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Estado de Minas

Estudo mostra como fitoterápico pode reduzir lesões por endometriose


postado em 24/03/2011 15:46

Uma planta típica da América Central e do Sul pode ser uma forte aliada no tratamento da endometriose - doença caracterizada pela penetração do tecido endometrial, aquele que escama e é liberado na menstruação, em órgãos como os ovários, na parede abdominal, nas tubas uterinas, na bexiga, no reto e até entre as vísceras. Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Laboratório de Cirurgia Experimental da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) com ratas sofrendo de endometriose induzida revela como um fitoterápico feito com unha-de-gato - uma espécie de trepadeira muito comum na Floresta Amazônica - diminuiu em 60% as lesões causadas pela doença. Devido ao ótimo resultado, o próximo passo do estudo é avaliar a eficácia da erva em humanas. Com a comprovação positiva, mulheres com a doença poderão comemorar, uma vez que o tratamento atual consiste em suspender a menstruação, o que acarreta a esterilidade.

O ginecologista especialista em endometriose João Nogueira - autor da pesquisa que faz parte do trabalho de doutorado na UFMA - conta que utilizou ratas com endometriose experimental (os pesquisadores retiram um pedaço do útero e implantam no peritônio, membrana que cobre a região abdominal). Duas semanas depois da administração do extrato de unha-de-gato (Uncaria tomentosa) foi comparado o tamanho da endometriose entre as ratas que receberam a medicação com aquele nas que receberam soro fisiológico. "Observamos a redução de 60% da doença nas que usaram o fitoterápico", diz. Segundo ele, a substância foi administrada diariamente, com a ingestão de comprimidos de 32mg, durante os 14 dias.

De acordo com o ginecologista e coordenador do Ambulatório de Endometriose e Dor Pélvica da Unifesp, Eduardo Schor, o estudo aponta uma nova alternativa para o tratamento da endometriose. Desde a década de 1980, não há novidades nesse sentido e o arsenal de drogas disponíveis age apenas bloqueando a menstruação. "Possuem, portanto, efeitos colaterais significativos e o estudo, apesar de experimental, sinaliza uma nova opção de tratamento", comemora.

Nogueira explica que a ação específica do fitoterápico em relação à endometriose ainda não foi totalmente estabelecida, mas todas as propriedades da erva - anti-inflmatória, antibacteriana, antioxidante, imunomoduladora e antiviral - podem levar à amenização da doença. "A estratégia da linha de pesquisa é buscar tratamentos que atuem em alterações da endometriose, como processos inflamatórios, distúrbios imunológicos e estresse oxidativo", comenta. Vale lembrar que o uso da unha-de-gato no tratamento da endometriose é experimental. Os médicos não aconselham utilizar o fitoterápico por conta própria.

Eduardo Schor complementa que diversos estudos utilizaram a planta para outras finalidades, sem que nenhum efeito colateral significativo tenha sido identificado. A maioria dos efeitos colaterais, segundo ele, referem-se ao trato gastrintestinal, como náuseas, prisão de ventre e dor estomacal. "Estamos obtendo resultados favoráveis em mulheres com endometriose tratadas no ambulatório, principalmente no que se refere às queixas de dor", informa.

Hipóteses

A ginecologista Adriana Cocinell explica que as causas da doenças ainda não são comprovadas, mas uma das hipóteses é de que algumas mulheres não possuem o anticorpo que inibe a implantação dos tecidos endometriais. "Pode ser também que o útero da mulher seja retroverso ou até mesmo que o problema seja causado pelo uso de absorvente interno", opina. Ela conta que há a desconfiança também de que um fluxo menstrual muito forte ou mesmo uma possível carga genética podem causar a doença.

De acordo com o ginecologista Eduardo Schor, as mulheres que possuem casos de endometriose na família (mãe e irmãs) têm sete vezes mais chances de desenvolver a doença. "Duas pesquisas realizadas pela Unifesp também apontam que mutações genéticas estão envolvidas no processo. Duas dessas mutações já foram identificadas, sendo que uma delas, identificada como P27, foi descoberta por nós", afirma. Schor explica que a presença das mutações aumenta em duas vezes as chances de as mulheres terem a doença. "A análise in vitro de células de 104 mulheres com a doença mostrou que a mutação P27 estava presente em 35% do grupo. Nas 109 mulheres sadias avaliadas, essa presença foi detectada em apenas 22% delas", salienta.

Frente a essas descobertas, o grupo trabalha no desenvolvimento de instrumentos de terapia gênica para o tratamento da endometriose. "O uso de adenovírus carregando genes que restabelecem a normalidade genética foi testado em cultura de células de endometriose e os resultados foram promissores", descreve.

O ginecologista investiga ainda a relação da dioxina, substância poluente usada na confecção do plástico e derivados do petróleo, no aparecimento da doença. "Um trabalho de iniciação científica mostrou uma forte tendência estatística de alteração celular da endometriose quando exposta a essa substância", afirma. Entretanto, ele ressalta que mais pesquisas são necessárias para definir se algum poluente, inclusive a dioxina, está mesmo envolvido na gênese da endometriose. A doença, segundo ele, progride e, em estágios iniciais, a cura pode ser alcançada, seja com tratamento clínico ou cirúrgico. Já quando a doença avança, o objetivo torna-se apenas deixá-la sob controle. "Por isso, o diagnóstico precoce é essencial", acredita.
Adriana Cocinell acredita que a pesquisa é uma iniciativa válida, porque algumas mulheres sentem falta da menstruação e o objetivo do tratamento com unha-de-gato é não suspendê-la. "Sobretudo, dessa forma a paciente não corre o risco de ficar estéril", acredita.

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