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Estado de Minas

Estudo põe em dúvida a eficácia do exame de PSA

Estudo que norteia políticas públicas dos Estados Unidos sugere que o exame feito na próstata para detectar câncer no homem, o PSA, não fornece provas contundentes para a doença


postado em 09/11/2011 06:00 / atualizado em 09/11/2011 07:55


Está na corda bamba tudo aquilo que se apostou durante duas décadas como uma das melhores formas  de prevenir o câncer de próstata. Ainda que há mais de 20 anos homens, acima dos 45, já estejam familiarizados com exames de rotina para uma vida mais saudável, ou, pelo menos, ouviram falar da importância deles, a medicina não está tão convencida assim. Estudo elaborado por técnicos do US Preventive Services Task Force (Força-Tarefa de Saúde Preventiva, que norteia o governo americano) com base nas análises de mais de um milhão de pacientes atendidos emitiu um alerta sobre a incerteza da necessidade do exame PSA (Antígeno Prostático Específico, na sigla em inglês), que mede no sangue os níveis de uma proteína produzida pelas células da próstata. A recomendação é para o fim do teste em homens saudáveis, por não haver  provas contundentes de que o PSA rastreie tumores.

O sinal foi o gatilho para uma polêmica que chega aos consultórios brasileiros: até que ponto o PSA é essencial? Retirá-lo do checape pode comprometer a saúde dos homens ou poupá-los de tratamentos desnecessários? Essas e outras tantas perguntas começam a fazer parte da roda de discussão dos médicos do Brasil. E chegou ao Instituto Nacional do Câncer (Inca),  que diante da incerteza da própria medicina prefere não arriscar: os médicos devem avisar os pacientes sobre riscos e benefícios associados ao teste, que não deixará de ser feito no país, pelo menos até que haja provas suficientes para isso.

Segundo explica o diretor do Departamento de Urologia do Inca, Franz Campos, o PSA ajuda na prevenção, mas ele não deve ser usado como a única forma de dar um diagnóstico. Ao contrário da mamografia e do ultrassom da mama, para os quais há resultados realistas  para a prevenção e tratamento do câncer de mama, o PSA é um teste que pode enganar, conforme defende o grupo norte-americano, uma vez que uma dosagem alta da proteína no sangue pode ser sinal de uma infecção ou crescimento benigno exagerado da próstata, levando a diagnósticos de falso negativo. “Por isso, ele não pode ser encarado como uma única ferramenta de controle. Ele pode ser uma pista, mas não é um resultado”, avisa Franz, lembrando que um marcador mais efetivo com o mesmo propósito ainda não há no mundo. “Por isso, o Inca não concorda com o fim desse instrumento, mas ressalta que o PSA deve ser feito junto com o exame de toque.”

INCÔMODO

Desde a década de 90, o método é usado no Brasil e, de acordo com Franz, ajudou muito na detecção precoce do câncer de próstata. Para saber se há algo de errado com um paciente e, então, partir para a biópsia na próstata, é preciso que no exame de PSA o resultado da concentração sanguínea da proteína seja maior do que 2,5 nanogramas por mililitro (ng/ml).

Assim, na maioria do casos, com a dosagem acima do permitido, o homem é submetido à biópsia. Por se tratar de um procedimento doloroso e incômodo, a equipe americana bate o martelo ao dizer que os inconvenientes decorrentes de falsos diagnósticos do PSA podem superar os benefícios de testar alguém sem sintomas da doença. O estudo também dá conta de que a popularização do teste nos EUA, ou o uso indiscriminado dele,  teve consequências devastadoras, aumentando o número de biópsias e de tratamentos que poderiam ser evitados. O tratamento em altas doses causou, segundo os pesquisadores, impotência sexual e incontinência urinária.

É essa a preocupação do oncologista clínico de Minas Gerais Victor Hugo Rodrigues, que condena o uso indiscriminado da ferramenta. De acordo com dados do Inca, alguns tumores podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte. No entanto, a grande maioria  cresce de forma tão lenta (leva cerca de 15 anos para atingir 1 cm³) que não chega a dar sinais significativos nem a ameaçar a saúde do homem.

“Por esse motivo que é  preciso que haja um estudo com regras para esse exame, para determinar quem deve ou não fazê-lo”, sugere, dizendo que a dosagem da proteína mensurada pode variar se há algum tipo de doença na próstata, como infecção.  “Antigamente, o limite era acima de 4ng/ml, agora passou para 2,5ng/ml. É uma quantidade pequena, pois com a idade o homem vai produzindo mais PSA”, diz, apontando que a cada seis homens que fazem um rastreamento para o mal um descobre o câncer. “Desses, a cada seis doentes, um vai a óbito. É uma enfermidade que incide muito, mas a mortalidade é baixa”, diz. Ele afirma que uma cirurgia ou radioterapia para esses casos, em 3% a 30% causam impotência e incontinência urinária. “Nós, latino-americanos, temos a cultura de sempre querer se tratar, mesmo que aquilo não leve a óbito. Na Europa, é diferente. Se não fizer o tratamento, não quer dizer que aquela pessoa vai morrer daquilo. Lá, o PSA é mais enfatizado. Aqui e nos EUA fazemos os dois exames: PSA e o toque.”

A ideia defendida pelo Inca é que o PSA deve ser uma recomendação particular e não universal. O homem precisa fazer consultas periódicas com o urologista e é o médico que pode avaliar, caso a caso, a necessidade do PSA com base no quadro clínico de cada paciente. Diferentemente do tumor de mama, que obrigatoriamente precisa ser tratado, o de próstata nem sempre exige intervenção ou operação. De acordo com o instituto, fazer disso uma recomendação universal pode acarretar um excesso de tratamentos, que trariam efeitos colaterais não necessários. “A classe médica tem que estar atenta”, avisa Franz Campos.

Personagem da notícia / José Geraldo Pereira Brandão, 75 anos, aposentado

Ele viu a morte

Há oito anos, o aposentando José Geraldo Pereira Brandão faz a cada seis meses o exame de PSA como uma forma de controle para o câncer de próstata. Anualmente ele passa pelo  exame de toque e diz ser essencial a ferramenta de controle da proteína no sangue. “O exame me deixa mais seguro”, afirma. Há quatro anos, houve uma alteração na concentração sanguínea e seu médico pediu uma biópsia. “Foi terrível. Passei muito mal, principalmente porque sofro de hemorroidas.

Depois disso, houve outras alterações no exame de PSA, mas eu não aceitei repetir a biópsia”, conta, dizendo saber que o câncer de próstata é silencioso e, na maioria das vezes, não apresenta sintomas. “Por isso, acredito que toda forma de prevenção que tivermos ao nosso alcance é válida. Qualquer coisa que aparece em nós nos deixa preocupados. Tenho muitos amigos que sofreram da doença. É terrível. A gente quer se cuidar e o PSA é uma das ferramentas de prevenção, por isso, não deveria acabar.”


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