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Estado de Minas

Expert fala sobre o futuro da calvície. Tire suas dúvidas


postado em 31/07/2011 16:39 / atualizado em 31/07/2011 17:29

''Pesquisas avançadas sugerem que, daqui a uma década, o uso de células-tronco capilares e a clonagem dessas estruturas poderão resolver a questão da calvície quando ela não puder ser tratada com medicamentos ou com transplante'', diz o dermatologista João Carlos Pereira(foto: ANTÔNIO CUNHA/ESP.CB/D.A PRESS)
''Pesquisas avançadas sugerem que, daqui a uma década, o uso de células-tronco capilares e a clonagem dessas estruturas poderão resolver a questão da calvície quando ela não puder ser tratada com medicamentos ou com transplante'', diz o dermatologista João Carlos Pereira (foto: ANTÔNIO CUNHA/ESP.CB/D.A PRESS)

Diferentemente da queda repentina de cabelo, na qual os fios caem inteiros e a olhos vistos, com vestígios no travesseiro, nas roupas, no ralo do banheiro, nos pentes e escovas, a calvície chega discretamente. Quando passa a ser claramente visível, a pessoa, geralmente, já perdeu pelo menos 50% dos cabelos. O problema tem causas genéticas e hormonais e ocorre quando os folículos capilares são expostos a uma grande quantidade de dihidrotestosterona (DHT) — substância derivada do hormônio da testosterona.

Cientificamente identificada como alopecia androgenética, a calvície costuma se manifestar na região frontal ou na parte superior da cabeça. Os fios vão caindo gradativamente, ficam mais finos, ocorre um processo de atrofia do folículo piloso (raiz do cabelo) e eles não conseguem mais se desenvolver. "Há uma diferença clara. Nas quedas capilares provocadas por tratamentos químicos, estresse emocional, deficiência vitamínica ou algumas doenças, os cabelos não afinam antes de cair.


A queda é temporária e o problema é remediado naturalmente ou com estímulo medicamentoso", detalha o dermatologista João Carlos Pereira, referência em transplante capilar no Brasil. O procedimento tem feito a cabeça daqueles que cansaram de ouvir os indesejáveis apelidos que variam de "pouca telha" até "aeroporto de mosquito". Em entrevista ao Estado de Minas, o cirurgião lembra estudos que resultaram em medicamentos específicos capazes de interromper o processo da calvície, quando bem administrados, e diz que “se não há mais tempo para frear a alopecia, o transplante capilar é uma boa solução”. Feito há mais de cinco décadas, somente a partir da década de 1990 o procedimento foi aprimorado a ponto de deixar a região do couro cabeludo com aparência natural.

Existem diferentes tipos de calvície?
Na calvície, o que existe são graus que variam de indivíduo para indivíduo. Alguns homens ficam calvos apenas nas entradas, outros na região que chamamos de coroa. Há ainda os que têm comprometimento na cabeça toda ou na porção frontal dela, mas é a calvície feminina que tem nos chamado a atenção de uma forma especial. O motivo que a detona é o mesmo — a questão genética combinada com a hormonal —, mas a alopecia androgenética nas mulheres tem aumentado ao longo dos anos e é mais perceptível depois da menopausa, porque o hormônio masculino fica mais presente e exacerba o processo. Hoje em dia, elas fazem mais exercícios com pesos – prática que antecipa a calvície, porque mexe com as taxas hormonais. A maior diferença é que o dano, geralmente, atinge toda a cabeça. Os fios ficam ralos em todo o couro cabeludo, dificultando o transplante por falta de área doadora.

O que apontam as estatísticas?
No Brasil, não há estudos, mas acreditamos que a situação seja muito semelhante à dos norte-americanos. Lá, cerca de 30% das mulheres apresentam algum grau de calvície, enquanto 85% dos homens são afetados.

O que a ciência tem descoberto?
Pesquisas avançadas sugerem que, daqui a 10 anos o uso de células-tronco capilares e a clonagem dessas estruturas poderão resolver a questão da calvície quando ela não puder ser tratada com medicamentos ou com transplante. Será possível implantar no couro cabeludo células-tronco que darão origem aos cabelos. Alguns estudos estão até concluídos, aguardam apenas aprovação e legalização das agências de saúde. No mais, fala-se muito sobre o desenvolvimento de vacinas e outros produtos, como xampu antiqueda, que não têm comprovação científica alguma.

A questão do diagnóstico é importante para o tratamento da calvície?
É fundamental. Já temos disponível no Brasil um teste que detecta o gene da calvície quando ela ainda nem sequer se manifestou. Ele é feito a partir da saliva do paciente e a amostra é enviada para análise nos Estados Unidos. O procedimento é interessante para aqueles que têm casos na família e pretendem tomar os cuidados preventivos. Para os dermatologistas é muito simples diagnosticar a calvície em quem já teve o processo iniciado. Um aparelho chamado video scan é acoplado ao computador e viabiliza (por imagens e de imediato) o veredicto no próprio consultório.

