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Estado de Minas

Homens sofrem com câncer de mama

Campanha de prevenção este ano tenta alertar para a importância de eles fazerem autoexames


postado em 17/08/2011 06:00 / atualizado em 17/08/2011 09:16

   
Pode parecer estranho, mas os homens serão homenageados, ao lado das mulheres, como vitoriosos no combate ao câncer de mama, na edição brasileira do Outubro Rosa 2011, no Rio de Janeiro. A campanha foi criada em Nova York, nos Estados Unidos, em 1990, para marcar a luta contra a doença. A decisão reflete a necessidade de alertar que os tumores nas mamas não são uma triste exclusividade feminina. Muitos homens sofrem com o mal – embora com uma incidência bem menor.
Um dos atingidos pela neoplasia foi o aposentado Walter Gomes, de 71 anos, mineiro de Ouro Preto e radicado em Brasília. O ex-funcionário do Banco do Brasil e da Presidência da República venceu a doença em 2006. Hoje, a cicatriz da cirurgia e a perda do mamilo direito são os únicos vestígios de um mal que deve atingir cerca de 50 mil pessoas este ano – 99% do público feminino e 1% de homens (aproximadamente, 500 novos casos).

Tipo raro de câncer no Brasil e no mundo, o tumor mamário masculino aparece na página do Instituto Nacional do Câncer (Inca) com uma taxa de óbito, prevista para 2010/2011, de 125 homens – contra 11.735 mulheres. De acordo com o oncologista Pedro Aurélio Ormonde, diretor substituto da Unidade III do Inca – que atende apenas pacientes de câncer de mama –, as características da doença no homem e na mulher são as mesmas e ela se manifesta de igual modo nos dois sexos. “Trata-se da mesma alteração no ducto mamário e a única diferença que vejo é que, na maioria das vezes, quando se faz o diagnóstico no homem, a doença já está avançada”, observa o médico.

Não foi o caso de Walter Gomes, que descobriu o tumor enquanto tomava um banho de chuveiro. “Naquela hora, senti que havia algo além de um pequeno nódulo no peito.” Quando a esposa, que o acompanha há 47 anos, viu a saliência esférica, imediatamente o orientou a consultar um médico. “Eu sabia que não era normal aquele ponto redondo, duro e indolor”, lembra Dilma Barros Gomes. Depois desse dia, começava um calvário para Walter e a mulher, em busca de diagnóstico e de tratamento.

“Fomos para São Paulo, procurar tratamento no (Hospital) A. C. Camargo e, graças a Deus, estamos hoje contando essa história”, comenta Walter. Lá, ele era um em meio a dezenas de mulheres em tratamento e todas acreditavam, no começo, que ele acompanhava Dilma, não o contrário. “Só havia um prontuário azul, que era o meu, o resto era cor-de-rosa”, lembra, sorrindo.

Walter, porém, não teve tréguas. Hoje, luta contra um mieloma múltiplo, um câncer hematológico nas células plasmáticas que corresponde a 1% de todos os tipos de neoplasias e a 10% dos tumores do sangue. “O caso de Walter é singular. Ele superou um câncer de mama em 2003; depois, em 2007, venceu um outro de próstata; e, agora está respondendo muito bem ao tratamento de um mieloma”, afirma o hematologista Gustavo Bettarello, que acompanha o aposentado. “Posso garantir, inclusive, que as doenças não estão correlacionadas. São cânceres diferentes, sem essa interligação que ocorre em geral quando há metástase. Pelos exames mais recentes, eu diria que a doença está sob controle”, acrescenta Bettarello.
Walter Gomes faz parte de uma geração de sobreviventes do câncer. Está dentro de um expressivo grupo de pessoas que lutaram contra a doença e venceram, com ajuda de médicos, drogas poderosas e terapias de qualidade que mudaram os rumos dos tratamentos nos últimos 20 anos. Em sua casa, a mesa que ampara as dezenas de vidros e recipientes de remédios divide um espaço com imagens de santos e outros objetos da iconografia cristã. “Eu sou vicentino (devoto de São Vicente de Paula) e acredito que ajudar os outros faz bem à alma e ao corpo”, afirma Gomes, que faz trabalho voluntário em uma igreja perto de onde vive.

Ênfase na mulher

O fato de ser raro no homem e, inclusive, de despertar preconceito, por ser um câncer associado à condição feminina, induz o próprio governo a concentrar esforços em campanhas de prevenção e combate ao câncer de mama com ênfase na mulher. “Isso ocorre tradicionalmente, mas as orientações sobre como evitar a doença e as linhas de tratamento servem para os dois gêneros”, admite o oncologista Pedro Ormonde. Ele ressalta que os homens também devem fazer autoexames constantes de mama, mantendo a atenção a qualquer sinal estranho na região mamária, nem que seja um nódulo mínimo.
No Rio Grande do Sul, estado que ocupa a segunda posição no ranking de incidência da neoplasia – com 81,57 casos em cada 100 mil habitantes –, perdendo apenas para o Rio de Janeiro (88,3 em 100 mil), a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), responsável pela organização do Outubro Rosa, prepara uma série de ações. O foco será na necessidade de tanto os homens quanto as mulheres se prevenirem e diagnosticarem mais cedo a doença.

“A falta de informação entre os homens sobre a doença faz com que o tumor seja diagnosticado em estágio bastante avançado, o que dificulta o tratamento. O número de homens diagnosticados com câncer de mama é bastante inferior ao das mulheres, mas, na maioria dos casos, o tumor encontra-se bastante avançado”, justifica a mastologista Maira Caleffi, presidente da Femama. “O homem tem de ser incluído nas campanhas de conscientização e tem de tomar certos cuidados semelhantes aos que as mulheres adotam, como fazer autoexames de três em três meses e procurar um mastologista assim que detectar uma íngua embaixo do braço ou uma ferida na glândula.”

Para o oncologista Lucianno Henrique dos Santos, a versão masculina do tumor não é difícil de diagnosticar, porque o homem não desenvolve o broto mamário. “Fica mais fácil de identificar um nódulo com até menos de 1cm. Se demorar a ir ao médico, porém, complica o tratamento.” O oncologista explica que a incidência do tumor mamário no homem é menor do que na mulher porque a presença dos hormônios femininos (progesterona e estrogênio) é muito baixa no sexo masculino. Outro fator que dificulta um rastreamento maior da doença no sexo masculino é que o homem não faz mamografia e está fora das campanhas. “Em geral, recomenda-se ecografia e ultrassonografia. Em alguns casos, até a biópsia, para confirmar o diagnóstico”, acrescenta.

Estudos epidemiológicos sugerem que a ocorrência da enfermidade é maior em judeus de origem ashkenazi, negros, homens com doenças hepáticas e vítimas de traumas testiculares. “Esse câncer afeta apenas 0,8% dos homens e as taxas de incidência e de mortalidade permanecem estáveis. Ele é mais comum, também, na faixa dos 50 a 70 anos e tem a ver, assim como na mulher, com variações gênicas que hoje permitem tratamentos mais personalizados”, explica Clarissa Amaral, mastologista do Hospital Moinho dos Ventos, de Porto Alegre.

Entre os avanços no combate ao mal e nas formas de terapia, Maira Caleffi afirma que já é possível antever o momento em que alguns tipos de câncer de mama poderão ser tratados por via oral, por 10, 15 anos, sem necessidade da quimioterapia. “Há uma série de inibidores e de bloqueadores de hormônios em teste, que poderão melhorar as alternativas de tratamento, dentro dessa tendência moderna de personalizar as terapias.”


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