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Estado de Minas

Pesquisa mostra como os jovens sofrem com deficiência de vitaminas

Segundo estudo apresentado na USP, os jovens de 14 a 18 anos sofrem com deficiências das vitaminas A, C e E e de minerais. Pouca ingestão de frutas e legumes é indicada como a principal culpada


postado em 04/08/2011 08:54 / atualizado em 04/08/2011 15:23

Luíza, de 16 anos, contraria o estereótipo do adolescente comum, avesso às saladas: por insistência da mãe, desde pequena ela se acostumou e passou a adorá-las(foto: Rafael Ohana/CB/D.A Press)
Luíza, de 16 anos, contraria o estereótipo do adolescente comum, avesso às saladas: por insistência da mãe, desde pequena ela se acostumou e passou a adorá-las (foto: Rafael Ohana/CB/D.A Press)

A ladainha é sempre a mesma: alimentação saudável pode prevenir doenças. No entanto, mesmo que esse conselho seja repetido à exaustão – e sempre acompanhado de abundantes comprovações –, muitas pessoas parecem não dar a menor bola para hábitos alimentares saudáveis. Os adolescentes então, nem se fala. A quantidade de jovens que torcem o nariz para ingredientes verdes e relutam para comer frutas e legumes ainda é altíssima. Na cidade de São Paulo, uma pesquisa feita em 2009 pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) constatou que 512 jovens de 14 a 18 anos apresentaram consumo inadequado das vitaminas A, C e E e dos minerais cálcio, magnésio e fósforo, todos importantíssimos para a manutenção dos órgãos e ossos – e abundantes nos ingredientes saudáveis. De acordo com especialistas, a falta desses nutrientes pode ocasionar diversas doenças e o hábito de ingeri-los deve ser introduzido pelos pais, os responsáveis pela alimentação da casa.

A pesquisa “Revalência de inadequação da ingestão de nutrientes entre adolescentes do município de São Paulo” faz parte do inquérito de saúde do município e apontou que a ingestão inadequada é maior em famílias cuja renda familiar per capita é inferior a um salário mínimo. "Se a ingestão inadequada de nutrientes continuar a longo prazo, poderá levar a um risco aumentado para o desenvolvimento de câncer, doenças cardíacas e osteoporose. Essa constatação, entretanto, não é motivo para a suplementação vitamínica e sim para a adoção de uma dieta equilibrada, com a presença de frutas e vegetais", afirmou o autor do estudo, o nutricionista Eliseu Verly Junior.

Segundo a nutricionista Pollyanna Ayuba, a deficiência de vitaminas e minerais em adolescentes é causada, principalmente, por pular ou trocar as refeições. "Por querer dormir um pouco mais, o jovem pula o café da manhã, momento em que a ingestão de lacticínios, ricos em cálcio, é maior", acredita. Já nas principais refeições, o problema é ocasionado pela substituição dos pratos, que devem ser abundantes em legumes, verduras, carboidratos e proteínas, por lanches e fast-food. "O mesmo ocorre em outras refeições e, por não ingerir esses nutrientes, a pessoa acaba ficando com deficiência", considera.

A nutricionista Mariana Del Bosco conta que para todas as vitaminas e minerais existentes há uma recomendação de consumo, que muda de acordo com a faixa etária. Ela explica que na infância e na adolescência essa orientação leva em conta a quantidade necessária para garantir o adequado crescimento e desenvolvimento. "A determinação da necessidade é baseada na média da população. Alguns indivíduos, de uma forma ou de outra, conseguem ter mais absorção ou armazenar com mais eficiência essas substâncias", acrescenta.

Ela destaca, contudo, que quando constatada a deficiência desses elementos na alimentação, sinais clínicos podem aparecer – como no caso da hipovitaminose A, que pode atingir a visão, causando cegueira noturna, além de comprometer a integridade da pele, aumentando o risco de infecções. "Já a deficiência de vitamina C, que quase não vemos mais atualmente, pode causar escorbuto. A de magnésio e cálcio prejudica a formação óssea e pode causar osteomalácia e raquitismo em crianças", alerta.

