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Estado de Minas

Descoberta dá mais segurança ao tratamento da esquizofrenia

Três compostos químicos podem revolucionar o tratamento da doença e transtornos relacionados, uma vez que antipsicóticos não oferecem bons resultados para grande parte dos pacientes


postado em 26/10/2011 06:00 / atualizado em 26/10/2011 09:13

(foto: Arte D.A Press)
(foto: Arte D.A Press)
Cientistas da Universidade da Carolina do Norte (UNC) descobriram três compostos químicos que poderão levar à criação de medicamentos mais seguros e eficientes contra a esquizofrenia e transtornos afins. A doença, caracterizada por severo transtorno do funcionamento cerebral, é tipicamente tratada com medicamentos antipsicóticos que não oferecem bons resultados para uma alta porcentagem dos pacientes. Os remédios conhecidos não atuam contra os sintomas negativos e cognitivos do transtorno, e podem causar efeitos colaterais graves, como doenças cardiovasculares e aumento de peso com o uso prolongado.


Os novos compostos, que a UNC patenteou, vão ajudar a resolver esses problemas, permitindo aos pesquisadores estudar melhor quais vias de sinalização no corpo são essenciais para a eficácia e tolerabilidade dos antipsicóticos, diz Jian Jin, um dos autores do estudo e diretor associado de química medicinal e farmácia no Centro de Biologia Química Integrativa e Descoberta de Drogas.


"Esses compostos são sem precedentes", diz Jin, que liderou a parte química medicinal da pesquisa. "Eles darão aos pesquisadores uma ferramenta poderosa para estudar a relação entre as vias de sinalização e a eficácia e os efeitos colaterais dos antipsicóticos. Essa compreensão vai nos ajudar a desenvolver tratamentos melhores para a esquizofrenia”, acrescenta.


"A descoberta permite uma abordagem completamente nova para o tratamento da esquizofrenia e transtornos relacionados com mais eficácia e menos efeitos colaterais", diz Bryan Roth, médico psiquiatra que dirige o Programa de Triagem de Drogas Psicoativas do Instituto Nacional de Saúde Mental na UNC-Chapel Hill e liderou a parte farmacológica do estudo. Ele e Jian Jin comandaram uma equipe que inclui pesquisadores da Duke University e da Universidade de Columbia.
As conclusões do estudo estão descritas em um artigo a ser publicado na edição desta semana da revista Proceedings da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (Pnas).

Inspiração

O interesse de Bryan Roth pelo campo da neuropsicofarmacologia surgiu da confluência de uma série de acontecimentos simultaneamente familiares, pessoais, históricos e geográficos: na pequena cidade onde nasceu não havia psiquiatra para tratar uma parente esquizofrênica, que acabou internada por um longo tempo no hospital psiquiátrico estadual. O sofrimento imposto pela doença mental aos pacientes e suas famílias marcou o menino Bryan.

Empenhado em remediar a situação, começou a ler a obra de Sigmund Freud aos 12 ou 13 anos. Depois, Carl Jung. Já tinha certeza de querer trabalhar no campo da saúde mental. Apesar das primeiras leituras psicanalíticas, sonhava entender o psiquismo pela perspectiva biológica. Achava que as respostas que buscava se encontravam na química cerebral. Decidido a cursar medicina, especializou-se em psiquiatria e dedicou-se à pesquisa do cérebro. Seu objetivo inicial era buscar melhores tratamentos para os transtornos psíquicos, mas ainda dentro de uma perspectiva que hoje ele julga ingenuamente simplista. Quando se deu conta da complexidade do campo, da enormidade da tarefa e do pouco que se conhecia até então, decidiu que teria de ser um explorador.


“Atualmente buscamos descobrir coisas, queremos encontrar o que nunca foi vislumbrado. É como se fôssemos exploradores científicos. Às vezes me sinto como os primeiros navegadores europeus que exploraram a Amazônia”, conta Roth, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas.


Há grandes objetivos nos trabalhos de seu laboratório na Universidade da Carolina do Norte, entre eles tornar a medicação psiquiátrica mais segura e mais eficiente. Dr. Roth e colaboradores descobriram, por exemplo, que o neuroléptico clozapina interage com pelo menos 73 proteínas alvo no cérebro. Rastrear e identificar todos esses alvos já foi uma grande realização. Dessas 73 proteínas, quais são responsáveis pelos efeitos benéficos para o paciente? Quais estão associados a efeitos colaterais específicos? E, só para complicar as coisas mais um pouquinho, como e por que as reações variam de paciente a paciente? Seu laboratório trabalha para descobrir essas respostas.

Fiação cerebral

“Estamos atingindo um ponto, agora, em que podemos projetar, desenvolver e testar remédios que serão muito seguros. Temos a tecnologia para fazer isso”. O problema para o consumidor é o que é descoberto agora só vai beneficiá-lo daqui a duas décadas. Basicamente, esse é o tempo necessário para o desenvolvimento de novas medicações. “Podemos fazer medicamentos melhores e mais seguros, mas curar a esquizofrenia apenas com remédios, isso não vai ocorrer. Costumo dizer que precisamos dar um novo cérebro para esses pacientes. Não um transplante cerebral, mas uma ‘nova fiação’ cerebral. Essa é uma das grandes coisas com as quais estamos trabalhando: como alterar a ‘fiação’ do cérebro”, conta.


Nessas expedições ao planeta cérebro, seria possível alguma descoberta acidental que surpreenderia até um profissional experiente como Bryan Roth? “A maior parte das nossas descobertas é acidental. No meu laboratório não é muito comum que a ideia que se teve se prove correta. Tipicamente as ideias que perseguimos estavam equivocadas e aquilo que se provou importante foi achado acidentalmente no percurso. Tem sido assim na minha experiência”.


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