Em relação aos medicamentos disponíveis, o que funciona?
O tratamento clínico, feito com finasterida ou dutasterida — receitada quando a primeira não funciona —, impede o progresso da calvície. São medicamentos orais, cuja dosagem varia em função do gênero. Nas mulheres, a dose é mais elevada. Elas também já contam com anticoncepcionais que contêm acetato de ciproterona, substância que inibe a influência dos hormônios andrógenos (masculinos) e que pode prevenir a calvície. Há, no entanto, controvérsias em relação aos efeitos colaterais. No homem, há perda de libido. A bula alerta que ela ocorre em 2% dos casos, mas a nossa prática em consultório indica que 40% dos que tomam finasterida têm a função sexual afetada. Há complexos vitamínicos, mais indicados para queda de cabelo, mas podem ser receitados como complemento da terapia de combate à calvície.

O que é o transplante capilar?
É a transferência de raízes capilares colhidas em regiões da cabeça que não foram afetadas pela calvície para os locais comprometidos por ela. Diferentemente do implante, cujos fios são sintéticos, o transplante usa o cabelo do próprio paciente. O implante pode causar processos infecciosos severos, pois o fio artificial é visto pelo organismo como um corpo estranho. A partir do fim dos anos 1980, a prática de transplantar tufos que promoviam uma estética parecida com cabelo de boneca foi substituída por minienxertos. Hoje, aperfeiçoamos a técnica folicular. Os cabelos não nascem fio por fio, mas em unidades de um a três fios geminados. Elas são extraídas e transferidas. Outras técnicas também são usadas, dependendo da demanda específica do paciente.

Houve, então, um refinamento tanto na extração quanto na técnica que realoca as unidades foliculares?
Sim, sem sombra de dúvida. A retirada das unidades foliculares da área doadora – geralmente as laterais e parte de trás da cabeça, faixas nas quais a genética não incide – é muito mais sutil hoje. Antes, o paciente ficava com cicatrizes horríveis na área doadora, porque removiam-se blocos de cabelos com uma máquina. Hoje, é retirada uma tira do couro cabeludo que vai de orelha a orelha. Uma sutura especial deixa a cicatriz praticamente invisível. O refinamento é tanto que acredito que não há mais como se evoluir tecnicamente.

Quando um transplante capilar é bem-sucedido?
O paciente precisa saber que será submetido a uma cirurgia. No Brasil, existem cerca de 10 equipes, no máximo, capacitadas para realizar o transplante em alto nível. A cirurgia é definitiva, o cabelo transplantado cresce normalmente, pode ser pintado, receber relaxamento e até chapinhas. Em alguns casos, uma cirurgia resolve. Em outros, são necessárias três ou quatro para cobrir a área comprometida pela calvície.

O senhor não seria um candidato ao transplante?
Infelizmente, me incluo entre os casos que não podem ser beneficiados pela cirurgia. Quem tem área doadora insuficiente, como eu, não terá um resultado satisfatório, porque a região calva é grande e não há cabelo suficiente para encobri-la. O transplante, então, é contraindicado pelos profissionais sérios, porque, esteticamente, não traz bons resultados. Em mulheres, essa impossibilidade é mais pronunciada. Dos 30% das que têm calvície, apenas um terço tem indicação para transplante. Nos homens com o problema, somente 5% não têm área doadora. Essa avaliação é clínica e fundamental para que o profissional não faça o procedimento indevidamente. Pacientes com doenças autoimunes, como lúpus, não podem fazer o transplante.

Como é o procedimento em si?
O transplante capilar é uma cirurgia que pode durar até seis horas e deve ser feita com anestesia local e sedação para que o paciente fique tranquilo e imóvel durante a intervenção. É aconselhável que seja realizada em hospital especializado em cirurgias estéticas. A fase da preparação para a implantação das mudas, que podem chegar a 2 mil, precisa de ambiente muito frio para não comprometer o material. Elas podem morrer se a preparação não for feita adequadamente. Daí, o cirurgião dá início às perfurações no couro cabeludo para implantar as mudas. No procedimento, trabalham, no mínimo, 10 pessoas. Prefiro que o paciente fique pelo menos 24 horas no hospital para monitorarmos o pós-operatório. Depois da cirurgia, colocamos uma bandagem na cabeça por 12 horas. O cabelo implantado cai em 20 dias. O definitivo começa a brotar a partir do terceiro mês, deixando a calvície no passado.

Qual a idade ou o tempo ideal para se fazer um transplante capilar?
A calvície, principalmente nos jovens, traz prejuízos emocionais enormes. É uma fase de afirmação pessoal e profissional. Se há uma rarefação ainda na juventude, ministramos tratamento clínico para desacelerar o processo e indicamos a cirurgia para repor os cabelos perdidos. O transplante pode ser recomendado dos 18 aos 80 anos. O que importa é que o paciente esteja bem física e clinicamente. É muito bacana para nós, cirurgiões, contribuirmos para devolver a autoestima dessas pessoas.

 

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