Jornal Estado de Minas

Compra de eletrônicos fora do país é mais confiável e barato

Recorrer a sites que não cobram frete ou lotar a mala em viagens internacionais são alternativas encontradas para adquirir eletrônicos

Fred Bottrel
"Com o câmbio favorável, é o melhor negócio. Mesmo se ultrapassar o limite e o viajante tiver que declarar o valor à receita, o imposto será só de 50%; vale muito a pena". Fabiano Antonacci, advogado tributarista - Foto: Túlio Santos/EM/D. A PressApaixonado por eletrônicos, o advogado tributarista Fabiano Antonacci Neves é daqueles que, se quer comprar um televisor novo, cultiva a paciência. Espera até que pinte uma viagem ao exterior e não pensa duas vezes: abre a carteira em dólar. Com isso, comprou, nos EUA, uma TV de LED de 22 polegadas, que aqui sairia por R$ 1 mil, pelo preço equivalente a R$ 667, na cotação de ontem. “Como o limite para a compra de eletrônicos do tipo é de US$ 500, sempre dá para trazer muita coisa de uso pessoal mesmo.”
No apartamento dele, é raro o eletrônico que não veio de fora. “O iPad que aqui custa mais de R$ 1,5 mil, comprei por US$ 500. Com o câmbio favorável, é o melhor negócio. Mesmo se ultrapassar o limite e o viajante tiver que declarar o valor à receita, o imposto será de só 50%; vale muito a pena”, indica.

A prancheta eletrônica sensação do momento é bom exemplo. O iPad, da Apple, no Brasil, é o mais caro do mundo. Estudo da Macworld Brasil comparou os preços do tablet em 10 países e o mesmo aparelho que custa aqui pelo menos R$ 1.650 pode ser comprado, nos EUA pelo preço equivalente a R$ 833. A capinha de couro, acessório que protege o brinquedo, nas prateleiras da Apple Store americana tem etiqueta marcando US$ 30 (R$ 50). Por aqui custa R$ 150. A assessoria de imprensa da empresa no Brasil informou que não comenta oficialmente o assunto.

No shopping Oiapoque, no Hipercentro de Belo Horizonte, o iPad custa R$ 900. O equipamento que surgiu no caminho da reportagem do Informátic@ em uma das barracas estava sem bateria, o que impossibilitou o teste. A experiência com os HiPhones (iPhones genéricos) dos shoppings populares, contudo, ensina que produtos do tipo costumam, ali, ter a casca bem parecida com o original, mas revelam sistemas operacionais verdadeiramente pitorescos. Ou seja, é o que a cultura popular apelidou, carinhosamente de “falsí”, a forma curta de falsificado.

O hábito de comprar equipamentos eletrônicos em viagens ao exterior já está enraizado no cotidiano de quem quer fugir do suspeito xing-ling dos shoppings populares e adquirir produtos com procedência confirmada e garantia mais eficiente que uma papeleta preenchida à caneta com os dizeres “noventa dias”. É o caso da publicitária Marcela Dantas, que acaba de embarcar para a Argentina com uma lista de encomendas.

"A manete que custa R$ 130 no Shopping Oiapoque (lugar mais barato que achei), lá sai por R$ 90, com garantia internacional da Nintendo! Comprar no Brasil é muito difícil, o negócio é abusar de comprar fora!". Marcela Dantas, publicitária. - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D. A PressEm outra viagem, daquela vez à Colômbia, ela se equipou. Não estava preparada para encontrar, no país vizinho, eletrônicos tão baratos quanto o mininotebook HP por quantia equivalente a menos de R$ 600. “Eu já havia pesquisado por aqui, e no (site) Mercado Livre, em que já se encontram os menores preços, ele custava entre R$ 1 mil e R$ 1,2 mil. Comprar pela metade deste valor foi uma grata surpresa”, comenta. Com a diferença, aproveitou para investir em uma câmera digital de 12 megapixels da Sony.

Desta vez, Marcela fez o dever de casa e vai preparada: de Buenos Aires vai trazer uma manete para Nintendo Wii. Pesquisou na internet e descobriu uma loja com preços que dão olé nos brasileiros. “A manete que custa R$ 130 no Shopping Oiapoque (lugar mais barato que achei), lá sai por R$ 90, com garantia internacional da Nintendo! Estou te falando, comprar no Brasil é muito difícil, o negócio é abusar de comprar fora!”, apregoa.

Equipamentos de uso pessoal, como relógios de pulso, câmeras fotográficas, celulares, leitores de livros eletrônicos, dentre outros, podem entrar no país, sem somar na conta dos US$ 500 de eletrônicos. A regra, que também acaba com a declaração de saída temporária de bens importados do país, vale desde outubro do ano passado e determina que não é possível, por exemplo, trazer duas câmeras ou dois relógios.

Teste chinês
O caminho do eletrônico barato, entretanto, não é restrito aos dispostos a acumular carimbos no passaporte. O analista de marketing Eduardo Pimentel que o diga. Quando descobriu o site chinês Deal Extreme (www.dealextreme.com), levantou uma sombrancelha: “É claro que eu desconfiei demais; frete grátis e eletrônicos muito, muito baratos. Eu e meu pai compramos então uma coisinha qualquer de US$ 2, para testar”. Vinte dias depois, Pimentel recebia a primeira de várias encomendas que começaram com um clique e atravessaram o mundo antes de chegar no apartamento dele, no Bairro Santa Terezinha, em Belo Horizonte.

Para se ter uma ideia, a já citada capinha para iPad (que custa US$ 30 nos EUA e R$ 150 no Brasil) é vendida, no Deal Extreme, a US$ 12. O site não cobra frete, não determina mínimo de pedidos, e o pagamento pode ser efetuado via cartão de crédito ou PayPal. “Com tudo isso, vou comprar mais caro aqui para quê?”, questiona o rapaz.

De acordo com a Receita Federal, um aparelho televisor, por exemplo, tem seu valor acrescido em 67,25%, entre impostos de importação, IPI, PIS/PASEP, Cofins e ICMS. Para câmeras fotográficas, essa porcentagem é de 29,25%, sem o ICMS que varia, neste caso, dependendo dos recursos do equipamento.

Lidar com alfândegas ou com sites internacionais são as alternativas legais para aqueles que são, no fim das contas, o público-alvo desses produtos. A pirataria e o contrabando são as consequências que acabam por abarcar um público maior. Por isso, na visão de João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), diminuir as tarifas incidentes seria medida interessante. “Com eventual redução desses impostos sobre eletrônicos, mais pessoas poderiam ter acesso a esses produtos de forma legal.” A justificativa de proteção da indústria nacional esbarra nos caminhos ilegais que os consumidores, em massa, encontram para adquirir os produtos internacionais – falsificados ou contrabandeados.