Em um de seus casos, um homem que dizia não ter condições de pagar um certo valor de pensão e que se apresentava como um profissional liberal sem renda comprovada foi desmentido pela ex-esposa, que apresentou fotos dele em restaurantes caros e em viagens internacionais. Todas as imagens foram retiradas do Facebook do réu.
“Você tem 580 amigos no Facebook, mas, desse grupo, talvez 2% possam ser chamados assim”. O alerta é de Wanderson Castilho, de 40, perito digital e autor do livro Manual do detetive virtual, que mostra que quanto mais a internet se espalha, mais a privacidade das pessoas diminui. Uma de suas clientes recorreu a ele depois de o ex-chefe postar em sua página, no Facebook, a seguinte questão: “Como você me imagina em quatro paredes?”. O constrangimento foi grande, como se pode prever. Castilho precisou esclarecer que tudo não passava de perguntas criadas aleatoriamente por um aplicativo. Seu cliente não teria sido o autor direto da questão. Mas o mal-estar entre eles permaneceu.
Palavra de especialista
Extrema exposição
• Lecy Rodrigues Moreira, psicanalista e professora de psicologia do Centro Universitário UNA
“As pessoas não têm muita noção da amplitude das redes sociais. A grande maioria dos usuários ainda é ignorante perante a web. Pensam que só existe o universo deles, esquecem que outros universos vão se apoderar de suas informações. Existe também a questão do recalque de parte da realidade. A rede vira válvula de escape do indivíduo. Outro ponto é a necessidade de estar conectado a alguém. É comum se perguntar: há quantas pessoas na sua rede? O número dá status. Mas são todos relacionamentos superficiais. É um retorno rápido. Você minimamente precisa ter reconhecimento, é uma forma de racionalização. O internauta fica meio ‘avestruz’, com a cabeça escondida na terra... Ninguém me vê, mas ao mesmo tempo todo mundo me adora. A base dessa superexposição são as modalidades de relacionamentos vazios que as pessoas têm hoje. A rede supre a carência desse abandono.”
* Nome fictício