(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas

Cientistas criam ser com DNA artificial

Britânicos conseguem, pela primeira vez, inserir uma molécula artificial no organismo de um ser vivo multicelular. Experiência permitirá análise de processos biológicos nunca vistos


postado em 13/08/2011 09:36 / atualizado em 13/08/2011 09:42

Brasília – O homem acaba de dar mais um passo no desenvolvimento da vida artificial. Cientistas do Conselho de Pesquisa Médica do Reino Unido anunciaram, nesta semana, a criação do primeiro animal que vive com proteínas artificiais em seu organismo. O C. elegans, um verme com pouco mais de mil células, ganhou substâncias não naturais em seu DNA e passou a emitir luz fosforescente (veja infografia). O sucesso da experiência animou a classe científica, que espera usar a criação para entender fenômenos intracelulares e, a longo prazo, testar novas interações com moléculas feitas em laboratório.

A pesquisa foi descrita no Jornal da Sociedade Americana de Química, uma das mais respeitadas publicações do setor. Os cientistas Sebastian Greiss e Jason Chin explicam como, entre milhares de "exemplares" do C. elegans, conseguiram observar alguns reagindo naturalmente à substância colocada em seu código genético. "O verme é transparente em todas as fases da vida, tornando-se possível visualizar a expressão em células individuais usando proteínas fluorescentes", escreveu a dupla no artigo. "Essa característica (do animal) facilita a intervenção luminosa em processos biológicos", apontam.

Todos os seres vivos têm 20 aminoácidos, que se combinam de forma a gerar as mais diversas proteínas no interior das células. Na pesquisa, Greiss e Chin inseriram duas substâncias fotossensíveis artificiais, fazendo com que os vermes expressassem a cor brilhante. O efeito foi observado nos músculos e em tecidos da faringe, do intestino e do sistema nervoso dos bichos. "O mais interessante é que esses aminoácidos não naturais funcionaram bem em um animal real, com vários tipos de células nervosas", disse ao Estado de Minas o pesquisador de genética Jonathan Hodgkin, da Universidade de Oxford.

Esta não foi a primeira tentativa dos cientistas de incluir substâncias sintéticas no DNA em organismos vivos. O próprio Jason Chin vem estudando, há anos, formas de criar animais com um código genético projetado pelo homem. Em um de seus artigos anteriores, o pesquisador demonstrou ser possível inserir aminoácidos artificiais na bactéria E. coli, que tem apenas uma célula. Outros estudos semelhantes foram feitos em cultura de células de mamíferos. "A pesquisa divulgada agora é a primeira que revela a possibilidade de modificar geneticamente um ser multicelular para a incorporação de elementos não naturais. Trata-se de uma ferramenta poderosa", diz o professor Adriano Azzoni, do Departamento de Engenharia Química da Universidade de São Paulo.

E não somente porque a experiência deu certo. Seu "protagonista" tem um papel muito importante para a ciência. "O C. elegans é um dos organismos mais estudados pela ciência. Seu genoma está todo sequenciado e nós já conhecemos muito sobre seu desenvolvimento", esclarece Márcio Poças, do Departamento de Genética e Morfologia da Universidade de Brasília. É por isso que a pesquisa dos cientistas britânicos deve trazer uma série de implicações para a biologia intracelular. “Toda a abordagem é interessante porque expande a faixa de bioquímica possível. Agora, há um universo enorme de novas proteínas para explorar", comemora Jonathan Hodgkin.

Olho clínico O primeiro passo será o estudo do que ocorre exatamente durante a formação das proteínas. Os aminoácidos inseridos no C. elegans pela equipe do Conselho de Pesquisa Médica do Reino Unido servem como marcadores, que vão permitir a observação de processos biológicos nunca antes vistos. Há fenômenos que ocorrem dentro das células de todos os animais – e observá-los no verme pode ajudar a entender, inclusive, doenças humanas. "Poderemos ver como é a estrutura tridimensional das proteínas, uma antiga limitação da ciência. Hoje, só conseguimos ver essas substâncias na lâmina, quando estão chapadas", lembra o professor Márcio Poças.

A pesquisa britânica também abre portas para uma série de possibilidades na engenharia genética, entre elas, a inserção de novas funções proteicas nos seres vivos. "É claro que um verme é um ser muito menos complexo que um mamífero, mas esse é, certamente, um grande passo para essa área de pesquisa", diz Poças. Esse potencial costuma reacender os temores sobre o uso incorreto do conhecimento. "Mas a raça humana tem feito modificação genética há milhares de anos, por meio do cruzamento de colheitas. As técnicas genéticas, agora, estão chegando cada vez mais rápido e mais poderosas, mas não devem ser temidas", opina Hodgkin, da Universidade de Oxford.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)