Jornal Estado de Minas

Fisioterapeuta desenvolve assento para portadores de paralisia cerebral

Proporcionar melhor qualidade de vida, sobretudo às crianças com paralisia cerebral. Foi pensando dessa forma que a fisioterapeuta mineira Mariana Volpini, especialista em fisioterapia neurológica pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e mestre em bioengenharia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desenvolveu um assento articulado, capaz de alterar a distribuição de peso do paciente sobre a cadeira de rodas, melhorando o alinhamento postural e, consequentemente, evitando as traumatizantes úlceras de pressão (escaras que podem atingir o osso).



O acessório é resultado da dissertação de mestrado da especialista – Análise da influência do assento articulado na distribuição de peso –, defendida há um ano. O protótipo foi desenvolvido no laboratório LabiBio, coordenado pelo professor Marcos Pinotti Barbosa, do próprio Departamento de Engenharia Mecânica (Demec/UFMG).

"Sempre gostei da prática e da área de órtese e equipamentos terapêuticos. Daí optei pela área de cadeira de rodas, justamente por causa da dificuldade que havia percebido de adaptações dessas cadeiras, que são feitas manualmente mesmo, com espumas, uma coisa bem individualizada, mas bastante empírica. Não havia, desde então, nada científico. Então, pensei em desenvolver um assento articulado que, conforme o desenho do corpo da pessoa, você conseguiria angulá-lo para tentar melhorar o alinhamento", conta Mariana, que é profissional da Associação Mineira de Reabilitação/Hospital Ortopédico, e atende cerca de 400 crianças com paralisia cerebral e outras disfunções motoras na unidade.

Segundo a fisioterapeuta, há estudos comprobatórios de que, com o alinhamento postural, a criança consegue desenvolver a percepção visual e do ambiente, melhorando funções manuais por causa do tronco ereto e beneficiando os tratos digestório e respiratório.



O assento, angulado por parafusos, foi testado em indivíduos normais para evitar as inúmeras variáveis nos resultados, segundo Mariana. "Fiz os testes em quatro posturas diferentes, porque como o paciente com paralisia cerebral já tem desalinhamento biomecânico, se eu testasse direto nele haveria muitas variáveis e seria muito difícil concluir. Daí, minha dificuldade passaria a tentar saber se era por causa do controle de troca ou da acuidade que ele já tinha. Então, fiz o teste em indivíduos normais, rígidos, sem comprometimento, sem nenhum desalinhamento. E pude concluir que ele é capaz de melhorar o alinhamento postural", esclarece.

Mas ela ainda prevê adaptações, que objetivam melhorar a condição do paciente. "Na verdade, testei uma propriedade do assento, que é ele se inclinando para frente, para trás e para os lados. Não testei a possibilidade de ele ficar solto. Até colocamos um sistema de molas por baixo dele, mas não foi testado. Neste caso, para o paciente, durante os movimentos que faz, o assento solto permitiria uma variação da pressão do peso."

Cadeiras adaptáveis

A fisioterapeuta acrescenta que o assento não foi pensado exclusivamente para crianças. "Mas como as cadeiras de rodas para esses pacientes são as mais adaptáveis, uma vez que eles tendem a permanecer nelas por 18 horas diárias, era importante conseguirmos um bom alinhamento postural para eles, por que serão um adolescente, um adulto, e a partir daí conseguimos prevenir deformidades ou postergar cirurgias, oferecendo uma melhor qualidade de vida a essas pessoas. O adulto, às vezes, já tem uma deformidade, que só é corrigida cirurgicamente", esclarece.

A intenção da especialista é fazer do assento, já registrado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e patenteado pela própria universidade, um kit opcional que poderia ser acoplado à cadeira de rodas, que está perto de R$ 1,5 mil. O custo, assim, poderia ser reduzido. "Realmente, fazer com que tenha um bom custo/benefício é um desafio", opina.