos pacientes em ambas as abordagens”, diz.
Segundo Cohen, há muito interesse no meio científico mundial sobre esse novo procedimento, que preserva o músculo regulador do esvaziamento do estômago. “Por isso, essa operação tende a ser mais ‘fisiológica’. É semelhante à derivação biliopancreática, também conhecida como duodenal switch, com a extraordinária vantagem de não existir má absorção e não levar a potencial desnutrição proteico-calórica a longo prazo”, explica.
Mas ele destaca a necessidade de oferecer uma assistência racional, permanente e multidisciplinar ao paciente diabético, antes e depois da operação bariátrica. “Os médicos devem ser realistas nas informações ao paciente antes da cirurgia, tendo em mente que o diabetes é uma doença que não será curada definitivamente, mas sim tratada e controlada, com redução do tratamento medicamentoso”, comenta. A respeito do tratamento cirúrgico do diabetes, em vez de falar em cura, o médico prefere o termo ”remissão”, que indica supressão ou latência dos sintomas da doença e restauração de resultados metabólicos normais.
Na opinião do endocrinologista norte-americano David Cummings, coordenador do centro de pesquisas em diabetes e endocrinologia da Universidade de Washington, tanto procedimentos experimentais (como as cirurgias gastrointestinais antidiabéticas) quanto os já consagrados devem ser amplamente discutidos, no caso de portadores de diabetes. Ele explica que, a partir do conhecimento disponível até o momento, a melhoria e até a remissão completa do diabetes por meio da derivação gástrica devem-se a uma série de mudanças positivas hormonais, metabólicas e físicas, de forma concentrada no sistema gastrointestinal.
Entre essas mudanças, uma das mais comprovadas como colaboradora dos efeitos antidiabéticos é o aumento da secreção da incretina peptídica GLP-1 (Glucagon-like peptide-1), com consequente aumento na função da célula-beta de secretar a insulina. “Está bem demonstrado que a derivação gástrica em Y-de-Roux é uma terapia efetiva para o diabetes tipo 2. A banda gástrica ajustável apresenta um impacto bem menor no diabetes, mas, após um longo período, o controle da glicemia melhora na proporção da quantidade de peso perdida e, provavelmente, por meio de mecanismos exclusivamente relacionados à perda de peso.”
Com cerca de 20% da população portando diabetes tipo 2, Luiz Vicenti Berti, do conselho executivo da SBCBM, afirma que o Brasil terá mesmo que acelerar as discussões sobre o assunto. Segundo ele, foi consenso entre os especialistas que participaram do congresso a necessidade de o Sistema Único de Saúde (SUS) adotar a cirurgia bariátrica como mais uma alternativa de tratamento para pacientes com diabetes tipo 2 não controlado. “ Essa é mais uma opção terapêutica. Os estudos já estão prontos e, agora, a questão é mais política do que científica. A cirurgia vai beneficiar especialmente os pacientes que não têm acompanhamento adequado, nem acesso ao controle da doença”, ressalta.
Além de mais vantajoso para os pacientes do SUS, Berti acredita que o tratamento cirúrgico beneficie o próprio governo, que em vez de gastar altas cifras anuais com um único doente, algo em torno de R$ 40 mil, gastaria apenas o valor da cirurgia, cerca de R$ 4 mil.
Carteira dá segurança ao paciente
Durante o congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica foi lançada a carteira do paciente bariátrico, para quem passou por uma cirurgia de redução de estômago. A iniciativa, inédita no mundo, pretende ampliar a segurança do paciente operado, sobretudo em situações atípicas, como no caso de socorros emergenciais.
“A carteira é um guia para que os não especialistas possam tratar adequadamente o paciente operado”, explica Luiz Vicente Berti, do conselho executivo da entidade. Segundo ele, a Carteira de Identificação traz o nome do paciente, o nome do cirurgião, a data da cirurgia e o tipo da técnica cirúrgica adotada: banda gástrica ajustável, gastrectomia vertical, derivação biliopancreática Duodenal Switch ou derivação gastrojejunal em Y-de-Roux (veja arte). Há também espaço para observações importantes, como uma eventual alergia a substâncias, tipo sanguíneo, doenças associadas, entre outras informações que podem ser assinaladas pelo médico.
Todas essas informações são importantes porque o paciente bariátrico necessita de cuidados especiais em caso de apendicite, endoscopia, obstrução do intestino, gravidez, cesariana, entre outros. “A ação reforça o compromisso da SBCBM com a atenção global ao paciente obeso. Quem faz esse tipo de cirurgia, mesmo pela abordagem menos invasiva, merece todos os cuidados possíveis, antes, durante e depois da operação. Nosso trabalho é defender os melhores procedimentos para os pacientes e um atendimento cada vez mais completo e seguro”, ressalta Berti.