Jornal Estado de Minas

Aglomerados Estelares II - Aglomerados Globulares

- Foto: Aglomerados globulares, também conhecidos como aglomerados galácticos, são agrupamentos de estrelas muito densos que estão entre os mais velhos objetos conhecidos no universo. Enquanto os aglomerados abertos se localizam no disco da galáxia, como descrevemos emartigo do dia 13/10/2008, os aglomerados globulares se encontram no halo galáctico, que é a região esférica que envolve o disco. Como 90% destes objetos se encontram dentro de uma faixa de distância de 100 mil anos- luz, o diâmetro estimado para o halo de nossa galáxia é cerca de 200 mil anos- luz. Estes objetos podem possuir mais de centenas de milhares de estrelas. Em geral, têm a forma esférica e as estrelas que os compõem estão ligadas pela interação gravitacional entre elas. Eles, por seu lado, se movimentam em órbitas em torno da galáxia 'presos' pelo campo gravitacional dela. O nome desta categoria de objetos deriva do latim, de 'globulus', que significa pequena esfera. Edmond Halley, o mesmo que descobriu o cometa que leva seu nome, observou pela primeira vez o aglomerado globular Omega Centauro, em 1677, classificando-o como uma 'nebulosa'. Ele está registrado no catálogo do astrônomo grego Ptolomeu, publicado a cerca de dois mil anos atrás, como estrela. O astrônomo inglês Willian Herschel foi o primeiro a reconhecê-lo como aglomerado globular na década de 1830. Omega Centauro é o maior e o mais brilhante destes objetos conhecidos na nossa galáxia. Pode ser observado a vista desarmada ou com o auxílio de um binóculo, numa noite própria, longe da poluição luminosa das cidades, como uma 'manchinha', acima aproximadamente 25a da estrela Beta do Cruzeiro do Sul. A mão humana pode funcionar como uma 'régua' para medir distâncias angulares, como mostra a figura abaixo. A figura seguinte mostra a localização do aglomerado, na marca azul ao centro, em relação ao Cruzeiro do Sul. - Foto: Reprodução internet/ Carta celeste eletrônica Stellarium/ Outras imagens - NASA Omega Centauro está a cerca de 18 mil anos-luz de nós. Sua idade é estimada em 12 bilhões de anos. Em abril deste ano o Telescópio Espacial Hubble publicou resultados de observações combinadas com o Telescópio Gemini, localizado em Cerro Pachon no Chile. Eles indicam na direção da suspeita de haver no centro deste aglomerado um buraco negro de massa intermediária. Medindo a velocidade das estrelas próximas do centro, nota-se que quanto mais perto dele mais rapidamente elas se movem. Este 'tráfego' acelerado indica a atração gravitacional por um objeto muito denso e massivo. A massa estimada para este buraco negro é de aproximadamente 40 mil massas solares. A evidência de buracos negros massivos em núcleos de galáxias e de buracos negros de menor massa, resultantes de estágios finais de estrelas 'peso-pesadas' (assunto de nossa coluna do dia 16 / 09 /2008) está bastante esclarecida. Buracos negros como o observado em Omega Centauro ainda não tem registros suficientes para indicar sua origem. Estas observações fortalecem o modelo segundo o qual, Omega Centauro foi resultado da interação de nossa galáxia com uma galáxia anã, num passado distante. Durante a interação parte da galáxia anã foi 'capturada' pela Via-Láctea e parte se perdeu. A imagem abaixo revela Omega Centauro pelo Telescópio Espacial Hubble.
Abaixo está a imagem deste aglomerado, obtida pelo Telescópio Espacial Spitzer no infravermelho, em combinação com a imagem no visível, feita pelo telescópio da Fundação Blanco em Cerro Tololo - Chile.
Nesta imagem, quase todos os pontos vermelhos são estrelas velhas (gigantes vermelhas), os outros são galáxias distantes. A imagem revela que existe muito pouca poeira em torno das gigantes vermelhas mais luminosas e frias, o que indica que as menos luminosas não formam quantidades significativas de poeira. Além disso, fica evidente a ausência de poeira no espaço entre as estrelas, o que aponta para o fato da poeira ter sido rapidamente destruída ou tenha saído do aglomerado. Foram observados inúmeros aglomerados globulares em galáxias vizinhas. Somente na galáxia de Andrômeda existem cerca de 460 deles. Túlio Jorge dos Santos é professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais e astrônomo do Observatório Astronômico Frei Rosário desta universidade. Leia outros artigos de astronomia Conheça outros colunistas de Ciência e Tecnologia