Questão de gosto

O adolescente Matheus Porto, de 14 anos, não gosta de legumes, frutas e verduras. Adepto da alimentação junk food, o garoto se restringe basicamente ao tomate – quando muito, come as verduras presentes no prato de origem chinesa yakisoba (também muito comum na cozinha japonesa). "Não como porque não gosto do gosto", diz. O pai do garoto, André Porto, conta que não se preocupa muito, porque Matheus ingere os outros alimentos muito bem. "De manhã, ele come cereais com leite, que fazem bem. Já os fast-food eu seguro um pouco, não deixo comer sempre", diz.

Matheus conta que na escola, quando não leva biscoito e suco para o lanche, recorre ao hambúrguer, cachorro-quente e salgados, fritos e assados. "Sei que é importante comer alimentos saudáveis, mas não gosto do sabor. Talvez, se encontrassem um jeito diferente de preparar que mudasse o gosto, eu comeria", observa. Ele, que mora com o pai, o irmão e os avós, diz que em casa apenas os avós comem. O pai, segundo ele, pouco consome os ingredientes. "Mas na casa da minha mãe, eu como, quando vem misturado com a carne ou macarrão. Lá, todo mundo come", observa.

De acordo com a nutricionista Pollyanna, a adoção de uma alimentação balanceada deve ser adotada por toda a família, principalmente pelos provedores da casa. "Quem compra os alimentos é que deve levar essa lição para o supermercado. A criança não quer comer esse tipo de alimento, mas vai no armário e come biscoito. E se não tivesse esse possibilidade, o que ela comeria?", questiona.

Para a especialista, a alimentação deve ser alterada gradativamente, conscientizando o adolescente para a importância daqueles ingredientes e os possíveis problemas causados pela alimentação inadequada. "Essa alimentação deve ser construída a partir do hábito da casa e do estilo de vida do adolescente. Há milhares de ingredientes que podem ser inseridos na alimentação sem prejuízos", salienta.

Desde pequena

Foi pensando nos hábitos futuros que a publicitária Fabrícia Frade inseriu os vegetais na vida da filha Luíza Frade, 16 anos. Acostumada com a alimentação pesada dos baianos, Fabrícia lembra que era difícil ter uma folha de alface na mesa da casa de seus pais. Quando engravidou, porém, condicionou-se a comer bem e de forma saudável, já pensando na alimentação da filha. "Quis inserir esse hábito com ela ainda dentro da barriga", conta. A adolescente Luiza conta que come vegetais por adorar o gosto, hábito pouco repetido pelos colegas da sua idade. "Não me lembro de não gostar de comer, porque como desde pequena", recorda.

A adolescente acredita que é importante ter equilíbrio na hora de se alimentar. Segundo ela, do mesmo jeito que gosta dos legumes e vegetais, também gosta de fast- food, embora saiba que o segundo tipo deve ser consumido com parcimônia. "A gente tem que tentar ser equilibrado. Adoro fast-food, e quem não gosta? Mas sei que não dá pra viver comendo só isso, não faz bem e ainda engorda", observa.

Para a endocrinologista Zuleika Halpern, é fundamental aumentar o repertório de alimentos das crianças, insistir em diferentes formas de preparo e usar receitas variadas, pois isso é um bom estímulo. "Misturar em outras preparações que as crianças apreciam pode ser um bom começo", aconselha. A médica ressalta que a obesidade vem crescendo no mundo todo em proporções epidêmicas. Por isso, diz, é preciso esclarecer que a obesidade é multifatorial e tem um forte componente genético, com o estilo de vida como um gatilho determinante para o excesso de peso. "De um lado da equação, temos o consumo calórico; do outro, o gasto energético fundamental. Portanto, vale ajustar o cardápio e ter uma rotina de atividade física regular", acredita.

De acordo com Pollyanna, é importante também ter paciência e jamais recorrer à suplementação vitamínica. Para Zuleika, os polivitamínicos podem interferir negativamente na absorção de outros nutrientes. "Na vigência de alguma deficiência, após o diagnóstico, o médico ou nutricionista podem fazer a suplementação, se necessário", ressalta.

 


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