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Estado de Minas

Reprogramação celular promete evitar a cegueira

Usando células-tronco do próprio paciente, cientistas da Universidade de Georgetown, nos EUA, conseguem recuperar estruturas da retina atingidas pela degeneração macular


postado em 05/04/2011 10:45 / atualizado em 05/04/2011 10:59

Clique para ampliar a imagem(foto: Animação EM)
Clique para ampliar a imagem (foto: Animação EM)


A cura para a cegueira provocada pela degeneração da mácula pode estar no organismo do próprio paciente. Pela primeira vez, um estudo mostrou ser possível regenerar as estruturas danificadas em decorrência da idade a partir de células-tronco adultas. Publicada no jornal especializado Stem Cells, a pesquisa do Centro Médico da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, abre a possibilidade de criar células da retina derivadas de estruturas pluripotentes induzidas, aquelas que são manipuladas para se transformarem em qualquer tipo de tecido.

Principal causa de deficiência visual e de cegueira em todo o mundo, a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) tem duas formas predominantes: seca e úmida. A primeira é a mais comum, respondendo por quase 90% dos casos. A doença destrói gradualmente a visão central, necessária para visualizar objetos de forma clara e executar tarefas cotidianas, como ler e dirigir. O avanço ocorre com a morte do epitélio pigmentar da retina, camada escura que alimenta as células do olho.

Embora alguns tratamentos possam ajudar a retardar sua progressão, não há cura para o mal. A descoberta de que células-tronco pluripotentes induzidas (HIPS) são capazes de regenerar o epitélio abre caminho para novas terapias, que usem células-tronco do próprio paciente na fabricação de um novo tecido para os olhos. Cientistas já imaginavam que isso fosse possível, mas a viabilidade do transplante estava associada à capacidade de os pesquisadores entenderem como células retiradas da própria pessoa poderiam ser reprogramadas para adquirirem as mesmas características do epitélio pigmentar da retina.

A pesquisa realizada pelos cientistas da Universidade de Georgetown mostrou que essa etapa crítica da medicina regenerativa progrediu bastante. “Esta é a primeira vez em que células pluripotentes induzidas foram produzidas com características e funcionamento iguais aos das células que compõem o epitélio pigmentar da retina”, disse ao Estado de Minas Nady Golestaneh, professora assistente de bioquímica molecular e principal autora do estudo.

Usando uma linhagem de células estaminais — aquelas cuja função ainda não foi estabelecida pelo organismo —, Nady e sua equipe constataram que, reprogramadas, essas estruturas têm fisiologia e funcionamento idênticos aos de um epitélio pigmentar natural. “A pesquisa ainda não está pronta para ser colocada em prática”, adverte, porém, a bióloga. “Também identificamos algumas questões que precisam ser trabalhadas antes que essas células estejam prontas para o transplante. Mas, no geral, o estudo é um passo enorme na medicina regenerativa”, acredita.

A pesquisadora conta que um dos desafios que precisam ser superados é o fato de as células reprogramadas apresentarem um rápido encurtamento do telômero — estrutura formada por cadeias de proteína e DNA —, além do aumento da expressão P21, problema que pode causar uma atrofia no crescimento celular. Para aplicações clínicas, os cientistas terão de descobrir como gerar células-tronco pluripotentes induzidas sem defeitos que, mais tarde, possam comprometer o paciente. “O próximo passo dessa pesquisa é nos concentrarmos na geração de uma linhagem mais segura e viável derivada de células somáticas”, afirma Nady.

Aval para testes

As células-tronco embrionárias também são cotadas como terapia potencial para a cura da degeneração macular relacionada à idade. Em janeiro, a empresa americana Advanced Cell Technology recebeu autorização da Food and Drug Administration (FDA), o órgão de vigilância sanitária dos Estados Unidos, para realizar testes clínicos com células epiteliais pigmentares da retina derivadas de estruturas embrionárias humanas.

“A ACT foi a primeira empresa a receber autorização do FDA para dois ensaios com células embrionárias. Esse é um passo muito importante, não só para as pesquisas concentradas em células-tronco, mas para a medicina em geral. Pretendemos começar nossos testes o mais rápido possível”, afirmou Gary Rabin, presidente da empresa, por meio da assessoria de imprensa. A primeira fase do estudo não se destina a investigar a eficácia do tratamento, mas a segurança e a tolerância dos pacientes às células-tronco. Doze pessoas provenientes de diversos centros clínicos vão participar.

“Com o envelhecimento da população, a incidência da DMRI deverá dobrar nos próximos 20 anos, tornando ainda mais necessárias as pesquisas que visam a curar esse mal. Com as células-tronco, somos capazes de gerar uma fonte virtualmente ilimitada e saudável de células saudáveis”, disse ao EM Robert Lanza, diretor científico da ACT e responsável pelo estudo. "Com base nas pesquisas feitas em modelos animais, estamos muito animados com a oportunidade de tratar os pacientes. Em ratos com degeneração macular, observamos uma melhora significativa na acuidade visual, comparando-se aos animais não tratados, e sem qualquer efeito colateral.

Transplante em ratos

O resultado do estudo liderado por Lanza foi publicado na revista especializada Cloning and Stem Cells. Com pesquisadores da Universidade de Utah, ele cultivou células-tronco embrionárias em laboratório e, depois, as transplantou nos olhos de ratos que foram manipulados para desenvolver degeneração macular. No artigo, os autores relataram 100% de melhora no desempenho visual geral dos animais tratados, em comparação com o grupo de controle. Nos ratos que receberam o transplante, a acuidade espacial — capacidade de enxergar detalhes — melhorou aproximadamente 70%. “Esses dados são muito animadores, pois mostram que um dia será possível tratar doenças oftalmológicas que afetam os humanos com células-tronco”, acredita Lanza.

Segundo ele, uma vantagem das células-tronco embrionárias humanas em relação às adultas é que elas seriam menos sensíveis à rejeição do que as pluripotentes induzidas. “Todas as 18 linhagens de células-tronco embrionárias que utilizamos no estudo mostram capacidade de recuperar a função visual de animais que poderiam ficar cegos. E o mais importante é que as células não causaram qualquer resposta indesejável depois do transplante”, conta o pesquisador.

"Esta é a primeira vez em que células pluripotentes induzidas foram produzidas com características e funcionamento iguais aos das células que compõem o epitélio pigmentar da retina"

Nady Golestaneh, professora assistente de bioquímica e principal autora do estudo

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