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Estado de Minas OS FIRMES E OS FROUXOS

Brasil é um dos países menos rígidos

Pesquisa mostra que nações com escassez de recursos naturais e que passaram por guerras ou epidemias costumam originar sociedades mais retraídas e atentas a normas.


postado em 27/05/2011 07:54

(foto: Animação EM)
(foto: Animação EM)
Poucos eventos conseguem mostrar tanto a variedade dos comportamentos sociais quanto a Copa do Mundo. Enquanto 22 jogadores e uma bola fazem o trabalho dentro do campo, nas arquibancadas, as torcidas dão seu próprio espetáculo. Dos moradores das Américas, da África e da Europa ocidental saem as manifestações mais animadas. O público de países árabes e asiáticos também saúda suas seleções, brinca e comemora, mas de forma bem menos expansiva. Diferenças como essas também podem ser observadas em visitas a outras nações. O choque cultural, em menor ou maior grau, sempre vai ocorrer.

O que molda o comportamento dos indivíduos de determinada população é um assunto que sempre interessou os antropólogos. A resposta pode estar nos desafios enfrentados pelas diversas sociedades. Um estudo publicado hoje na revista Science, realizado em 33 países dos cinco continentes, mostrou que conflitos históricos, como guerras, ou ambientais, como a suscetibilidade a desastres naturais, estão por trás da maneira como as pessoas de diferentes populações se comportam.

Recuperando termos usados para nomear tipos de sociedades da pré-história, a antropóloga social Michele J. Gelfand, da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, dividiu os povos modernos em dois: tight e losers, expressões que podem ser traduzidas como firmes e frouxos. Pertencer à segunda categoria — caso do Brasil e dos Estados Unidos — não tem nada de pejorativo. Os adjetivos se referem à força do controle social. Países tidos como firmes são aqueles nos quais a mídia é mais vigiada, as liberdades mais contidas e os governos menos democráticos. O comportamento de cada indivíduo reflete, de acordo com a pesquisa, a organização governamental. Povos provenientes de países firmes tendem a se preocupar mais com normas. Já os frouxos são os que costumam dar uma risada alta dentro de uma biblioteca, mesmo sabendo que esse é um ambiente onde o silêncio é fundamental.

Michele conta que, longe de ser uma preocupação moderna, impulsionada pela globalização, o entendimento da diversidade de comportamentos era algo que intrigava os estudiosos mesmo antes de Cristo. Em 400 a.C., o historiador grego Heródoto documentou em suas Histórias uma grande variedade de práticas culturais observadas ao longo de suas viagens. Mas só nas últimas décadas os acadêmicos procuraram entender o motor de tamanha diversidade. “Agora, examinamos a diferença entre nações que são ‘firmes’ — têm normas rígidas e baixa tolerância a desvios de comportamento — e aquelas ‘frouxas’, cujas leis são mais fracas e a tolerância aos desvios é maior”, escreve a antropóloga no artigo da Science.

Com a colaboração de 45 colegas, ela pesquisou o comportamento de mais de 6.823 pessoas de 33 países, incluindo o Brasil, pertencentes às mais variadas ocupações, de estudantes a empresários. A partir de um modelo estatístico, as respostas foram computadas e chegou-se a um índice de ‘firmeza’ de cada nação. O Brasil, que participou com 196 pessoas do estado de São Paulo, atingiu 3,5, o sétimo índice mais baixo. Os EUA chegaram a 5,1. No fim do ranking, como país mais frouxo, está a Ucrânia, com índice de 1,6. Do lado oposto, a nação mais firme é o Paquistão: 12,3. Outros países dessa categoria são Japão (8,6), Índia (11), Cingapura (10,4) e Coreia do Sul (10)
.
"Sociedades que têm de encarar uma variedade de desafios ecológicos e históricos, como alta densidade populacional, escassez de recursos, epidemias e desastres naturais, tendem a ser mais firmes do que aquelas que não passam por esses desafios", diz Gelfand, em entrevista ao Estado de Minas.

Questionário

Para relacionar fatores naturais, força das leis e respeito às normas ao comportamento individual, os pesquisadores aplicaram questionários nos quais os participantes davam notas para mostrar o quanto consideram aceitável ou não agir de determinada maneira em várias situações sociais. Os voluntários avaliavam se é adequado chorar em um parque público, flertar em uma igreja ou ler o jornal enquanto aguarda uma entrevista de emprego. O cruzamento das notas dadas aos comportamentos e aos locais/situações resultaram em 180 diferentes pontuações.

Tabulados, os dados foram comparados a outro levantamento: a suscetibilidade de cada um dos 33 países aos desafios históricos e ambientais. Daí, descobriu-se que nações firmes têm déficit de recursos naturais, como poucas áreas cultiváveis, muita privação de alimentos, pouco acesso a água potável e baixa qualidade do ar, comparando-as aos países frouxos. Eles enfrentam mais desastres naturais, como alagamentos, ciclones e secas, além de terem enfrentado, em sua história contemporânea (de 1918 a 2001), problemas territoriais com os vizinhos.

Exceções às regras “A firmeza e a frouxidão são refletidas nas práticas das instituições sociais”, afirma o estudo. Como consequência dos desafios enfrentados no dia a dia, nações fortes são mais propensas a regras autocráticas, menos abertas às mídias, têm leis mais duras, menor acesso às novas tecnologias de comunicação, menos liberdades civis e direitos políticos. Em compensação, há mais policiais per capita e menores taxas de assassinatos e roubos. Nesses locais, a população é mais religiosa e participa mais ativamente de ações para o bem coletivo. O estudo ressalta, porém, que dentro de países firmes e frouxos há exceções a essas regras. O Japão é uma nação firme, suscetível a desastres naturais e com forte respeito individual às leis. Porém, o arquipélago também é um país democrático.

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