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Estado de Minas

Cerca de um terço da população mundial foi ou será infectado pela hepatite

Cerca de um terço da população mundial foi ou será infectado pelos vírus da hepatite.


postado em 27/07/2011 08:34 / atualizado em 27/07/2011 08:54

Stanislau alerta para a má qualidade do pré-natal e para os casos crônicos (foto: Arquivo pessoal/Divulgação)
Stanislau alerta para a má qualidade do pré-natal e para os casos crônicos (foto: Arquivo pessoal/Divulgação)
Dois bilhões de pessoas, ou um terço da população da Terra. Este é o número de pessoas no mundo que em algum momento da vida foram ou estão contaminadas pelos vírus de algum tipo de hepatite, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Para especialistas brasileiros, a falta de políticas públicas em relação à doença – caracterizada por uma inflamação no fígado e que pode levar à morte dependendo do caso – e o desconhecimento de grande parte da população sobre os riscos de contaminação são as principais causas da ampliação do contigente infectada por um mal que mata 1 milhão de pessoas a cada ano no planeta.

Os dados foram divulgados na antevéspera do Dia Mundial da Hepatite, celebrado amanhã e instituído em 2010 pela OMS para alertar as autoridades de saúde pública sobre os perigos de mais uma epidemia que ameaça a humanidade. "Essa é uma doença crônica ao redor do mundo inteiro, mas, infelizmente, há uma consciência muito baixa sobre ela, mesmo entre os responsáveis pelas políticas de saúde", alertou o especialista em hepatite da organização Steven Wiersma em uma entrevista coletiva na sede da OMS, em Genebra, na Suíça. "Somadas, (as hepatites) elas mantêm um peso imenso nos sistemas de saúde, com um potencial para causar epidemias de problemas mais graves (de doenças colaterais)como cirrose e câncer", acrescentou.

O nome hepatite engloba uma série de doenças hepáticas. Apesar de também poderem ser originadas por uso de medicamentos e estilo de vida, entre suas principais causas da hepatite estão os vírus, que dão origem às cinco variáveis da doença reconhecidas pela comunidade médica no mundo: A, B, C, D e E, que têm diversas formas de transmissão – desde o sexo sem proteção, à contaminação por água pela falta de saneamento básico ou por meio água contaminada de enchentes, passando pelo uso de seringas e contato sanguíneo (veja o infográfico abaixo).

A falta de informação, aliada ao silêncio da evolução das hepatites crônicas virais, dificulta o diagnóstico precoce. Por causa disso, pelo menos a metade dos infectados evoluirão para a forma mais avançada da doença e, desses, 25% terão cirrose hepática e/ou câncer de fígado. Se o vírus B é o mais comum, com 500 milhões de novos casos por ano, em segundo lugar vem a variante C, com 150 milhões de notificações anuais. "No caso da hepatite B, temos uma forma extremamente eficaz de prevenção, que é a vacinação", explica Maria Lúcia Ferraz, diretora da Casa das Hepatites, ambulatório especializado na doença ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Como a maioria das doenças ligadas ao fígado, as hepatites se desenvolvem de forma silenciosa. "Quando os sintomas aparecem, é porque o órgão já está muito debilitado. Além disso, mesmo que estes surjam de forma precoce, em geral os sinais são brandos", constata Maria Lúcia. Há casos em que a doença demora de 10 a 20 anos ou mais para se tornar evidente por meio de sintomas.

A boa notícia, entretanto, é que a introdução pelo sistema público de saúde dos testes rápidos, assegurados pelas alterações feitas no protocolo do Ministério da Saúde no dia 18, vai agilizar o diagnóstico e melhorar o acesso ao tratamento, com o melhor uso de medicamentos. "Juntamente com o tratamento convencional (combinação do Interferon peguilado associado à ribavirina) os medicamentos Telaprevir e Boceprevir representam uma esperança contra essa endemia que ameaça o mundo", afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), Raymundo Paraná. Segundo ele, as hepatites virais são consideradas as maiores endemias mundiais. "Só para fazer uma comparação, a infecção pelo HIV, que causa a Aids, atinge 33 milhões de pessoas no mundo."

Na prática, o que o paciente pode esperar é a descomplicação na busca pelo tratamento, com um medicamento mais eficaz e, em alguns casos, o prolongamento desse tratamento (hoje de até 72 semanas), que pode ser prescrito pelo próprio médico. Antes, se o paciente precisasse tomar o remédio por um período maior, tinha que ter uma autorização do Comitê Estadual de Hepatites Virais. O desafio do Ministério da Saúde agora é promover uma divulgação em massa, fazendo com que o maior número de pessoas se conscientize sobre a gravidade da doença e a necessidade de se prevenir contra todos os vírus. Para isso, uma campanha será deflagrada amanhã, quando é comemorado o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais. Uma das ideias é incorporar o teste de hepatite C aos exames de sangue de rotina.

Crônica

Segundo o infectologista Evaldo Stanislau, a altíssima frequência de um dos tipos da doença se deve a pouca oferta e à má qualidade do pré-natal, especialmente em países da Ásia, como Índia e China. "Enquanto nos adultos a hepatite B tem apenas 10% de chance de se tornar crônica, nas crianças essa chance é de 90%", relata o especialista. Ao se tornar crônica, o indivíduo passa a carregar o vírus para o resto da vida, aumentando a chance de transmiti-lo, com o vírus tipo B, de mãe para filho. "Na hora do parto, em locais onde o atendimento para gestantes não é adequado, a prevalência costuma ser bastante alta", acrescenta Stanislau.

No quadro da enfermidade apresentado pela OMS, cerca de 15% dos casos no mundo que se tornam crônicos são os que exigem mais atenção dos governos e da população. Segundo a instituição, para a doença ser considerada crônica, é necessário que, seis meses depois do contágio, o paciente ainda apresente carga viral.

Testes em série

O Sistema Único de Saúde (SUS) passa a oferecer, a partir de agosto, testes rápidos para a detecção das hepatites B e C, as formas mais comuns e mais graves da doença. Os exames, cujos resultados ficarão prontos em 30 minutos, terão investimentos de R$ 10,6 milhões do Ministério da Saúde para a aquisição de 3,6 milhões de testes. Eles serão oferecidos, inicialmente, nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) das capitais do país e serão estendidos às unidades básicas de saúde.

Esses testes são exames de triagem — o paciente que tiver o resultado positivo para hepatite B ou C será encaminhado para a rede de saúde para ter seu diagnóstico concluído. Para o procedimento do exame é necessária apenas uma gota de sangue.

Todos aqueles que passam pelo exame recebem aconselhamento antes e depois da testagem, do mesmo modo como no diagnóstico da infecção pelo HIV. Até o fim do ano, a rede de laboratórios que realiza os exames de biologia molecular para as hepatites B e C será ampliada de 16 para 38 unidades. O Ministério da Saúde vai, ainda, realizar a compra e a distribuição de exames de carga viral e genotipagem (biologia molecular) para hepatite C.

 


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