Jornal Estado de Minas

Morador de Nova Lima dá exemplo de como cultivar a boa saúde em casa

Déa Januzzi
Entre, a casa é do arquiteto Carlos Solano, de 56 anos. É mais escondida do que as outras, na Alameda dos Jaçanãs, no Retiro do Chalé, em Nova Lima. Antes de conhecer os hábitos do morador, é preciso conhecer o feng shui, técnica milenar chinesa que se importa mais com o invisível, o vazio dos lugares e da arquitetura do que com o espaço material e seus objetos.
Tire os sapatos e calce sandálias, que estão dispostas numa enorme cesta de palha. “Nada a ver com religião, mas com higiene”, avisa Solano. Deixe a sujeira lá fora para conhecer as dicas de uma casa saudável, que se reflete na qualidade de vida dos moradores. Antes, sinta o cheiro que exala por toda a casa. É perfume de bolo de fubá saindo do forno. A receita com fubá, ovos caipiras e leite de coco é da mãe dele. Comer o bolo com chá de alecrim e hibisco faz qualquer um sentir que está bem perto do paraíso. Tudo servido em pratos e canecas de cerâmica feitas por ele mesmo. Há flores por toda a casa e pequenos altares estrategicamente colocados em pontos onde o olhar passeia como uma prece. A música ao fundo é a Nona sinfonia de Beethoven, que purifica os ouvidos e a mente dos visitantes. Colchas de crochê cobrem as camas, numa indicação de que o fazer com as mãos tem mais força atualmente que o realizado pelas máquinas.

Aspire a hospitalidade do dono dessa casa, que já viajou pela China, Tibet, Nepal, Europa e Estados Unidos para aprender lições da sabedoria milenar de manter a casa em harmonia com os moradores, com toques simples como trocar os detergentes por um limpa tudo feito em casa. Ele também passou oito anos pelo interior de Minas em busca do conhecimento das benzedeiras. Com dona Francisca, sua benzedeira-mor, aprendeu segredos como o das águas de cheiro para desintoxicar o ambiente. Preste atenção em todos os detalhes dessa casa compacta, que tem tudo o que o dono necessita e que está alicerçada na simplicidade. “Aqui dentro tenho tudo o que considero fundamental.”

Ele define as casas que projeta como pontes. “Essa é a proposta, de que a casa seja uma passagem para uma realidade mais saudável e ecológica. A gente não vive essa realidade, que, infelizmente, ainda está distante. Para começar, cada um de nós tem que fazer essa travessia. Toda casa deve ser uma ponte para uma realidade ecológica em um mundo mais saudável.”

Mas não pense que uma casa ecológica tem que ser construída com tecnologias verdes, como, por exemplo, tijolos reciclados, aquecedor solar ou coleta de água de chuva. Sim, elas fazem parte, mas “ninguém precisa edificar uma casa para ser saudável. Sua casa atual, seja um apartamento ou um cômodo, pode ser saudável, sem gastar muito. Sabe por que? Porque uma casa não é feita só de tijolo e argamassa, mas de hábitos, de memórias, de intenções. Ela é viva em padrões de comportamento e relações. Isso é o que torna uma casa ecológica ou não”, avisa Solano.

O geobiólogo Allan Lopes, mestre em biologia da construção, também vai mostrar como a presença de um celular ao lado da cama pode aumentar os radicais livres, interferir no sono, nas ondas cerebrais, provocar doenças enquanto você dorme. Allan diz também como conviver com a tecnologia em casa sem perder a saúde e a paz. Com atitudes simples e econômicas, como ele fez no seu apartamento. Depois de medir as energias do espaço, optou por dormir na sala, o melhor lugar da casa.