Festival da Interação

São Paulo – Num cilindro gigante, esferas de isopor são revolvidas em volta de uma pessoa sentada ao centro. Outras dezenas esperam a sua vez de interagir com a máquina. Uma fila grande se forma próximo à entrada da sala com cortinas pretas. Lá dentro, sempre em grupo de quatro pessoas, o público incorpora figuras do cinema e TV com seu próprio corpo.

As atrações Body Hack e Nemo Observatorium fazem parte do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (File) que ocorre, gratuitamente, no Centro Cultural FIESP- Ruth Cardoso, em São Paulo (SP), até o dia 21. Em sua 12ª edição, o evento conta com instalações interativas e imersivas, além de trabalhos de web art, vídeos, documentários, clipes musicais e experimentações sonoras.

“Incrível” é o adjetivo que mais se ajusta à descrição do festival. Uma onda de contentamento invade os presentes assim que chegam e eles ficam atordoados diante das várias possibilidades de descoberta e interação. É difícil escolher por onde começar. As crianças é que não se demoram a decidir: a instalação ADA – Analoge Interactive Kinetic Sculpture ganhou a atenção da grande maioria. Afinal, qual delas não ia querer brincar com uma bola gigante cheia de hélio, que ainda deixa marcas de carvão nas paredes?

Bom, querer nem sempre é poder, já diz o ditado popular. Luka Gabriel de Oliveira, de 3 anos, foi persuadido a abandonar a ideia pela mãe Katiene Oliveira, de 26, preocupada com o estado de limpeza que o garoto ficaria depois da brincadeira. "É muito interessante, bem diferente este festival. E o Luka presta atenção em tudo", conta Katiene. Mas o menino logo encontrou o motivo de sua maior diversão: uma antiga máquina de fabricação de lã que projetava diferentes imagens numa tela: a timeLandscape-woolrhytms é uma instalação visual em que ao girar a manivela a paisagem é recomposta em sintonia com a velocidade do movimento.

Apesar de contemplar o reino da fantasia, a atração Augumented Shadow não chamou atenção só dos pequenos. Movendo os cubos sobre a mesa, o usuário causa uma série de reações no universo ilusório do jogo. Um dos blocos tem luz e projeta sombras ao seu redor. É preciso fazer com que os homens da escuridão encontrem suas casas (cubos). Gastam-se horas criando estratégias para vencer o desafio e se esquece do tempo.

Outro espaço de interação é o Link: com uma webcam o visitante pode inserir um vídeo de si mesmo na obra. O físico Marco Antonio de Souza, de 33, o elegeu como a melhor das atrações. "Você não só interage, mas faz parte da instalação. É uma nova forma de manifestação artística", justifica Souza. Leni Florêncio da Silva, de 49, o acompanhava na visita à galeria e também ficou surpreendida com o Link. "Essa proposta é bem mais interativa do que algumas mostras tradicionais que eu já fui, onde você fica do lado de fora, só assiste", destaca.

Tablets A artista plástica Paula Perisssinotto, de 48, é uma das organizadoras e curadora do festival. Ela conta que o objetivo da proposta é estimular a produção cultural da arte eletrônica. "O evento era focado em produção de internet e hoje tem um alinhamento com várias vertentes ligadas à área digital: palestras, workshops, jogos eletrônicos, instalações... Lançamos este ano o File tablets, com aplicativos feitos para este aparelho", detalha a curadora.

A novidade, inaugurada nesta edição, atrai a atenção de pessoas de todas as idades. Clara Ferreira, de 9, mostrava cada descoberta de aplicativo (app) à mãe, Maira Ferreira, de 29, que também se entretinha com uma prancheta. "Sou muito conectada, gosto de tudo que se refere à tecnologia e pretendo comprar um tablet em breve", explicou Maira.

Em uma mesa, 10 iPads ficam disponíveis ao público. Os aplicativos se dividem entre a área artística e de games. No Singing fingers, excelente para crianças mais novas, o usuário move o dedo livremente pela tela enquanto fala ou canta, originando traços de diferentes cores. No jogo Spirits você deve guiar espíritos rumo a um objetivo. É dada a oportunidade aos jogadores de resolver todos os níveis do jogo com suas próprias ideias criativas. Há ainda o Mugician, sintetizador de guitarra.

Vale também conferir o Maquinema, conjunto de filmes construídos em realidades virtuais, como a de jogos digitais. O termo é a reunião de máquina e cinema. Há produções abstratas como 9 e outras que usam o imaginário das histórias infantis como Dear fairy, em que o Pinóquio quer ser um brinquedo novamente. Os filmes podem ser pequenos videoclipes ou grandes como um longa-metragem.

Documentários, vídeos de web art, games e experiências sonoras também podem ser apreciadas. Sem esquecer das animações, que têm produções de alguns dos maiores festivais do mundo: Siggraph, Sicaf e Japan Media Arts.

Crescimento
O festival se realiza desde 2000 e reúne nesta edição trabalhos de artistas de 40 países. Somente na galeria do Sesi no Centro Cultural, devem passar cerca de 40 mil pessoas. Nos 14 pontos de mostras interativas que foram montadas na Avenida Paulista o fluxo de público chegou a 800 mil, entre os dias 19 e 28 de julho. O File, desde 2006, ganhou também a sua versão para a cidade do Rio de Janeiro (RJ) e já foi realizado em Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR). A atração fica disponível todos os dias das 10h às 20h, na Avenida Paulista, 1313, Cerqueira César- São Paulo (SP).
www.file.org.br